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O que a Copa do Mundo pode nos ensinar sobre as eleições de 2018?

O mundial e as eleições deste ano ocorrem num ambiente digital bem mais avançado e conectado do que quatro anos atrás. O número de smartphones nas mãos dos brasileiros aumentou significativamente, ao mesmo tempo que engajamento e compartilhamento de conteúdo digital cresceu exponencialmente.
Por  Cid Oliveira
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Artigo publicado pelo Valor Econômico “Mundial conecta usuários em alta tecnologia.”, em 3 de julho de 2018, revela que no intervalo entre Copas tecnologia de conexão e número de acessos à internet no Brasil cresceram substancialmente. Existem mais pessoas conectadas na web, bem como a frequência e engajamento destas conexões aumentaram. De acordo com a Vivo, maior operadora de telefonia móvel do Brasil, o tráfego de dados da sua rede cresceu 4,8 vezes de julho de 2014 a maio de 2018. A TIM informou que 60% da sua rede trafega hoje em tecnologia 4G contra apenas 1% em 2014.

Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD-C) do IBGE revelam que em 2015, o número de pessoas conectadas à internet somava 102 milhões. Em apenas um ano este número cresceu 14% atingindo 116 milhões de pessoas. A grande maioria dos brasileiros com ensino superior completo possui smartphone, aproximadamente 98%, nível próximo dos níveis de países desenvolvidos. Mesmo entre pessoas sem nenhum grau de escolaridade 44% possuem smartphones. A pesquisa revelou também que a finalidade principal dos acessos, apontada por 95% das pessoas conectadas, é trocar mensagens de voz, texto ou imagens em aplicativos de bate-papo online.

A grande lição disso tudo é que as mídias sociais terão um papel bem mais importante no processo eleitoral deste ano do que tiveram a quatro anos atrás. Além disso, é importante saber se este aumento da importância das mídias sociais será capaz de desbancar a efetividade dos meios tradicionais na corrida eleitoral.

A maioria dos analistas políticos brasileiros entendem que não. Em sua visão, a mídia tradicional e horário eleitoral gratuito são mais importantes do que os meios digitais na hora de angariar votos para os candidatos. Aliados ao aparato eleitoral das alianças políticas e verbas de campanha, assumem um peso desproporcional se comparado ao das mídias sociais, dado a realidade sócio econômica ainda precária do Brasil.

Niall Ferguson, professor em Harvard e Stanford, e um dos historiadores mais importantes da atualidade, autor de diversos livros importantes, como por exemplo “The Square and the Tower: Networks and Power, from the Freemasons to Facebook”, livro que trata do assunto do impacto que redes e conexões entre as pessoas tiveram nos eventos político-econômicos ao longo da história e como essas conexões se potencializaram com o advento das mídias sociais, discorda da linha seguida pelos analistas políticos nacionais. Apesar de não ser especialista em política brasileira, em abril deste ano, Niall esteve no Brasil e palestrou no evento Macro Vision do Banco Itaú BBA, onde falou do tremendo poder e impacto das redes sociais em eventos recentes que demonstram claramente uma mudança no contexto político econômico global. Em documento publicado após o evento a equipe de relações com a imprensa do Itaú destacou algumas de suas falas:

“Empresários do Vale do Silício diziam que o mundo seria melhor nos momentos em que todos estivessem conectados, mas vemos que isso teve consequências inesperadas, como o Brexit e a eleição de Donald Trump”, disse. “Não só a economia se transformou, mas as grandes companhias transformaram a política também. No futuro haverá dois tipos de candidatos: os que entendem o Facebook e os que vão perder”, completou.  

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Dentre os quatro candidatos à presidência melhor colocados nas pesquisas de intenção de voto (Bolsonaro, Marina, Ciro e Marina), Bolsonaro nada de braçada no mar das mídias sociais.

Bolsonaro possui 5,5 milhões de seguidores no Facebook contra 2,24 milhões de Marina, 910 mil de Alckmin e 290 mil de Ciro. Bolsonaro e Ciro empatam na métrica de interesse em pesquisas na web ao longo do último ano no Google Trends com 23 pontos cada um, ao passo que Marina apresenta 6 pontos e Alckmin 4 pontos. Bolsonaro possui 615 mil inscritos em seu canal do Youtube contra 14 mil de Marina, 5 mil de Ciro e somente 234 de Alckmin. Fazendo uma busca no Youtube com o nome de cada um deles, Bolsonaro está novamente muito à frente dos demais candidatos. Ele possui 24 vídeos com mais de 1 milhão de visualizações enquanto Marina tem 1, Ciro tem 2 e Alckmin nenhum.

Olhando para os vídeos mais visualizados no Youtube dos quatro candidatos, Bolsonaro possui 9,3 milhões de visualizações em vídeo de março de 2017 em sua entrevista com Danilo Gentile. Marina possui 1 milhão de visualizações em um vídeo de 3 anos atrás referente ao Programa Eleitoral das eleições de 2014. Ciro tem 2 milhões de visualizações em seu vídeo mais viral, de abril de 2018, mas de conotação bem negativa para ele, o título do vídeo é “Ciro Gomes Mentiroso e Desequilibrado – Pescotapa”.  Geraldo Alckmin não possui vídeo com mais de 1 milhão de visualizações.     

Ninguém tem bola de cristal para saber se a hipótese dos analistas políticos nacionais ou a de Niall Ferguson prevalecerá nas eleições deste ano no Brasil. Apesar da realidade socio econômica nos EUA e no Brasil serem bem diferentes, isto não impede de traçarmos um paralelo entre ambos países. É nítido o movimento de aumento da importância das mídias sociais e o crescente descrédito com relação às mídias tradicionais e seus respectivos impactos no processo político. Este novo padrão de comportamento é potencializado quando a população vive um momento de insatisfação crescente com relação ao sistema de poder instalado, o chamado establishment, que ocorreu nos EUA nas últimas eleições e que é bem mais latente no Brasil de hoje.

Cid Oliveira Cid Maciel Monteiro de Oliveira CEO e sócio-fundador da startup invest.pro, Cid tem 18 anos de experiência, tendo atuado em instituições financeiras e gestoras no Brasil e no exterior. Graduou-se em Engenharia Civil pela UFRJ e concluiu mestrado em Finanças pela Manchester University na Inglaterra

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