Primeiras leituras: Dilma faz o certinho na entrevista

A presidente mostrou a tática dos candidatos em debates e entrevistas: procurar não errar mais do que em dar informações e esclarecimentos

José Marcio Mendonça

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O tom incisivo adotado pela presidente Dilma Rousseff ao se referir ao caso Santander na sabatina de ontem, somado às ações do PT na mesma linha, indicam que os assessores da reeleição viram mesmo no episódio um bom mote para a campanha (um ministro até comemorou a celeuma, segundo o “Painel” da Folha”).

Para o eleitor médio ficaria a imagem de combate às elites. Por isso, tanto barulho por um episódio menor.

Um “confronto com o sistema financeiro” é visto também como uma forma de enviar sinais positivos para boa parte do empresariado, sempre crítico dos juros altos e dos lucros dos bancos. Este, por exemplo, é um tema recorrente na campanha de Paulo Skaff em São Paulo, até recentemente presidente da Fiesp.

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Sobre a entrevista, a anotação de observadores não comprometidos com nenhum dos candidatosé a de que ela foi morna: a presidente não empolgou, apesar do tom elevado às vezes, não apresentou novidades, mas também não cometeu nenhum escorregão de pudesse causar barulho e prejuízo para ela.

Aliás, a preocupação não só dos assessores de Dilma quanto dos de Aécio Neves e de Eduardo Campos é mais que eles produzam um fato negativo do que propriamente apresentem grandes vôos.

Eles treinados especialmente para evitar as cascas de banana que os entrevistadores jogarem pelo caminho – para não errar. As regras rígidas dos debates na televisão, exigência dos candidatos, têm o mesmo objetivo. O que explica esses debates terem se tornado tão previsíveis – e enfadonhos – nos últimos anos.

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Um dos destaques da entrevista foi a presidente ter admitido que “nós” (Lula e ela) subestimamos a gravidade da crise em 2008. Pareceu estar tentando justificar a situação atual, de inflação aquecida e economia desaquecida. Pode-se dizer que ela dividiu a responsabilidade com Lula. A oposiçao vai centrar fogo nisso.

O salário mínimo e a urna

No “Diálogo da Indústria com os candidatos”, amanhã, numa promoção da Confederação Nacional da Indústria (CNI) para debater, separadamente, com Dilma, Aécio e Campos um conjunto de 42 propostas da entidade, um dos temas será o do reajuste do salário mínimo.

A regra atual – que proporcionou extraordinário ganho no piso salarial brasileiro nos últimos anos e expira em janeiro de 2015 – não é do agrado dos empresários. A CNI propõe que os ganhos reais sejam atrelados ao aumento da produtividade. A CNI sugere ainda mudanças na legislação trabalhista.

Os dois temas são espinhosos para o três candidatos, pelo menos durante a campanha, pois são tachados como “impopulares” se não for para prometer reajustes generosos para o SM e defender com vigor as regras do trabalho no Brasil.

A posição dos empresários, a não ser em casos raros, é totalmente opostas às dos sindicatos de trabalhadores, é óbvio. Dilma afirmou tempos atrás de que pretende manter aumentos reais para o SM. Aécio e Campos, nos programas registrados no TSE abordam genericamente o tema. Não querem se indispor com a massa dos trabalhadores.

Mas será curioso ver como eles abordarão o tema amanhã em uma “casa” de empresários. A questão do mínimo e da reforma trabalhista vai estar em todos os debates da campanha, inevitavelmente. E são pontos dos quais o presidente eleito não poderá fugir no ano que vem.

Outros destaques do dia

– Ministro da Justiça tentou adiar o julgamento do TCU no caso Petrobras/Pasadena (“Folha”).

– Skaff descarta em site da campanha apoio a Dilma

– A pedido da campanha de Dilma o TSE vetou textos no site da consultoria que fez a análise sobre a campanha divulgada pelo Satander.

– Como o novo empréstimo não foi acertado, a Aneel deve adiar pela segunda vez o prazo que as distribuidoras de energia têm para pagar R$ 1,3 bi à Câmara de Comercialização de Energia Elétrica referente ao consumo de maio. Os bancos privados ainda estariam esperando melhores garantias para entrar no pacote, de R$ 6,5 bi, R$ 3,5 bi para eles e R$ 3 bi para o BNDES.

– Estadão comenta estudo de dois professores da Universidade Federal do Paraná no qual mostram que os incentivos via IPI dados à indústria automobilística produziram poucos resultados: impacto anual de 0,02% no PIB e de 0,04% no emprego. A política industrial nesta linha é tema de campanha: a oposição fala em reestudar os incentivos, o governo acusa os adversários de pretenderem acabar com ele e prejudicar empresas e empregados.

– Mercosul ajuda a blindar a Argentina no caso da dívida com os “fundos abutres”. A decisão sobre o pagamento ou calote sai amanhã e até ontem não havia sinais de um acordo. Há temores de que toda a região, inclusive o Brasil, seja atingida se não se chegar a um entendimento.

– Os mais recentes dados sobre as expectativas dos agentes econômicos: (1) Índice de Confiança dos Empresários do Comércio em SP ficou abaixo dos 100 pontos (indica desconfiança) em junho; (2) o Índice de Confiança da Construção Civil recuou pelo 5º mês consecutivo.

LEITURAS SUGERIDAS

1. Editorial – “Contradição econômica” (sobre decisões do BC) – “Folha de S. Paulo 

2. Clovis Rossi – “Mercados não votam. Que bom” – “Folha de S. Paulo” 

3. Reportagem – “Inclusão de vícios melhora cifras do PIB” – “NYTimes” na Folha 

4. Editorial – “Quanto custa chegar lá” – “O Estado de S. Paulo”

5. Celso Ming – “Penúltima badalada” (sobre o caso da Argentina” – “O Estado de S. Paulo”

6. José Paulo Kupfer – “Mensagens negativas” (sobre a decisão do BC) – “O Estado de S. Paulo”

7. Delfim Neto – “Confusão, eleição e bem estar” – “Valor Econômico” 

8. Cristian Klein – “Marola de 2013 ficou sem explicação convincente” – “Valor Econômico” 

9. Raymundo Costa – “Dilma pronta para trocar chumbo na TV” – “Valor Econômico” 

10. Entrevista – “Fórmula de reajuste do salário mínimo no Brasil é insustentável” – Estadão online