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Herdeiros de Armani devem vender 15% da empresa, revela testamento em reviravolta

Testamento do estilista abre caminho para entrada de grandes grupos de luxo e marca fim da independência rígida da grife italiana

Reuters

Giorgio Armani posa com modelos antes de apresentar sua coleção Primavera Verão 2025 na cidade de Nova York, EUA, em 17 de outubro de 2024. REUTERS/Caitlin Ochs
Giorgio Armani posa com modelos antes de apresentar sua coleção Primavera Verão 2025 na cidade de Nova York, EUA, em 17 de outubro de 2024. REUTERS/Caitlin Ochs

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O falecido estilista Giorgio Armani instruiu seus herdeiros a venderem gradualmente a marca de moda que criou há 50 anos ou a buscarem uma abertura de capital, segundo seu testamento, marcando uma reviravolta surpreendente para uma empresa que sempre protegeu rigidamente sua independência e suas raízes italianas.

O testamento, analisado pela Reuters, determina que os herdeiros devem vender uma participação inicial de 15% na grife italiana dentro de 18 meses e, posteriormente, transferir uma participação adicional entre 30% e 54,9% para o mesmo comprador, entre três e cinco anos após a morte de Armani.

O estilista, conhecido no setor como “Rei Giorgio”, faleceu em 4 de setembro, aos 91 anos, sem deixar filhos para herdar seu império da moda.

O documento também estabelece que a prioridade deve ser dada ao gigante do luxo LVMH, ao peso-pesado da beleza L’Oréal, ao líder do setor de óculos EssilorLuxottica ou a outro grupo de “igual posição” identificado por uma fundação criada por Armani para preservar seu legado, com a concordância do parceiro de negócios e de vida de Armani, Pantaleo Dell’Orco.

Como alternativa à venda da segunda parcela de ações, uma oferta pública inicial (IPO) deve ser realizada na Itália ou em um mercado equivalente, segundo o testamento.

Não ficou claro o que ocorreria caso algum dos herdeiros ou a fundação não cumprisse as instruções de venda previstas no documento.

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A menção explícita à venda de participações e à possibilidade de empresas listadas na França como potenciais compradoras surpreende, dado o histórico de Giorgio Armani de recusar diluir seu controle ou abrir capital do grupo. A decisão pode estimular uma corrida para garantir uma fatia da marca, que, segundo especialistas, manteve seu apelo apesar da desaceleração do mercado de luxo global.

A EssilorLuxottica, controlada pelos herdeiros do empresário italiano Leonardo Del Vecchio e com laços comerciais com a Armani, afirmou em comunicado que consideraria um possível acordo.

“Estamos orgulhosos da consideração que nosso grupo e sua administração receberam do Sr. Armani”, disse um porta-voz da EssilorLuxottica à Reuters. “Juntamente com a diretoria, avaliaremos cuidadosamente essa perspectiva de desenvolvimento, considerando os laços profundos já existentes entre os dois grupos.”

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Ao longo dos anos, o criador dos populares ternos desestruturados que lhe deram fama internacional recebeu várias propostas, incluindo uma em 2021 de John Elkann, herdeiro da família italiana Agnelli, e outra da marca de luxo Gucci, quando Maurizio Gucci ainda estava no comando.

Armani era o único acionista majoritário da empresa que fundou com seu falecido sócio Sergio Galeotti na década de 1970 e manteve controle rígido — tanto criativo quanto gerencial — até o fim.

Ele não deixou filhos para herdar o negócio, que gerou receita relativamente estável — 2,3 bilhões de euros em 2024 —, mas cujos lucros diminuíram em meio a uma ampla recessão no setor de luxo.

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O testamento, que lista seis tipos diferentes de ações com variados direitos de voto, concede à Fondazione Giorgio Armani e ao parceiro de vida e braço direito Pantaleo Dell’Orco 30% e 40% dos direitos de voto da empresa, respectivamente, o que significa que juntos controlariam 70% dos direitos de voto do grupo.

A fundação manterá uma participação de 30,1% em caso de abertura de capital, conforme o testamento.

O conselho da fundação, composto por cinco membros, será presidido por Dell’Orco, segundo os estatutos. Outros membros incluem o sócio do Rothschild Irving Bellotti, o sobrinho de Armani Andrea Camerana e duas pessoas externas à família, segundo fonte próxima à Reuters.

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Os herdeiros devem considerar outras empresas de moda e luxo com as quais o grupo Armani mantém vínculos comerciais para uma futura venda, conforme o testamento.

O grupo Armani tem parcerias comerciais com a L’Oréal e a EssilorLuxottica.

No entanto, com um valor de mercado de 240 bilhões de euros e reputação de investidor minoritário paciente e apoiador, o conglomerado LVMH, controlado pelo bilionário Bernard Arnault, pode acabar prevalecendo.

“Acreditamos que a LVMH provavelmente seria a mais interessada, dentre as três, em uma participação, caso ela se tornasse disponível, dada a adequação estratégica”, disseram analistas da Berenberg em nota. Eles estimam que o grupo poderia facilmente adquirir a Armani, avaliada entre 5 e 7 bilhões de euros.