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Copa vai de ‘lanterninha’ à liderança no gás de cozinha

Após quase quatro anos da compra da Liquigas pela Copagaz, integração chega à reta final e holding ajusta planos para ir além do GLP

Rikardy Tooge

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Até 2019, a Copagaz passava por um dilema no mercado do gás de cozinha. Ocupando à época o quinto lugar na oferta de Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), o nome técnico do produto, o desafio era avançar na participação dentro de um segmento muito concentrado. “Vivíamos em uma área de fricção: ser a maior entre as menores ou a menor das maiores”, recorda Caio Turqueto, CEO da Copa Energia – a holding do grupo, em entrevista ao IM Business.

Em uma oportunidade de mercado que surgiu no início de 2018, a partir da negativa do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) da compra da vice-líder Liquigás pela líder Ultragaz, a Copagaz viu a chance de acabar de vez com o dilema. No ano seguinte, em um consórcio com Itaúsa (ITSA4) e Nacional Gás, adquiriu a Liquigás da Petrobras (PETR4) por R$ 4 bilhões. Assim surgiu a Copa Energia, já com uma participação de mercado três vezes maior do que o da empresa original.

Cerca de quatro anos depois e na liderança do mercado de GLP com uma fatia 24,6%, a Copa Energia saiu de um faturamento que beirava os R$ 2 bilhões para R$ 11,7 bilhões no fim de 2022, com lucro líquido de R$ 300 milhões. A despeito do salto operacional e financeiro, o grupo segue em curso com a integração da Liquigás. No fim deste ano, acabam os remédios aplicados pelo Cade para viabilizar o negócio e, de fato, a nova empresa estará 100% liberada para avançar em outras estratégias.

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“Estamos trabalhando desde 2021 para integrar as empresas, que eram de estilos diferentes. Uma era de origem familiar [Copagaz] e outra estatal [Liquigás], mas estamos conseguindo construir uma boa cultura”, avalia Turqueto. Presente em 24 estados do país, a Copa Energia entende que não precisa ampliar mais sua área de atuação. Seus investimentos serão voltados para requalificar a estrutura atual. Anualmente, a empresa destina pouco mais de R$ 100 milhões a capex e a tendência é que esse patamar siga nos próximos anos.

Desafios

Com a forte expansão finalmente absorvida, a Copa terá que lidar com desafios estruturais das empresas que atuam no GLP. Pedro Acioli, sócio da Mantaro Capital, lembra que os preços do gás de cozinha estão em queda após as expressivas altas vistas na pandemia e, depois, com a guerra na Ucrânia, uma vez que o produto tem correlação com o petróleo.

“Vejo o mercado de GLP estagnado e com as margens em queda. É um setor muito ligado ao poder de compra e, com a diminuição na renda das famílias, o consumo vem caindo, até em casos extremos com a substituição do gás por lenha”, reforça Acioli. “Há um desafio de crescimento, concorrência com o gás natural encanado. Como vai ser para as empresas daqui a 10 anos?”, questiona o especialista.

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Balcão de energia

Os planos de Turqueto não ignoram esses desafios. A longo prazo, a estratégia é avançar em outras frentes para além do gás de cozinha. E cita como exemplo a transição energética e oportunidades no novo mercado livre de energia que entra em vigor no ano que vem. Cerca de  15 mil clientes da companhia têm potencial para iniciativas de “cross selling” (venda cruzada). Teses que envolvem produção de energia mais limpa, como a solar, biometano e Bio GLP, estão na mesa, mas a empresa estuda qual modelo poderá ter maior aderência ao seu modelo de negócios e poder de escala.

Caio Turqueto, CEO da Copa Energia (Divulgação)
Caio Turqueto, CEO da Copa Energia: Após unificar operação e cultura de Copagaz e Liquigás, foco da holding está em diversificar receita (Divulgação)

No negócio principal da Copa Energia, diante da alta concentração de mercado, a percepção de quem acompanha o setor é que será difícil as empresas ampliarem de maneira substancial sua fatia do bolo. Novas aquisições também deverão ser mais difíceis, uma vez que o Cade tem sido rígido com as transações dentro do setor – atualmente, o conselho estuda se um acordo operacional entre Ultragaz e Supergasbras não afeta a dinâmica de concorrência.

Sob este cenário, uma avenida ainda não pavimentada, mas que o CEO da Copa Energia vê como grande potencial, seria a liberação do GLP para outros usos além do fogão, em especial em motores de geradores. O tema está em discussão há anos na Agência Nacional de Petróleo (ANP) sem uma resolução. Esperava-se uma definição para este ano, mas a agência adiou os planos para 2024. “Temos uma restrição criada na época da Guerra do Golfo [entre 1990-91]. Hoje não faz mais sentido limitar o uso do GLP, não temos problemas de oferta”, defende o CEO.

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Busca por margem

Na ponta de controle das margens, a Copa Energia tem diversificado seu fornecimento para além da Petrobras. A companhia foi uma das pioneiras na importação de GLP da Bolívia e Argentina, que ajuda no abastecimento de clientes no Centro-Oeste e Sul do país.

Para reforçar o atendimento ao Nordeste, a Copa está investindo R$ 1,2 bilhão em conjunto com a Nacional Gás para a construção de um terminal de tancagem de gás de cozinha no Porto de Suape, em Pernambuco. Atualmente, o fornecimento de GLP na região é feito por meio de um navio da Petrobras que tem estoque para apenas quatro dias de fornecimento para todas as empresas que operam na região. Somente o novo terminal já entregará o dobro de capacidade.

Ainda no Nordeste, Caio Turqueto prevê um importante ganho operacional para a Copa Energia no próximo ano: a retomada do parque de botijões da Liquigás que estão emprestados para a Nacional Gás – um dos últimos remédios remanescente do Cade para concordar com a compra da Liquigás.

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Embora pareça trivial, os botijões são um dos itens mais importantes na expansão das empresas de GLP e uma barreira de entrada para as insurgentes do setor. “É um ativo ligado ao preço do aço, que pesa muito no operacional das empresas. Para se ter ideia, uma parte importante do valor de mercado de uma companhia de GLP está em seu parque de botijões”, aponta Acioli.

Por fim, Caio Turqueto reforça que a relação da Copa Energia com o mercado de capitais seguirá pontual – a companhia está com duas debêntures “rodando” no mercado. O CEO afirma que não há nenhum desenho de oferta pública inicial de ações (IPO, em inglês). “Estamos firmes na trilha que desenhamos lá atrás e nosso objetivo hoje é terminar de consolidar a aquisição e ‘zerar’ as pendências do Cade”, completa o executivo.

Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br