Rodovias amanhecem liberadas após ala de caminhoneiros convocar greve

Movimento anunciado nas redes sociais não teve adesão de movimentos sindicais e confederações reconhecidas pela categoria

Caio César

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A greve dos caminhoneiros convocada por uma ala da categoria não parece ter emplacado. Segundo a Polícia Rodoviária Federal, não há registros de bloqueios, manifestações ou qualquer indício de interdição nas rodovias federais na manhã desta quinta-feira (4).

Um grupo de caminhoneiros anunciou uma greve geral no país a partir de hoje. A convocação foi feita nas redes sociais por vídeos do desembargador aposentado Sebastião Coelho e de lideranças ligadas ao setor. Nos vídeos, Coelho aparece ao lado de Francisco Burgardt, conhecido como Chicão caminhoneiro, representante da União Brasileira dos Caminhoneiros, defendendo que membros da categoria interditem vias por todo o país.

O movimento não tem uma pauta clara, mas as convocatórias citam o apoio a “anistia” a membros da categoria, e a defesa de estabilidade contratual no setor, incluindo a reestruturação do Marco Regulatório do Transporte de Cargas.

Ao Estadão Chicão negou qualquer tipo de ligação da greve com a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro ou com ao projeto de anistia aos envolvidos nos atos golpistas do 8 de Janeiro. “A anistia que estava na petição era relacionada a processos que sofremos sanções em greves anteriores, como eu que ainda possuo contas bloqueadas”, relatou

Nas redes, caminhoneiros de diferentes estados divergem sobre apoiar ou não a iniciativa, dando uma dimensão incerta à adesão.

Em nota, a Federação dos Caminhoneiros Autônomos de Cargas em Geral do Estado de São Paulo afirmou ter conhecimento de manifestações individuais e espontâneas de alguns transportadores autônomos que circulam nas redes sociais. Contudo, até o presente momento, não participa, não convoca e não tem qualquer deliberação institucional envolvendo paralisação, greve geral ou mobilização relacionada à situação jurídica do ex-presidente.

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“Reforçamos que tais atos não são organizados, apoiados ou estimulados por essa entidade, tratando-se exclusivamente de iniciativas particulares”, destaca trecho da nota.

Em outro comunicado anterior, a FETRABENS repudia a tentativa de “provocar instabilidade no país por meio da manipulação de uma categoria profissional” e afirma que a chamada ‘União Brasileira dos Caminhoneiros’ e seus representantes não possuem legitimidade para falar em nome dos caminhoneiros brasileiros. “Trata-se de um grupo sem CNPJ, sem representatividade formal e que não integra o sistema sindical legalmente constituído.”

Outras entidades que representam transportadores autônomos também refutam uma adesão formal ao movimento, apontam para anistia aos envolvidos nos atos do 8 de Janeiro como pano de fundo e afirmam que os caminhoneiros não serão utilizados como “massa de manobra”.

A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL) também nega o indicativo de paralisação da categoria neste momento e não pretende apoiar eventuais indicativos de greve com viés político, segundo o diretor da confederação, Carlos Litti. “Não apoiaremos, pois se trata de uma pauta política por anistia. Há pautas setoriais justas apresentadas, mas no meio um pedido de anistia para crimes, o que é um absurdo”, disse Litti.

Em nota, a UBC estima que haverá adesão de aproximadamente 20% da categoria em mobilização inicial.

“É uma proposição nacional para os cerca de 1,2 milhão de caminhoneiros autônomos do País. Vemos grande aderência neste movimento, mas as pessoas são livres para dizer se querem vir participar ou não. Fizemos embasamento legal para o movimento ter legalidade”, disse o representante da entidade, Francisco Burgardt, ao Broadcast Agro, do Grupo Estado.