Recall da BRF remete a fantasmas de um passado não tão distante – mas companhia tomou a melhor atitude

Companhia anunciou o recolhimento de aproximadamente 164,7 toneladas de carne de frango in natura, o que é negativo, mas era o melhor que a companhia poderia ter feito

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Um comunicado enviado nas primeiras horas desta quarta-feira (13) remeteu a alguns fantasmas de um passado não tão distante para a BRF (BRFS3). 

A companhia anunciou hoje (13) o recolhimento de aproximadamente 164,7 toneladas de carne de frango in natura da Perdigão destinadas ao mercado doméstico, e de outras 299,6 toneladas do produto que seriam vendidas para outros países. Em comunicado ao mercado, a companhia informa que a carne pode estar contaminada pela bactéria Salmonella enteritidis.

Já estão sendo recolhidos do mercado nacional coxas e sobrecoxas sem osso, meio peito sem osso e sem pele (em embalagens de 15kgs), filezinhos de frango (embalagem de 1kg), filé de peito (embalagem de 2kg) e coração (embalagem de 1kg).

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Essa informação fez com que muitos do mercado se lembrassem da 3ª fase da Operação Carne Fraca, deflagrada no início do março do ano passado, em que o grupo foi investigado por omitir salmonela em carnes. Na sessão em que foi deflagrada essa operação, os papéis despencaram 19,75%. 

Já nesta quarta-feira, apesar dos papéis registrarem um dos destaques de baixa do Ibovespa com desvalorização de até 3,43%, as quedas são bem mais modestas, justamente por conta da atuação da companhia nesse episódio. 

“O recall é a melhor ação para mitigar a imagem negativa da companhia. Não há maneira de contornar isso e sem dúvida é melhor enfrentar o problema. A longo prazo, é provável que isso ajude a empresa a recuperar a imagem sobre o controle de qualidade da companhia”, afirmam os analistas do Itaú BBA.

Além disso, o volume total é insignificante (0,03% do mercado interno e 0,02% do mercado internacional), sem tanto impacto sobre a produção da empresa. 

Porém, a notícia não deixa de ser negativa por dois fatores, apontam os analistas do Itaú BBA. “Ela mostra que a BRF ainda tem problemas de salmonela que, em nossa experiência, levam anos para ser resolvidos”, afirmam.

Além disso, alguns mercados para a exportação (como a Europa) têm quase zero tolerância à presença de salmonelas, o que dificulta a retomada das exportações. Nas estimativas dos analistas, a retomada das exportações a níveis anteriores para a Europa pode ter um valor de até R $ 800 milhões ao ano. A expectativa é de que a BRF volte a exportar para a Europa mais uma vez em meados de 2019. 

Neste cenário, o Itaú BBA segue com recomendação marketperform (desempenho em linha com a média do mercado) e preço-alvo de R$ 23 para os ativos BRFS3 para 2019. Ou seja, praticamente sem potencial de valorização, já que a ação negocia na casa dos R$ 22 nesta sessão. 

Por outro lado, mais otimista, o Bradesco BBI mantém recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) com preço-alvo de R$ 34 após o comunicado, ressaltando que a Tyson Foods e a Pilgirm’s Pride também anunciaram recentemente um recall voluntário nos EUA, sem grandes impactos. 

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As ações da BRF sofrem com o impacto do recall; porém, dadas as circunstâncias, esse é o melhor que ela poderia ter feito. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.