Quanto a violência custa ao Brasil? A conta já passou do trilhão

A última estimativa do Ipea contabiliza um custo de 11% do PIB, ou seja, mais de R$ 1 trilhão por ano por conta da violência

Roberto de Lira

Um policial caminha com um macaco no ombro durante uma operação policial contra o tráfico de drogas na favela da Penha, no Rio de Janeiro, Brasil, em 28 de outubro de 2025. REUTERS/Aline Massuca
Um policial caminha com um macaco no ombro durante uma operação policial contra o tráfico de drogas na favela da Penha, no Rio de Janeiro, Brasil, em 28 de outubro de 2025. REUTERS/Aline Massuca

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A escalada da violência no Rio de Janeiro não traz apenas preocupações com os custos políticos, sociais e até de reputação para o Estado e o país, mas também perdas financeiras bilionárias. Essa conta não é fácil de fazer porque envolve não só o que é diretamente perdido em gastos públicos e privados com a segurança, mas também o que se deixa de ganhar. A última estimativa disponível contabiliza um custo de 11% do PIB, ou seja, mais de R$ 1 trilhão por ano por conta da violência.

Os dados vêm do Atlas da Violência, que o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) realiza todos os anos em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

Num cálculo anterior do próprio Ipea, morte violenta custa em média R$ 1 milhão aos cofres públicos, isso se forem considerando gastos com sistema de saúde, previdência, segurança, processos judiciais e até a perda de produtividade.

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Só nessa conta, são mais de R$ 46 bilhões gastos anualmente apenas com os homicídios.

E isso porque a taxa de homicídios no Brasil recuou para 21,2 registros em cada 100 mil habitantes em 2023, uma redução de 2,3% na comparação com 2022. As estatísticas oficiais mostram que o Brasil registrou 45.747 homicídios em 2023, a menor taxa em 11 anos

Especificamente no Rio de Janeiro, um estudo da Confederação Nacional do Comércio (CNC) estimou que a violência causa uma perda deaté R$ 11,48 bilhões por ano, o que representa 0,9% do PIB do estado.

Os dados, porém podem variar porque há quem contabilize apenas os custos diretos enquanto outros  tentam dimensionar o que se perde ou se deixa de ganhar indiretamente.

Estudo do BID

No final do ano passado, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), presidido pelo brasileiro Ilan Goldfajn, publicou o estudo “Os Custos do Crime e da Violência: Expansão e Atualização das Estimativas para a América Latina e o Caribe”, mostrando que os gastos diretos ligados ao crime tinham atingido em 2022 3,44% do PIB da região (22 países), praticamente inalterados em relação ao estudo anterior.

Segundo o banco, o custo do crime é equivalente a 78% do orçamento público para educação nesses países, o dobro do orçamento público para assistência social e 12 vezes maior que o orçamento destinado para pesquisa e desenvolvimento.

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Para o Brasil, a estimativa é que esses gastos tinha passado de até 3,65% do PIB em 2014 para até 3,92% em 2022.

A conta principal abrange os “custos diretos” que o crime e a violência geram em termos de: capital humano perdido por homicídios, crimes não letais reportados e privação de liberdade; gastos de empresas privadas para prevenir o crime; e gastos públicos para responder ao crime e preveni-lo. Mas é feita a ressalva que, entre os “custos indiretos”, estão efeitos na atividade turística, na migração e até na produtividade das empresas.

A pesquisa também compara o custo direto do crime na América Latina e no Caribe com seis países europeus – Polônia, Irlanda, República Tcheca, Portugal, Países Baixos e Suécia – onde esses custos médios são de 2% do PIB — ou seja, 42% menos do que na América Latina e no Caribe. Assim, reduzir o custo do crime para esses níveis daria à América Latina e ao Caribe o equivalente a quase 1% do PIB para investir em programas de bem-estar social.

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O estudo oferece recomendações chave de políticas públicas para a região. Estas incluem o fortalecimento das instituições públicas para melhorar a eficiência dos gastos, focando em intervenções baseadas em evidências e fortalecendo os sistemas de justiça enquanto investem em educação e serviços sociais para abordar as causas raízes do crime, especialmente em áreas de alto risco. E enfatiza a importância de melhorar a coleta de dados e a pesquisa para entender melhor o crime e a violência.