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As dores do processo de maturação do mercado de Fiagros

Mesmo diante das turbulências atuais, expectativa é de aumento das emissões em 2024

Fernando Lopes

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Mudança de regras, atraso no pagamento de alguns títulos e adversidades na área de grãos provocaram o primeiro estresse no mercado de Fundos de Investimento em Cadeias Agroindustriais (Fiagros). Mas talvez “crise” seja uma palavra muito forte para definir a turbulência. Segundo especialistas, são dores de um natural processo de maturação, e as lições que estão sendo aprendidas agora serão fundamentais para a consolidação do novo instrumento, considerado uma das principais alternativas para ampliar o crédito privado, e a participação de investidores da Faria Lima, no campo brasileiro.

Em fevereiro, sob a sombra de uma quebra de safra e da contínua queda dos preços dos grãos, conjunção que tornou os investidores pessoas-física mais cautelosos quanto a apostas no agro, houve uma mudança estrutural que, num primeiro momento, ajudou a turvar operações. O Conselho Monetário Nacional (CMN) tornou mais rígidos os critérios para a emissão dos títulos incentivados LCIs, LCAs, CRIs e CRAs, e empresas sem atuação direta no agro foram proibidas de emitir CRAs, (Certificados de Recebíveis do agronegócio), que são os principais ativos dos Fiagros. 

Mas, como realça Pedro Freitas, sócio e responsável pelo agro no Investment Banking da XP, a mudança de regras também gerou uma volta em peso das companhias que continuaram com autorização para emitir CRAs, e há muitas operações na rua neste momento. “A demanda [dos investidores] continua forte e tende a aumentar, acentuada pela queda da taxa básica de juros, que estimula a busca por alternativas. Sobre ‘flow’ de mercado, estamos animados”, afirma Freitas ao IM Business. A XP lidera a distribuição de Fiagros no país, com participação de cerca de 60%.

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EMISSÕES

Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), as ofertas públicas de Fiagros somaram R$ 8,8 bilhões no ano passado, 20,8% mais que em 2022. As emissões de cotas de Fiagros-FIIs (Fundos Imobiliários) alcançaram R$ 7,2 bilhões, enquanto as de Fiagros-FDICs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios) chegaram a R$ 1,6 bilhão. No total, a captação líquida (diferença entre aportes e resgates) dos Fiagros atingiram R$ 3,8 bilhões, ante R$ 3,7 bilhões no ano anterior. 

No último mês de fevereiro, as ofertas públicas levantaram R$ 91,4 milhões, com aumento sobre janeiro (R$ 75,4 milhões), mas forte queda em relação a fevereiro de 2023 (R$ 404,2 milhões). A captação líquida foi de R$ 52,8 milhões, abaixo de janeiro (R$ 96,6 milhões), mas um ano antes havia sido negativa em R$ 1,3 milhão. O patrimônio líquido dos Fiagros somava R$ 34,7 bilhões em fevereiro, com aumento de 262,8% na comparação com o mesmo mês do ano passado.

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“O desempenho dos Fiagros no início de 2024 é um indicativo positivo para um produto que tem ganhado cada vez mais espaço na carteira dos investidores e que contribui para o financiamento do agronegócio”, afirmou Sergio Cutolo, vice-presidente da Anbima, em comunicado que acompanhou a divulgação dos números de fevereiro.   

PAPEL DO GESTOR

Sobre o atraso no pagamento de alguns poucos CRAs nos últimos meses – menos de uma dezena -, Pedro Freitas pondera que, quanto mais as emissões se proliferam e empresas com classificações de risco menos elevadas recorrem a elas, maiores as chances de problemas serem registrados. “É importante que a tese “risco x retorno” pare em pé. Nesse processo de descida da pirâmide, é normal que apareçam problemas. E quando há problemas, é preciso saber resolver. Essa é a beleza do gestor de Fiagro”, disse. E trata-se de agro, com incertezas climáticas e volatilidade de preços.

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“Com a mudança promovida pelo CMN e a redução de spreads, é mais difícil o Fiagro ser competitivo. As gestoras terão que ter cuidado para não tomarem riscos adicionais”, afirmou Freitas. O executivo acredita que as emissões de Fiagros continuarão a aumentar em 2024, e que, com a queda da taxa de juros, fundos alternativos como os de private equity, “land equity” e de transformação de terras, poderão ganhar mais espaço. 

TRANSFORMAÇÃO DE TERRAS

Esse cenário anima a AGBI, gestora de um Fiagro baseado na tese “aquisição-transformação-venda” de terras agrícolas, com a adoção de práticas sustentáveis e prazo mais dilatado, de dez anos (prorrogáveis por mais dois). “Nossa estratégia assegura um alinhamento de longo prazo com as operações agrícolas, permitindo uma compreensão aprofundada dos desafios e oportunidades do setor”, diz Luciano Lewandowski, sócio-fundador da AGBI.

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Ele observa que, enquanto a grande maioria dos Fiagros é de crédito, com prazo curto, os de equity, de longo prazo, são mais “resilientes”. Isso porque são menos dependentes de questões conjunturais, como quebra de safra e preços dos grãos, e mais vinculados aos fundamentos de longo prazo do setor de agronegócios, que continuam positivos – afinal, lembra Lewandowski, poucos países do mundo têm condições de aumentar sua produção de alimentos para atender ao crescimento da demanda global nas próximas décadas, e o Brasil lidera essa corrida.

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