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Cenário favorável faz o sino da Kepler Weber soar mais alto

Agora no Novo Mercado da B3, empresa esperar capturar mais ganhos com melhora das condições de mercado

Fernando Lopes

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A caravana passa, em ritmo cada vez mais acelerado, mas certas coisas não perdem o simbolismo. Para quem participa ou acompanha o mercado de ações, tocar o sino na B3 é uma delas. E ontem foi a vez de a Kepler Weber fazer as honras da casa e dar início ao pregão pela segunda vez em sua história, 43 anos depois de abrir o capital na bolsa.

O ato no centro da capital paulista reuniu executivos e colaboradores e marcou a entrada da empresa no Novo Mercado. Mas também soou como a largada de uma nova safra (2023/24), que para a líder em equipamentos e soluções para a pós-colheita de grãos na América Latina, com receita líquida de mais de R$ 600 milhões no primeiro semestre do ano, já começou promissora: a perspectiva é de nova colheita recorde e recuperação de margens no campo.

O time da Kepler Weber toca o sino na B3

Com as fortes oscilações dos preços de insumos e a queda das cotações de commodities como soja e milho, os produtores seguraram a comercialização de suas colheitas na safra 2022/23, e o conhecido déficit da capacidade de armazenagem agrícola do país voltou ao centro das preocupações. Na Kepler Weber, com sede em Panambi (RS), esse nó logístico, em tempos de melhora nas condições de mercado, começou a resultar em novas vendas.

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“Nosso telefone nunca parou de tocar, mas estamos vendo agora a retomada do fechamento de negócios”, afirmou Piero Abbondi, CEO da companhia, ao IM Business. Produtores, cooperativas e agroindústrias estão entre os clientes da Kepler Weber, e a entrada em vigor do Plano Safra 2023/24, em julho, aliada ao início da queda da taxa básica de juros (Selic), foram os empurrões que faltavam para estimular investimentos no alívio de seus gargalos logísticos.

Boa parte das novas encomendas está sendo feita por produtores e cooperativas que acessam o Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA). Alimentado com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que cobrem até 100% dos itens financiáveis – o limite por beneficiário varia de R$ 25 milhões a R$ 50 milhões –, o PCA conta com R$ 6,65 bilhões no atual Plano Safra, com prazo de pagamento de até 12 anos e juros entre 7% e 8,5% ao ano.

Em 2022/23, foram programados R$ 5,13 bilhões, mas foram contratados apenas R$ 2,8 bilhões, por causa das turbulências do mercado. “Quando o cenário é favorável e não há problemas com o fluxo de liberação de recursos [por parte do BNDES], até 70% das nossas vendas são vinculadas ao PCA”, disse Abbondi. O executivo acredita que, nesta safra, não haverá sobra de recursos do programa oficial

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Outra área que está com demanda firme é a de projetos de terminais de transbordo em ferrovias e de novas instalações em portos. Abbondi prefere não dar detalhes, mas entre os clientes que estão investindo em equipamentos e soluções da Kepler Weber estão a cooperativa paranaense Cocamar, a produtora de etanol de milho FS e a gigante de logística Rumo.

Com os problemas logísticos observados na safra 2022/23, os produtores rurais também estão investindo mais em reposição e em serviços. “No campo, a situação deixou de ser preocupante e passou a ser crítica”, afirmou o CEO. Ele lembrou que, no Brasil, 14% da capacidade total de armazenagem está nas fazendas, enquanto nos Estados Unidos, por exemplo, o percentual chega a 50%.

Diante do mercado ainda adverso, no segundo trimestre deste ano a receita líquida da Kepler Weber, cujos principais acionistas são Trigono Capital (20,8%), Família Heller (11,6%), Tarpon Investimentos (8,6%) e Morgan Stanley (5,3%), caiu 21,9% em relação a igual intervalo de 2022, para R$ 281,2 milhões. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado recuou 48,6%, para R$ 50,8 milhões, e o lucro líquido ajustado diminuiu 56,3%, para R$ 27,6 milhões.

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Por conta da conjuntura, a performance foi considerada positiva pela direção da companhia. E a base de comparação é elevada, tanto que os resultados foram os segundos melhores da história para o período. Entre os destaques entre abril e junho, a empresa realçou a venda de um projeto no Paraguai e outro no Uruguai, no valor total de R$ 12,3 milhões, e da venda de um projeto de R$ 26,9 milhões para a duplicação de um terminal portuário no Norte do Brasil.

Para reduzir a dependência do PCA, lembrou Julio Toledo Piza, chairman da Kepler Weber, a companhia também concluiu no fim do ano passado a estruturação de um Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro), para financiar a construção de unidades de beneficiamento e armazenagem de grãos.

O fundo vai ofertar cerca de R$ 300 milhões – até R$ 210 milhões virão do BNDES e até R$ 30 milhões, do banco BTG Pactual) –, e pouco menos de R$ 10 milhões foram contratados até agora. De acordo com Piza, a expectativa é de aceleração das operações também nessa frente com a melhora do horizonte.

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Daí porque o sino tocou mais alto ontem na B3. Com o cenário favorável e os benefícios inerentes à entrada no Novo Mercado, como a possibilidade de atração de apostas de novos fundos e investidores estrangeiros nas ações da empresa, a perspectiva é de ganhos de liquidez e valorização dos papéis, observou o CFO, Paulo Polezi. Neste ano, mesmo com o mercado difícil, as ações da Kepler Weber acumulam até agora uma valorização superior a 20%.

Fernando Lopes

Cobriu o setor de energia e foi editor do semanário Gazeta Mercantil Latino-Americana até 2000. Foi editor de Agro no Valor Econômico até fevereiro de 2023.