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Após maior multa do mundo, ações da JBS disparam 9%; mas o que o mercado está comemorando?

Dois pontos do acordo da holding J&F são muito positivos para o frigorífico, mas investidores têm poucos motivos para se animarem com a empresa
Por  Rodrigo Tolotti
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SÃO PAULO – Após muitas negociações, a J&F – holding controladora da JBS (JBSS3) – conseguiu fechar um acordo de leniência com o Ministério Público Federal com o maior valor já pago por uma empresa neste tipo de acordo no mundo: R$ 10,3 bilhões. Mas mesmo assim, uma euforia tomou conta do mercado, levando as ações da JBS a subirem até 9%. Mas o que explica esta comemoração?

São dois os principais pontos. O primeiro envolve o valor em si, já que quando analisado com calma, mostra que foi extremamente positivo para a J&F, que se livrou de pagar uma multa ainda maior. Pelo acordo, a empresa terá 25 para pagar e com uma correção feita pelo IPCA – ou inflação -, levando a multa para R$ 20 bilhões.

Quando olhamos apenas para os números, é até difícil imaginar uma cifra tão grande, mas para uma holding como a J&F, esse número pode ser considerado uma grande vitória, principalmente pela forma como ocorreu o acordo do ajuste a ser pago. Se o parcelamento da dívida fosse feito com base na Selic, por exemplo, sairia muito mais caro para o grupo dos irmãos Joesley e Wesley Batista.

Um levantamento feito pelo Valor Econômico moesta que, considerando uma taxa de juro real de 4% ao ano pelo prazo de 25 anos, a economia da J&F em relação ao valor conquistado é de R$ 17 bilhões. Em um hipotético caso onde a multa fosse paga à vista e a companhia fizesse uma captação no mercado, o valor total da multa poderia atingir R$ 86 bilhões (lembrando que mesmo que ela tivesse que pagar à vista, a empresa acabaria buscando outras alternativas de levantar este dinheiro).

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Mas há um outro ponto, talvez o mais importante, a ser destacado: o pagamento será feito exclusivamente pela holding controladora. Ou seja, estes R$ 20 bilhões não estão nas costas da JBS, e mesmo que no fim a J&F decida vender algum ativo do frigorífico, a empresa se livrou de um de seus vários problemas.

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Segundo o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, é exatamente este ponto que está ajudando as ações da JBS nesta quarta. Às 14h17 (horário de Brasília), os papéis tinham ganhos de 9,05%, cotados a R$ 8,07. Os investidores devem se lembrar ainda que rumores recentes apontando que a J&F estaria buscando vender alguns de seus ativos como a Alpargatas, Vigor e a Eldorado Brasil – um sinal de que o frigorífico pode ficar de fora de impactos mais fortes em suas operações para que a holding pague suas obrigações.

Mas nem tudo é festa na JBS: “a percepção de que o acordo foi bom para companhia não esta errada. Foi ótimo. O erro está em entender que ele é o fim dos problemas”, afirma o estrategista-chefe da Eleven Financial, Adeodato Volpi Netto.

“O acordo de leniência pode impressionar pelo valor, mas a forma de pagamento é um acinte. Absolutamente irrelevante para a dimensão das finanças da companhia”, explica. “Porém, aqueles que compram hoje impulsionando os papéis parecem acreditar que os problemas terminam por aí. Ledo engano”, continua Adeodato.

A JBS ainda está no centro de diversas outras ações judiciais e pode ser obrigada a pagar multas de alguns bilhões de reais. A companhia é investigada por insider trading ao comprar dólar antes do vazamento da delação e por um ágio artificial gerado na fusão com o grupo Bertin, esse segundo podendo chegar ao valor de R$ 15 bilhões.

“As penalidades aqui e lá fora ainda devem ser muito maiores do que este acordo e sem a perspectiva de complacência similar na forma de pagamento”, afirma Adeodato reforçando a ideia de que a JBS “continua sendo um ativo de alto risco e sem capacidade de projetar performance futura com assertividade em função das diversas formas nas quais a companhia pode (e deve) ser negativamente impactada no futuro”.

Como movimento de curtíssimo prazo, a alta de hoje da JBS é justificada pelo ótimo acordo de leniência conquistado pela sua holding, mas no médio e longo prazo, praticamente nada mudou para a empresa, que segue com seu futuro incerto e com a possibilidade de grandes multas ainda serem aplicadas – desta vez direto na companhia.

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Rodrigo Tolotti Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.

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