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A “virada de chave” da Melhoramentos rumo ao digital e ao setor imobiliário

Empresa centenária tem dado vazão a novos modelos de negócio e pretende buscar recursos no mercado

Felipe Mendes

Rafael Gibini, CEO da Melhoramentos (Crédito: Divulgação)
Rafael Gibini, CEO da Melhoramentos (Crédito: Divulgação)

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Fundada em 1890, a Companhia Melhoramentos (MSPA3) tem dado sinais de que vai conseguir fazer um ponto de virada em sua história. Depois de voltar a registrar lucro em 2022 e 2023, a empresa tem diversificado a operação com a introdução de novos modelos de negócios. Dentre os novos projetos, estão uma frente digital, com as marcas Literama e ImaginaMundo; e o uso de seu valioso landbank para empreendimentos imobiliários com a bandeira própria Altea.

A tradicional fabricante de papel e celulose percebeu que poderia fazer dinheiro com sua área florestal de mais de 152,5 milhões de metros quadrados. Os terrenos localizados entre São Paulo e Minas Gerais podem ser usados, na visão da Melhoramentos, para o desenvolvimento de galpões logísticos, projetos residenciais e turismo ecológico, ainda assim preservando mais de 70 milhões de metros quadrados de floresta nativa.

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Desde que implantou essa vertente em 2022, a empresa lançou um projeto residencial em parceria com o Swiss Park, numa área total de 3 milhões de metros quadrados, e dois galpões logísticos, com área de 330 mil metros quadrados e um investimento somado de mais de R$ 1,3 bilhão – todos em Caieiras, na Grande São Paulo. Há cinco projetos residenciais semelhantes em fase de aprovação.

“A gente não vai virar uma Cyrela ou uma GLP, mas queremos fazer alianças estratégicas com empresas assim onde a gente entra com o terreno e o conhecimento da terra”, diz Rafael Gibini, CEO da Melhoramentos, ao InfoMoney. “A gente entra com o conhecimento e a terra e o nosso parceiro entra com o capital. Eventualmente podemos aportar capital juntos.”

A maior área disponível para pensar em projetos do tipo está no munícipio de Camanducaia, no extremo sul de Minas Gerais e próximo à divisa com o estado de São Paulo. Lá, a Melhoramentos detém uma área de 113 milhões de metros quadrados. Além de investir em projetos residenciais na região, a ideia é desenvolver um novo polo turístico no espaço.

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“Em Camanducaia, existe um distrito chamado Monte Verde, que tem características parecidas com as de Campos do Jordão, com montanhas e clima ameno. A ideia é fazer uma expansão no turismo da região, preservando essa essência pela natureza”, diz Gibini. “Temos falado com players internacionais sobre atrações para Monte Verde e como combinar isso com uma expansão hoteleira e gastronômica na região.”

Educação

No ramo editorial, o grupo também fez uma guinada no negócio. Em janeiro, anunciou a ampliação de seu portfólio com dois projetos literários digitais, a Literama, em parceria com a editora FTD; e a ImaginaMundo. Gibini diz não querer “matar o livro físico”, mas espera que a nova empreitada gere bons frutos. “A gente quer se posicionar como uma edutech, uma empresa educacional de tecnologia, que por acaso também tem produtos físicos. A ideia é quase que inverter a lógica atual da editora”, diz ele. “Com isso, eu posso vender não só um livro, como um podcast, um audiolivro, produtos em vídeo. Abrimos um leque de oportunidades.”

A ImaginaMundo, por exemplo, funciona como uma plataforma de educação instalada em um metaverso. A realidade alternativa é usada por alunos e professores em salas de aula para incentivar a leitura e o aprendizado com metas a serem atingidas durante o “jogo”. “Em uma sala de aula com 30 crianças, cada criança tem um usuário que entra pelo aplicativo, no tablet ou computador, e cria um avatar nesse jogo, onde tem alguns mundos. Cada mundo é um livro de aprendizado. Agora, estamos lançando uma trilha com sete livros, que são sete mundos”, exemplifica.

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O executivo ainda vê valor na venda de livros físicos voltados ao ensino infanto-juvenil, mas estuda diminuir o número de tiragens voltadas ao entretenimento – ou seja, à venda no varejo. “Os livros de literatura puramente de entretenimento estão sofrendo mais porque o consumidor está mudando”, aponta ele. Desde 1980, a Melhoramentos publica histórias e ilustrações do cartunista Ziraldo (autor do clássico “O Menino Maluquinho”), falecido em abril deste ano.

Profissionalização

Gibini assumiu a empresa em abril de 2020, em um esforço da holding para promover um turnaround na operação. Nesse processo, iniciado em 2019, com a nomeação de cinco conselheiros independentes, a companhia começou a se preparar para uma sucessão familiar. Com mais de 85% das ações da empresa, as famílias controladoras (Weiszflog, Plöger e Velloso) decidiram trilhar pelo caminho da profissionalização do negócio. Nas mãos de Gibini, a companhia voltou a registrar lucro e agora estuda formas de melhorar a liquidez de seus papéis no Ibovespa.

“A gente tem planos de ter liquidez no futuro, mas para isso temos que ir ao mercado com uma história sólida, concreta e consistente de renovação da empresa”, afirma o CEO. “Queremos trazer sócios para fazer parte desse novo ciclo em que estamos desde 2019.”

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Em 2023, o lucro líquido da Melhoramentos cresceu 421% frente ao ano anterior, para R$ 7,8 milhões. O Ebitda anual também avançou em três dígitos (142%), para R$ 68,6 milhões. A receita líquida ajustada, por sua vez, evoluiu em 2%, para R$ 208,3 milhões. Houve decréscimo, no entanto, na comercialização de exemplares da editora (-9%) e em toneladas de fibra (-9%).