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Casa dos Ventos avança em portfólio de energia limpa para aproveitar ‘oportunidade do século’

Empresa mira metas de descarbonização de grandes empresas para ampliar oferta de energia eólica e solar

Rikardy Tooge

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O Brasil tem a “oportunidade do século” para se reindustrializar por meio da energia limpa, na visão de Lucas Araripe, diretor executivo da Casa dos Ventos, que vê sua empresa bem posicionada para surfar em um mercado que deverá movimentar R$ 142 bilhões em investimentos até 2025. O motivo para o otimismo, prossegue Araripe, é que a necessidade das grandes indústrias globais de cumprir suas metas de descarbonização as façam exportar parte de suas operações para o país.

“Temos a chance de atrair indústrias que demandam muita energia, como as de alumínio, aço, fertilizantes e até data centers. Todas essas empresas têm seus compromissos de reduzir emissões e a matriz energética brasileira dá condições para acelerar”, aponta o executivo, em conversa com o IM Business.

De acordo com dados mais recentes da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o país tem mais de 80% de sua matriz energética vindo de fontes renováveis, como usinas solares e parques eólicos – duas teses que a Casa dos Ventos trabalha há quase uma década. A opção por essas fontes de energia não é trivial, são as duas que mais crescem no país. Prova disso é que a potência instalada dos parques solares e eólicos crescem dois dígitos há quase uma década, de acordo com dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao governo federal.

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A geração por meio do sol e dos ventos se aproveita das vantagens geográficas que o Brasil possui. No caso da eólica, as áreas próximas aos litorais do Nordeste e do Sul são mais favorecidas, enquanto o norte de Minas, parte do Centro-Oeste e Nordeste são destino para as usinas solares.

Nessa corrida “verde”, Lucas Araripe aponta a Casa dos Ventos no lugar certo e no momento certo desde quando a tese de descarbonização ganhou força — a partir do Acordo de Paris, de 2015. Bem antes disso, entre 2007 e 2010, a empresa mapeou mais de 1.200 pontos pelo Brasil para localizar áreas em que os ventos são mais favoráveis para a instalação de parques eólicos. “Foi praticamente uma campanha exploratória e saímos na frente’”, lembra o executivo. Atualmente, a empresa tem pouco mais de 1,2 milhão de hectares, entre terras próprias e arrendadas, destinados a seus parques de geração eólica e solar.

Lucas Araripe, diretor executivo da Casa dos Ventos: empresa tem mais de 20 projetos de energia limpa em desenvolvimento (Divulgação)

Em seus primeiros anos, a Casa dos Ventos se especializou em construir projetos de eólicas para geradoras e distribuidoras — Enel, Copel e CPFL são alguns dos casos. Mais recentemente, a própria Casa dos Ventos construiu e opera usinas para Vale, Braskem e AngloAmerican. Em 2013, a empresa iniciou sua tese de geração, ganhando alguns leilões do governo federal. Porém, a empresa viu mais atrativo no segmento B2B e acelerou para o mercado livre de energia, gerando diretamente para as grandes companhias.

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Portfólio ‘verde’

Embora o nome da empresa sugira preferência ao vento, a Casa dos Ventos vem apostando também na geração solar, dentro de um modelo híbrido, em que os grandes aerogeradores dividem espaço com as placas solares. “Desde 2015, buscamos diversificar os projetos de energia, e a solar é uma delas. Ao realizarmos esse modelo solar híbrido, é possível economizar custo de investimentos [capex] e de operação [opex], já que é possível compartilhar alguns equipamentos”, explica Lucas Araripe.

Atualmente, a Casa dos Ventos possui 16 projetos de usinas solares em desenvolvimento no país – um deles para a italiana Enel. No negócio principal, a Casa dos Ventos já colocou em operação nove eólicas, sendo oito delas para grandes empresas, como a própria Enel, Votorantim Energia, Furnas, Copel e CPFL.

Mais recentemente, em abril deste ano, a Casa dos Ventos anunciou uma joint-venture com a ArcelorMittal para a construção de um parque de energia eólica na Bahia, com investimentos previstos em US$ 800 milhões. O projeto será responsável por fornecer 38% das necessidades totais de eletricidade da siderúrgica no Brasil em 2030, representando um avanço importante de descarbonização do consumo elétrico da empresa no país.

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Ao todo, a Casa dos Ventos tem mais de 20 projetos eólicos em desenvolvimento, que deverão render nos próximos anos – e somando com a operação de usinas solares – uma geração de 6,2 gigawatts frente aos atuais 1,6 gigawatt.

Efeito TotalEnergies

Outra vantagem é que a Casa dos Ventos está capitalizada após fechar uma das maiores transações do setor de energia no ano passado. A companhia criou uma joint-venture, avaliada em R$ 12,6 bilhões, com a gigante francesa do petróleo TotalEnergies – a multinacional ficou com um terço do negócio e desembolsou R$ 4,2 bilhões.

O acordo envolve eólicas que já estão em operação ou em estágio avançado. Por outro lado, a transação não engloba o desenvolvimento conjunto de projetos em alto mar (“offshore”), em que a Total possui dois pedidos junto ao Ibama para desenvolver usinas no mar do Rio Grande do Sul e da Bahia.

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Araripe diz que há um entendimento de que, quando chegar o momento, as companhias vão conversar sobre a implementação do parque, que poderá contar ou não com a expertise da Casa dos Ventos. Mas o executivo vê que o racional das eólicas offshore não faz sentido econômico para as empresas brasileiras neste momento.

“Eu vejo que este será um assunto mais para o fim da década. Hoje, o custo de produção de energia eólica offshore é quase o dobro da onshore”, explica. “Com o tanto de projetos que podem ser feitos em terra, não faz sentido. As eólicas offshore fazem sentido para outros países, que não tinham área suficiente para ganhar escala, mas nós ainda temos.”

Quase um ano após a transação, Lucas Araripe vê ganhos importantes para a Casa dos Ventos, em especial no custo da dívida, que passou a ser precificada com a garantia da Total. “Isso reduz nossos custos com garantias e spread. É um alívio importante, já que 70% de um projeto eólico é dívida”, lembra o executivo. Outro ganho será o de acessar a carteira de clientes da múlti francesa para buscar novos projetos de geração de energia.

Sob este cenário, Araripe vê a Casa dos Ventos em condições de avançar para a produção de combustíveis “verdes”, como metanol e hidrogênio, que necessitam de grande quantidades de energia limpa. “Um em cada quatro projetos eólicos que existem no país nasceram aqui. Já somos protagonistas.”. “Agora queremos ser uma plataforma completa de geração de energia”, completa Araripe.

Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br