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ETF: A Vida e a Vida de um Instrumento Financeiro

O investidor brasileiro deve perder o medo do ETF. O exchange-traded fund é o melhor instrumento financeiro disponível nos mercados internacionais
Por  Olhar obliquo -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

O que seria de nós sem os exchange-traded funds, mais comumente conhecidos pela sigla ETF? Eliminando os exageros aos quais estou acostumado, provavelmente estaríamos OK…

Mas esse não é o ponto. O importante é o que oferece aos investidores em geral. Ainda pouquíssimo utilizado no Brasil em uma combinação de legislação restritiva e ineficiência de mercado que não permite ao investidor tirar proveito de tudo o que o veículo poderia gerar, cada vez mais se torna escolha obrigatória para alocação de investidores individuais e institucionais nos EUA e Europa.

Quando nasceu o primeiro desses fundos, talvez não fossem claras as aplicações diversas. Era uma forma de investimento passivo em índice, com eficiência fiscal para investidores americanos de todos os perfis acostumados a negociar ações para suas carteiras.

Precursores não sobreviveram, mas finalmente em 1993 nasceu SPDR, apelidado de “spider”, na verdade uma série de depositary receipts que inclui o mais conhecido dos ETFs que acompanha o S&P500, o SPY.

Em 2002, quando me mudei para os EUA e levei parte maior dos meus investimentos pessoais, fui apresentado ao instrumento financeiro que iria revolucionar a indústria nos anos subsequentes. O ETF era e é um instrumento complicadíssimo na sua criação, construção e gestão para as instituições envolvidas, especificamente sponsor e market maker, mas era e é incrivelmente prático para nós, investidores em geral. Que outro instrumento oferece diversificação de carteira, transparência na sua precificação, mais a liquidez com negociação em bolsa a custos verdadeiramente baixos?

Era um mundo diferente e o seu crescimento ainda era tímido. No ano anterior, apenas 125 deles negociaram US$68 bilhões nos EUA. Em 2014, milhares de fundos das mais diversas estratégias geraram volume de US$2,5 trilhões só nos EUA, e a expectativa é de que chegue a US$4 trilhões em 2017. Ao longo desses 14 anos, os fundos que exclusivamente acompanhavam índices já estabelecidos deram espaço à novas classes de ativos e estratégias, como o trendy ‘strategic beta’, inclusive permitindo a criação de ETFs de gestão ativa. Mas a intenção do post não é discorrer sobre o seu histórico, e, sim, mostrar ao investidor brasileiro que não se deve olhar para o produto como uma opção exótica.

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O economista Evandro Buccini e eu publicamos artigo em 2014 em que criamos um portfólio internacional utilizando apenas ETFs. Na verdade, a posição havia sido montada no ano anterior tendo como racional a necessidade de diversificação de ativos, com os exchange-traded funds cobrindo múltiplos mercados e ativos internacionais de renda variável e renda fixa que ofereciam não somente baixa correlação com as classes de ativos no Brasil, mas também entre eles.

Assim, em 2013, alocamos 30% dos recursos em cotas do Vanguard Total Stock Market (VTI), que acompanha o retorno da totalidade do mercado acionário americano, e outros 30% no Vanguard Total International Stock Índex (VXUS), que, de forma semelhante, acompanha o retorno de mercados acionários em países emergentes e desenvolvidos, excluindo os EUA. Analogamente, compramos 20% em cotas do Vanguard Total Bond Market (BND), que varia com ampla gama de valores mobiliários nos EUA – títulos públicos, emissões corporativas de alta qualidade e estruturas lastreadas em hipotecas -, e outros 20% do SPDR Barclays International Treasury Bond (BWX), que proporciona o resultado de desempenho de títulos do tesouro de diversos países, aqui também ex-EUA. A alocação parecia adequada para investidores individuais moderados na realidade de países desenvolvidos, 60% de exposição em renda variável e 40% em renda fixa, e em linha com os cenários econômicos e projeções de retorno e risco àquela época.

Como em toda alocação que faço, o horizonte é de longo prazo e os custos envolvidos são importantes, e que elevados afetam significativamente os retornos financeiros. Nos ETFs acima encontramos veículos com baixos expense ratios – 0,05%, 0,14%, 0,08% e 0,50% na ordem em que foram apresentados – e sem taxas de performance. Em 2 anos de existência do portfólio, até o fechamento de março de 2015 e sem contar com rebalanceamento periódico da carteira, a rentabilidade acumulada foi de 82,66% em Reais (15,06% em dólares), contra CDI no mesmo período de 21,10%. O resultado é significativo quando sabemos que o dólar se fortaleceu 58,92% em relação à moeda brasileira, e que reduzimos o risco total corrido pelo investidor através das suas baixas correlações.

Também pensando no longo prazo, é preciso entender que a rentabilidade de uma carteira ou portfólio em período curto ou específico de tempo pode ser enganador, tendencioso. Por isso gostaria apenas de apresentar a alocação acima como uma de muitas alternativas, até mesmo porque os níveis de negociação dos ativos e o cenário macroeconômico mundial mudaram sensivelmente, e hoje uma alocação internacional teria outra cara. Investidores têm perfis e necessidades diversas, e as possibilidades de diversificação são virtualmente infinitas.

Curiosos podem achar informações em websites como ETFdb.com ou com os principais nomes que fazem o universo de ETFs, como iShares, Vanguard, State Street, Van Eck e WisdomTree. O investimento não precisa ser feito diretamente no exterior, uma vez que fundos locais já oferecem opções. O assunto é motivo para muitos posts e perguntas adicionais, que responderei com toda atenção ao recebe-las.

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