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Atritos internos revelam falta de coordenação do governo, diz Andréa Freitas

Andréa Freitas, professora da Unicamp, avalia os pontos que estão colocando a atuação do presidente Jair Bolsonaro em xeque e minando a aprovação das reformas?
Por  Um Brasil
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Falta de coordenação e falha no diálogo com o Congresso Nacional fazem com que o primeiro semestre do governo de Jair Bolsonaro se aproxime do fim ainda sem a aprovação da Reforma da Previdência e de outras medidas importantes para as contas públicas do País.

A análise é da cientista política Andréa Freitas. Doutora em Ciência Política pela USP, professora do Departamento de Ciência Política da Unicamp, coordenadora do Núcleo de Instituições Políticas e Eleições do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e autora do livro “O presidencialismo da coalizão”, ela explica, durante entrevista ao UM BRASIL em parceira com o InfoMoney, como a estratégia do governo até aqui pode ser uma armadilha para a consolidação das reformas estruturais.

Falando a Marcos Mortari e Humberto Dantas, a especialista ressalta que o atrito entre duas alas que compõem o governo, tanto a militar quanto a ligada ao escritor Olavo de Carvalho, é o aspecto mais revelador da falta de coordenação da presidência de Jair Bolsonaro. Ela diz que falta uma autoridade centralizadora do Poder Executivo que determine qual será a resolução interna de um problema e que apresente à sociedade o governo como sendo uma unidade.

A especialista ressalta que, diferentemente de outros governos que fariam esse processo de coordenação no interior dos ministérios para que os conflitos não ficassem tão aparentes, este explicita seus problemas no Twitter. “Isso prejudica a relação dele com o Legislativo, fazendo parecer que há mais de uma pessoa com a qual se deve conversar”, diz.

Segundo a cientista política, a relação entre Executivo e Legislativo precisa de boa comunicação e coordenação – em grande medida construídas quando se faz uma ponte entre esses dois poderes. E essa ponte, segundo ela, é dada pelos partidos políticos, por meio de coalizão e divisão das responsabilidades sobre as políticas de governo.

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“É isso que a gente não tem visto. Não há coordenação. Pensando de maneira bem simples: se o presidente tem dentro dos ministérios os partidos que estão representados no Legislativo, se esses partidos são majoritários no Congresso, se participam do governo e constroem as políticas em conjunto, essas políticas tendem a ser aprovadas quando chegam ao Legislativo, pois a maioria está dada. Entretanto, o fato de eles estarem ausentes dos ministérios dificulta enormemente a feitura dessa ponte entre os dois poderes”, pontua.

Ela utiliza como exemplo a demora para aprovação da Medida Provisória 870, apresentada no início do mandato do presidente Jair Bolsonaro e que reorganiza os ministérios conforme seu planejamento. A MP passou pelo Senado neste mês, mas precisa ser aprovada em breve na Câmara para ser ratificada. “Caso a MP perca a validade, toda a estrutura [dos ministérios] volta a ser como era antes. O presidente Jair Bolsonaro teria um problema enorme do ponto de vista do redirecionamento da máquina que ele montou; e esse é um problema gigantesco. Eu chamo a atenção para isso, porque a gente está falando de um tipo de projeto que tem uma tramitação muito facilitada, cuja comissão não é oposicionista”, diz. “Não se faz política de outro jeito, tem que se fazer concessões para se fazer política, por isso se precisa de maioria”, reforça.

A cientista política explica que o relacionamento dos deputados com os líderes dos partidos também é importante. Ela questiona a estratégia do governo de passar a relatoria da proposta de Reforma da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara a um deputado do PSL – o partido do presidente –, sem experiência no Congresso. “Do ponto de vista político, isso não faz o menor sentido. Se ele tivesse escolhido uma pessoa experiente dentro do Parlamento, e de um partido um pouco mais afastado, ele provavelmente teria uma vida mais fácil”, conclui.

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