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Fence ou 3way? Não importa o nome, mas a proteção da safra

Estruturadas pela Nau Capital, operações de derivativos da Insolo agregaram quase R$ 70 milhões aos resultados no ciclo 2022/23

Fernando Lopes

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Na Faria Lima é fence, nos polos produtores de grãos é 3way. Se representantes dos dois lados estão em uma mesma mesa, cada um se refere a essas operações de derivativos como está acostumado. Aos poucos, a distância entre esses mundos diminui, e a ferramenta vai sendo mais utilizada para hedgear as vendas das safras. Que o diga a Insolo, que produz soja e milho na região do Matopiba e agregou quase R$ 70 milhões aos seus resultados na última temporada com a 3way. E, também com a fence, já protegeu 90% da colheita esperada para este ciclo 2023/24.

Os derivativos financeiros são contratos atrelados a determinados ativos, como soja e milho, nos quais os investidores estabelecem condições de preço e volume em um prazo específico. No agro (os mais comuns são os contratos futuros), eles normalmente são instrumentos de hedge – ou seja, usados para travar preços e oferecer proteção contra variações pelo período do contrato -, mas também podem servir para apostas em ganhos maiores. No caso da Insolo, a fence é usada para proteção, mas o instrumento permite a fixação prévia de uma “banda” para o preço esperado na execução, o que amplia a possibilidade de acerto. O prazo da operação pode ter variação de alguns meses.

“O produtor conhece bem as commodities, mas ainda tem que entender melhor os mecanismos de proteção. É preciso fazer a conta do custo de capital”, afirmou Ismelon Moreira, diretor financeiro da Insolo, em conversa com o IM Business que contou com a presença de Nathalia Paulino, sócia-fundadora da Nau Capital – multi family office que estrutura as operações de derivativos da Insolo. Nessas operações, a produtora de grãos “trava” o preço das commodities na bolsa de Chicago, e também fixa o valor do dólar.

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Ismelon Moreira, diretor financeiro da Insolo (foto: Divulgação)

Fundada em 2008, a Insolo é controlada desde 2022 pelo Grupo Faria, que pertence ao empresário Ricardo Faria. Ele também é dono da Granja Faria, uma das maiores produtoras de ovos do país. Produz cerca de 500 mil toneladas de soja e 400 mil de milho em nove fazendas localizadas no sul do Piauí, no norte do Maranhão e no norte de Tocantins, com 205 mil hectares de área operacional no total. Em 2021, faturou R$ 350 milhões e neste ano deverá chegar a R$ 1,5 bilhão.

Ricardo Faria é conselheiro da Nau Capital e as relações estreitas facilitaram o trabalho de Moreira de impor na Insolo a estratégia de proteção que agregou R$ 67 milhões aos resultados da empresa na safra 2022/23, mesmo com a queda das cotações de soja e milho nos mercados externo e interno. “Com a 3way, garantimos preços mínimos e podemos ganhar se houver altas, uma vez que é definida na operação uma ‘banda’”, reforçou Moreira. A proteção é feita por meio de diversas operações, para travar um preço médio.

Em 2022/23 os preços dos grãos caíram, mas o resultado das operações de derivativos da Insolo foi positivo porque os preços mínimos estabelecidos foram superiores aos registrados na execução. A empresa trava os preços de 90% do volume de grãos que espera colher e opera “oportunidades de mercado”, quando há oscilações expressivas e inesperadas, com apenas 10%. A Insolo é a principal cliente da Nau, que utiliza limites de crédito concedidos pela XP nas operações de derivativos que ela monta.

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Segundo Nathalia Paulino, com empresas mais sofisticadas financeiramente, como a Insolo, é possível operar “clean” (sem garantia), embora para isso haja limites estabelecidos pela equipe de análise de crédito do banco que cede os limites de crédito. Mas também é possível fechar negócios com garantia líquida para os derivativos, que pode ser executada a qualquer momento, se necessário. Quando uma companhia tem ações negociadas em bolsa, os papéis podem ser usados como garantia. “Quanto mais um escritório como o nosso se especializa no agro, mais as operações se tornam viáveis”, disse ela.

Nathalia Paulino, sócia da Nau Capital (foto: Divulgação)

Depois que o Grupo Faria adquiriu a Insolo junto a um fundo ligado à Universidade de Harvard, por R$ 1,8 bilhão, a empresa sofisticou sua estratégia financeira. Além das operações 3way, acessa linhas de crédito de curto prazo para capital de giro e de longo prazo para fomentar seus investimentos, entre outros mecanismos. Como não exporta a produção diretamente, e sim via tradings, não pode fazer ACC (Adiantamento sobre Contrato de Câmbio), mas desenvolveu um instrumento de funding para arbitrar moedas.

Fernando Lopes

Cobriu o setor de energia e foi editor do semanário Gazeta Mercantil Latino-Americana até 2000. Foi editor de Agro no Valor Econômico até fevereiro de 2023.