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As razões para a AES deixar o país – e os motivos que podem fazer a empresa permanecer

Um fator relevante para ficar seria a entrada de um investidor financeiro no capital da AES Brasil, geradora que tem foco em energias renováveis

Ivo Ribeiro

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O grupo americano de energia AES tem muitos motivos para deixar o país – mas tem também boas razões para permanecer. Um fator relevante para ficar seria a entrada de um investidor financeiro no capital da AES Brasil, geradora que tem foco em energias renováveis, segundo fontes ouvidas pelo IM Business. A indicação é de que a companhia não visa, pura e simplesmente, se desfazer do ativo brasileiro. Segundo notícias veiculadas há pouco mais de uma semana, dois bancos – um local e outro estrangeiro – foram contratados para tocar o processo de venda da empresa.

Avalia-se que, no momento, ao menos dois fatores pesam contra a permanência da americana no país. De um lado, sua elevada dívida da geradora; de outro, a baixa representação dos resultados da AES Brasil no balanço consolidado da AES Corporation.

O balanço do terceiro trimestre trouxe que, em 30 de setembro, o endividamento líquido da controlada atingia R$ 8,7 bilhões e o grau de alavancagem chegava a 5,6 vezes (1,4 ponto percentual maior que um ano antes) pelo critério de dívida líquida sobre o Ebitda (sigla em inglês de lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado.

O lucro líquido da geradora nos nove meses de 2023 somou R$ 220 milhões. Como a AES Corp, via duas holdings no país, tem 47,3% do capital total, pouco mais de R$ 100 milhões são consolidados no resultado do grupo. Convertendo para a moeda americana, cerca de US$ 20 milhões. O grupo tem a maioria das ações de controle (ordinárias). 

A dívida elevada, avalia uma fonte, é fruto de pesados investimentos em projetos de energia renovável (eólica e solar), usando o balanço da empresa como fonte de financiamento. De 2016 para cá, o portfólio de ativos geradores passou de 2,7 gigawatts (GW) para 5,2 GW, com expansão focada em energias renováveis. Na capacidade instalada total, quase metade já é de eólica e solar.

Um ponto ressaltado é que dois ou três grandes projetos de renováveis, ativos concentrados em estados da região Nordeste, foram concluídos em 2023 e começam a entrar em operação plena neste ano. A empresa está praticamente encerrando um ciclo de elevados investimentos e, agora, começaria a colher frutos da geração de caixa. Estava previsto desembolso total de R$ 2,8 bilhões no projeto de expansão no ano passado; para 2024, bem menos recursos.   

Porém, uma questão apontada é que a AES Brasil está sem fôlego financeiro para continuar crescendo, não vem pagando dividendos nos dois últimos anos e pode não pagar neste também, e tem amortizações de R$ 5 bilhões em 2024 e 2025 – 60% de toda a dívida. “A entrada de um parceiro traria conforto financeiro para a empresa, que teria a AES mantida como o operador do negócio” afirma a fonte.
      
Segundo avaliações, não seria uma operação para atrair grupos que atuam no setor, mas sim fundos de investimentos – como os canadenses CPP Investments e CDP – que queiram ampliar posição em geradoras com grande posição e perspectivas de crescimento em energias renováveis. Não seriam alvo companhias em atuação no país: apenas no caso de venda total e então se abriria oportunidade para, por exemplo, Eletrobras, entre outras. 

Há razões para a AES manter o ativo, desde que consiga uma arranjo para a estrutura financeira, diz uma das fontes. Ele cita, primeiro, o posicionamento geográfico. O grupo é uma companhia das Américas, com forte presença na América Latina – do México à Argentina, passando por El Salvador, Panamá, Chile e Brasil. “A presença no Brasil é importante para a AES”, avalia. Tirando Américas, que inclui forte presença nos EUA, o grupo está na Índia e alguns outros países.

O segundo ponto é o foco na descarbonização da matriz elétrica do grupo. No Brasil, quase metade dos 5,2 GW de capacidade instalada já é de energias eólica e solar. Faria muito sentido continuar no país por esse lado. O grupo vem se desfazendo de térmicas a carvão e outros combustíveis considerados fósseis.

Louise Barsi, que é investidora na geradora de energia – ela e o pai, Luiz Barsi, têm 5,03% de participação na AES Brasil – fez comentários na plataforma AGF+ sobre a notícia de venda da geradora de energia. Para Barsi, a AES não vai sair do Brasil. “Ou vocês acham que os americanos vão pegar as usinas eólicas e levar na mala?”, pergunta. “Outra opção que vejo”, diz a investidora, “como a mais provável, é encontrar um parceiro estratégico que tenha interesse em capitalizar a companhia”.

Para ela, soa estranho que o controlador venda agora, no momento em que a companhia finalmente entra em ciclo de desalavancagem, com parques de geração novos entrando em funcionamento, “mais geração de caixa e, por consequência, pagamento de dividendos quando a relação dívida liquida/Ebitda estiver saudável”. E acrescenta: “a AES Corp poderia ter vendido para a Eneva em 2019, mas não o fez”. Pelo contrário, afirma, comprou uma participação do BNDES na empresa para elevar sua fatia e evitar novas ofertas hostis.  

O resultado gerado é um ponto relevante, dizem fontes. A AES Brasil ficou pequena dentro do grupo: foi minguando após se desfazer de ativos ao longo dos últimos anos, com destaque para a antiga distribuidora paulista Eletropaulo, além de AES Sul. O grupo chegou ao Brasil em 1996, comprando uma participação na então recém-privatizada Light. No fim daquela década adquiriu também a Companhia de Geração de Energia Elétrica Tietê, constituindo a AES Tietê, hoje AES Brasil e que só tinha operações hidrelétricas.

Como seguir crescendo e, ao mesmo tempo, ampliar os valores na última linha do balanço? Se resolver ficar, sem parceiro estratégico, um caminho seria fazer desinvestimentos em, por exemplo, algumas hidrelétricas. Com isso, poderia reduzir uma fatia importante da dívida. Ganharia fôlego e permaneceria com ativos de “renováveis puros”, em linha com os investimentos realizados lá fora. “Ou viabiliza capital para diluir a dívida, com um parceiro que vê valor em geração renovável, ou busca meios de reduzir a dívida”, afirmam.

Em sua estratégia global, a AES Corp aponta potenciais desinvestimentos. Em uma de suas apresentações a investidores estão listadas térmicas a carvão, alguns ativos de renováveis nos EUA, ativos de tecnologia e outros (onde poderia estar inserida a AES Tietê). O valor previsto total é de US$ 2 bilhões neste e no próximo ano e de US$ 1 bilhão no período 2026/2027.

Gestores de ações afirmam não ser a primeira vez que o assunto da venda vem à tona. Em maio do ano passado, apontam, foi noticiado que um dos mesmos bancos citados, o Itaú BBA, havia sido contratado para fazer uma reestruturação financeira da empresa. Desta vez, a empresa declarou, em nota, que a a AES Brasil, como já comunicado anteriormente, informa que sua controladora, AES Corp, “avalia alternativas para financiar o crescimento da Companhia e melhorar sua estrutura de capital”.