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Embora a rentabilidade tenha melhorado neste segundo semestre, fabricar etanol tem sido um desafio para as usinas sucroalcooleiras que atuam no país nos últimos anos. Mudanças tributárias ou na política de preços de combustíveis da Petrobras reduziram a competitividade do produto e geraram margens operacionais apertadas e até negativas por longos períodos, o que levou as empresas do segmento a privilegiarem o açúcar, cujas cotações estão em alta no exterior e no país. Mas novas janelas estão se abrindo para o etanol, e no longo prazo as picuinhas conjunturais tendem a se tornar secundárias diante de seu papel na transição energética global.
“Estamos na direção certa”, afirmou Francis Queen, vice-presidente de etanol, açúcar e bioenergia da Raízen, ao IM Business. Joint venture entre Cosan e Shell, a companhia, cuja receita líquida totalizou R$ 59,5 bilhões no segundo trimestre da safra atual (julho a setembro), lidera a oferta global do biocombustível e já reina na área de etanol de segunda geração (2G), também conhecido como etanol celulósico. Para os próximos anos, prevê a chegada ao mercado de uma nova geração produzida a partir de um aproveitamento ainda mais eficiente de subprodutos da cana, e as pesquisas nessa direção estão em curso. No radar da empresa está a demanda gerada por novidades como o combustível avançado de aviação e alternativas a produtos petroquímicos tradicionais, entre outras.
No momento, as principais fichas da Raízen estão depositadas na produção de etanol 2G. No fim de setembro, a companhia inaugurou sua segunda planta do biocombustível avançado, na Usina Bonfim, em Guariba (SP), e outras quatro unidades estão sendo erguidas – duas das quais deverão entrar em operação em 2024. A empresa pretende contar com 20 unidades do gênero até a safra 2030/31, cada uma delas com investimentos da ordem de R$ 1,2 bilhão e capacidade para 82 milhões de litros por temporada. Pode parecer pouco perto dos quase 3 bilhões de litros de etanol 1G vendidos pelas usinas do Centro-Sul do país em novembro, mas as margens de lucro do 2G são elevadas e a demanda já começou a aumentar.
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Queen lembra, por exemplo, que a Raízen fechou em 2022 um contrato com um cliente europeu para entregar nos próximos anos um volume equivalente à produção de cinco plantas de etanol 2G por um preço mínimo de 1 mil euros por metro cúbico, bem acima do preço médio de R$ 2.945 por metro cúbico praticado pela empresa nas vendas de etanol 1G no segundo trimestre da safra 2023/24. “O etanol 2G é um negócio difícil, com muitos desafios técnicos e no qual é preciso ter muita escala de biomassa. Estamos superando esses desafios e vendendo sustentabilidade”, disse ele.
O 2G é produzido a partir de resíduos com palha e bagaço de cana, que passam por um processo que envolve hidrólise enzimática, fermentação e destilação. É um biocombustível considerado mais sustentável que o etanol 1G por usar matéria-prima que seria descartada e emitir até 15 vezes menos carbono na atmosfera. Na Raízen, a expectativa é que o produto comece a gerar um fluxo de caixa capaz de financiar a construção de novas unidades a partir do ciclo 2025/26. Juntos, 1G e 2G prometem surfar a onda sustentável que está em formação e garantir ao Brasil um lugar na primeira fila da transição energética, como ratificaram as discussões na COP 28, realizada há algumas semanas em Dubai.
Das novidades capazes de reduzir emissões que estão na linha de frente, a que mais chama a atenção atualmente é o combustível avançado de aviação. Estima-se que o SAF possa se tornar um mercado de 400 bilhões de litros por ano, e o etanol é uma das fontes usadas em sua formulação Segundo a Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA), o SAF deverá ser responsável por 65% da emissão de CO2 do segmento até 2050, e a usina Costa Pinto, pertencente à Raízen e situada em Piracicaba (SP), foi a primeira do mundo a conquistar a certificação ISCC Corsa Plus, que atesta que o etanol cumpre os requisitos para a produção do combustível avançado.
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Francis Queen observa que outro mercado importante para o etanol virá com a evolução dos combustíveis para navegação. Os motores flex de embarcações já estão na praça, ainda com foco no metanol, mas há negociações para que o etanol também seja certificado como matéria-prima. E, com a tendência de redução do uso de combustíveis fósseis no mundo, estimulada por mandatos de redução de emissões e multas pesadas para quem descumpri-los, o executivo vislumbra a criação de um grande mercado de produtos à base de etanol capazes de substituir os tradicionais petroquímicos – afora o hidrogênio verde, para o qual o etanol também pode ser fonte.
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