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O Brasil conta o maior ecossistema de startups da América Latina, mas ainda caminha na contramão quando o assunto é atrair capital para inovação. É o que revela o estudo “Identificação de Lacunas Regulatórias no Investimento Anjo no Brasil”, lançado pela Associação Brasileira de Startups (Abstartups).
A análise expõe como a carga tributária elevada e a ausência de políticas públicas específicas minam o potencial desse tipo de investimento, considerado crucial para transformar ideias em negócios de alto impacto.
De acordo com o levantamento, em 2022 o Brasil registrou apenas 7.963 investidores-anjo, que aportaram aproximadamente R$ 984 milhões em startups. Menos de 1% do que é injetado pelos Estados Unidos. No mesmo período, os americanos movimentaram cerca de US$ 22,3 bilhões, com 368 mil investidores.
“O estudo evidencia de forma clara que o investimento- anjo é uma engrenagem vital para fortalecer a inovação e a competitividade do Brasil, mas ainda esbarra em barreiras regulatórias, tributárias e jurídicas que reduzem sua atratividade frente a outros tipos de aplicação financeira”, afirma Cláudia Schulz, CEO da Abstartups.
Na comparação internacional, Brasil fica para trás
Segundo o estudo, enquanto países como Reino Unido, França, Alemanha e Israel oferecem deduções fiscais que variam de 20% a 50% sobre o valor investido, além de isenção de imposto de renda sobre ganho de capital, o Brasil não concede qualquer incentivo específico.
“Hoje no nosso país seguimos penalizando quem decide correr riscos para apoiar startups que podem gerar empregos, tecnologia e soluções para os grandes desafios da sociedade”, reforça a CEO.
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No Brasil, de acordo com Abstartups, os ganhos de investidores-anjo são tributados com alíquotas entre 15% e 22,5%, equivalentes a aplicações de renda fixa, muitas vezes, isentas de impostos.
“O que falta é justamente a combinação de incentivos fiscais, maior segurança jurídica e políticas públicas direcionadas. Sem isso, nosso ecossistema seguirá limitado, com capital concentrado em poucas empresas e regiões. O desafio está em alinhar Estado, investidores e sociedade em torno de um mesmo propósito: transformar o Brasil em um terreno fértil para startups”, diz Cláudia.
Novo olhar
A Abstartups sugere a adoção de medidas que podem mudar esse cenário, como:
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- Isenção parcial ou total do imposto de renda sobre investimentos em startups em estágio inicial.
- Dedução de parte do valor investido na base de cálculo do IR.
- Criação de um programa estruturado de incentivos, inspirado em modelos de sucesso como o Enterprise Investment Scheme (EIS) do Reino Unido e o Yozma, que transformou Israel em referência global em inovação.
Para a CEO da Abstartups, criar condições adequadas é fundamental para atrair mais investidores e diversificar o ecossistema.
“Se queremos um país mais inovador e competitivo globalmente, precisamos reconhecer que cada real investido em um negócio nascente é também um investimento em emprego, renda e desenvolvimento sustentável”, avalia Cláudia.
Ela ressalta ainda que a entidade tem atuado para reduzir essas barreiras.
“E aqui entra o papel da Abstartups: articular, dar visibilidade e pressionar por mudanças estruturais, ao mesmo tempo em que seguimos conectando startups a investidores e criando programas que ampliam a base de capital empreendedor no país. Nosso objetivo é que o investimento- anjo deixe de ser exceção e se torne um pilar sólido da economia de inovação brasileira”, conclui Cláudia.