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O que esperar da Apple após o “pânico” com os resultados de Facebook e Netflix?

Mais uma queridinha do mercado reporta amanhã. O que esperar?
Por  Marcelo López
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

As FAANGs são queridinhas do mercado hoje. Ninguém se atreve a falar mal das gigantes do setor de tecnologia – embora eu não acredite que elas sejam realmente empresas de tecnologia. Amazon é mais um player de varejo e Netflix de conteúdo. Mas, especificidades à parte, vamos ao que interessa.

Como os analistas se recusam a enxergar os riscos, cabe a mim, então, pelo menos alertar para os possíveis percalços dos negócios, já que ninguém está prestando atenção. E o investidor já fica alertado para cenários que não são levados em consideração na hora de se fazer o valuation dessas empresas.

A Apple, companhia de um só produto – iPhone representa mais de 60% da receita –, está bem perto das máximas históricas, atingidas no mês passado. O gigante da tecnologia tem um valor de mercado hoje de US$945 bilhões, sendo a maior empresa do mundo nesse quesito. Isso, porque os seus dois últimos produtos foram um desapontamento para o mercado e ela já reduziu o guidance para o próximo trimestre.

Nos últimos 12 meses, o valor de mercado passou de menos de US$700 bilhões para quase US$1 trilhão, sendo que as vendas de iPhone, o carro-chefe, caíram de US$155 bilhões em 2015 para US$141 bilhões em 2017 (fonte: 10-k). Ou seja, não há crescimento.

Aliás, o mercado de smartphones está maduro ou, em outras palavras, bem saturado. Existe uma competição ferrenha e o (pouco) crescimento está vindo praticamente da Ásia. Olhando para as vendas da Samsung, a líder no setor, vemos uma queda de 4% ano-a-ano. A Huawei, terceira maior, viu suas vendas caírem 9% no último trimestre de 2017 e a Oppo, a quarta maior do setor, viu seu crescimento cair de 99% em 2016 para zero no final de 2017.

Falando em Ásia, há também o risco-China, que só aumentou. A guerra comercial entre EUA e China está apenas começando e a maneira mais fácil da China retaliar os EUA seria justamente impondo alguma tarifa à Apple, por exemplo. Isso ajudaria os produtores chineses e impactaria os 20% de receita da Apple que vêm desse país.

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O mercado de computadores tampouco está em ascensão e as vendas do Mac caíram 5% ano-a-ano. A vantagem da Apple de poder inovar e cobrar muito mais por isso está chegando ao fim.

Como sempre nos períodos de boom, os maus investimentos são feitos no setor da moda, que aparentam ser os de crescimento (obviamente, não é o caso da Apple hoje).

No final da década de 90, a bola da vez eram as empresas de internet. Na época, até um analista do Credit Suisse, Paul Weinstein, disse que em poucos anos a Cisco seria a primeira empresa a valer US$1 trilhão, a mesma discussão que estamos vendo hoje entre Apple e Amazon. Só lembrando que em menos de 2 anos após essa famosa frase, as ações da Cisco já haviam caído cerca de 90%!

Em 2007, foi a vez dos famosos “Four Horsemen” – Apple, Research in Motion (agora Blackberry, que nunca mais se recuperou), Amazon e Google.

Não estou sugerindo que as ações da Apple estejam à beira do precipício e que vão desmoronar. Aliás, se realmente houver um bear market nos próximos 24 meses (minha expectativa, por sinal), é até provável que as ações da Apple se sustentem por mais tempo do que as outras. Isso devido ao seu status de campeã nacional e gigante do setor, além de estar no portfólio da Berkshire Hathaway, do lendário Warren Buffett.

Todos os insiders que operaram as ações da Apple esse ano venderam. Não houve nenhuma compra. Normalmente os insiders sabem mais da condição da empresa do que os analistas.

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A Apple reportará seus resultados no dia 31 de julho e estou atento aos números e ao guidance da companhia. Só gostaria de lembrar a todos que o risco existe e, só porque há vários analistas recomendando a ação, não significa que seja um investimento livre de risco. Trade carefully.

Marcelo López Marcelo López tem certificação CFA, é gestor de recursos na L2 Capital Partners, com MBA pelo Instituto de Empresa (Madrid, Espanha) e especialização em finanças pela principal escola de negócios da Finlândia (Helsinki School of Economics and Business Administration). Atuou como Gestor de Carteiras e de Fundos em grandes gestoras internacionais, tais como London & Capital e Gartmore Investment Management.

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