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Do RH ao financeiro: Pipefy aposta na troca das planilhas e emails

Fundada em Curitiba, plataforma de automação de processos amplia presença no mercado americano e busca aquisições no Brasil

Lucinda Pinto

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A onda de automação e digitalização, que ganhou o reforço dos recursos de inteligência artificial, já transformou a experiência dos consumidores de produtos e serviços de diferentes setores. Mas ainda não atingiu na mesma intensidade o cotidiano dos departamentos dessas empresas, que podem representar até 65% de todos os processos mantidos pelas companhias. É nessa esfera que a Pipefy, plataforma de automação de processos, mira e vem se consolidando como uma empresa brasileira com posição global – hoje, 20% da receita da empresa já vem do mercado americano.

“Nossa estratégia não é brigar de frente com as grandes soluções. A gente se vê como uma estrutura moderna para fazer a transformação do workflow dentro das empresas”, diz Alessio Alionço, CEO e fundador da Pipefy. Ele se refere a processos de trabalho de departamentos como o de recursos humanos, compras ou departamentos financeiros das empresas, que dependem da organização de uma infinidade de dados. Muitas vezes, afirma, o trabalho todo é feito com base em ferramentas antigas – como planilhas e emails – que demandam muita energia dos funcionários e abrem mais espaço para o erro humano. “A automação de processos não é um mercado novo, mas ainda há uma jornada crítica, que é digitalizar os processos internos”, explica.

A Pipefy nasceu em 2015, em Curitiba, mas foi “acelerada” nos Estados Unidos: recebeu em 2021 uma rodada de investimentos de US$ 75 milhões liderada pelo Softbank, com participação de Steadfast Capital Ventures, Insight Partners, e Redpoint. Ao todo, a empresa já contou com o aporte de US$ 138,7 milhões. Este ano, deve consolidar uma receita de US$ 40 milhões, sendo cerca de 20% vindos do mercado americano. O Brasil responde por pouco mais da metade desse faturamento e o restante vem de outros mercados pulverizados entre América Latina e Europa.

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Alessio Alionço, CEO e fundador da Pipefy: 20% do resultado da empresa já vem do mercado americana. (Foto: Divulgação)

Alionço acredita que, nos próximos anos, essa proporção deve se inverter e os Estados Unidos passem a responder por algo entre 35% e 50% da receita. Essa previsão se baseia na experiência de outras empresas “benchmark” de software que atuam globalmente. Mas também na demanda que as companhias americanas têm por processos vendidos pela Pipefy. “Os Estados Unidos são um mercado mais propício a adotar tecnologia porque o custo por hora do colaborador americano é significativamente mais alto do que no Brasil. Então, as empresas tendem a investir mais em tecnologia de automação porque, diferentemente do que acontece no Brasil e na Índia, não dá para adicionar muita gente”, afirma.

Existe outra razão para essa preferência por crescer fora do Brasil: a instabilidade macroeconômica que castiga as empresas locais. Para o executivo, as empresas aqui acabam despendendo muita energia para lidar com ciclos econômicos e políticos, o que atrapalha o foco na produtividade. “Eu vejo a diferença do nível de apetite das empresas não brasileiras e o nível de sofisticação para adotar Inteligência Artificial em relação ao que se tem aqui. Esse ‘gap’ está ficando cada vez maior, e isso me preocupa”, diz.

Como exemplo, Alionço diz que, hoje, a Pipefy tem como clientes nos Estados Unidos desde grandes empresas, como a Accenture, até igrejas, que adotam a plataforma para organizar os cadastros e as contribuições de seus membros. Mas a presença mais expressiva da plataforma é em empresas de uso intensivo de dados, como bancos, fintechs e seguradoras.

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O modelo de negócio da Pipefy é o chamado “land and expand”, ou seja, a plataforma oferece soluções gratuitas para empresas que têm até 10 usuários ou cinco processos, na aposta de que o relacionamento vá crescer. “A gente vende de baixo para cima, e aos poucos a plataforma vai se espalhando dentro da empresa”, diz.

A expectativa da Pipefy é que, em dois anos, a receita da empresa supere os US$ 100 milhões. Esse pode ser um bom momento, na visão de Alionço, para se discutir uma nova capitalização, seja por meio da vinda de um sócio estratégico, seja por meio de um IPO. “Mas a gente não abre mão de levar o negócio para o seu potencial e nem de participar desse crescimento”, afirma.

Ele diz que, até lá, o foco será construir os pilares para uma oferta de ações, o que passa por um crescimento orgânico e também por aquisições ou parcerias. Segundo André Agra, CFO da Pipefy, a empresa tem hoje uma lista de 35 nomes brasileiros – a maioria startups – que podem ser consideradas “boas oportunidades”, tanto do ponto de vista de valuation como, principalmente de sinergia. “Já passaram pelo nosso funil cerca de 400 nomes, que podem fazer sentido do ponto de vista complementar, com foco em RH, finanças e TI”, afirma.

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Lucinda Pinto

Editora-assistente do Broadcast, da Agência Estado por 11 anos. Em 2010, foi para o Valor Econômico, onde ocupou as funções de editora assistente de Finanças, editora do Valor PRO e repórter especial.