Conheça as 10 grandes apostas dos garimpeiros da Bovespa

No 9º Congresso Value Investing Brasil, alguns dos melhores gestores de fundos de ações do país revelaram quais eles acreditam ser as ações que mais empolgam na Bolsa

Thiago Salomão

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(SÃO PAULO) – Eu e o editor de Mercados do InfoMoney, Thiago Salomão, estivemos na semana passada no 9º Congresso Value Investing Brasil, um encontro imperdível que reuniu em São Paulo os principais analistas e gestores de fundos de ações do país. Ficou claro que a principal aposta dos gestores é que os juros vão cair. Como isso deve beneficiar diretamente empresas de infraestrutura e varejo, são exatamente esses os papéis preferidos desses garimpeiros da Bovespa. A preferência por ações de empresas de qualidade, que sofrem menos nas recessões, continua firme como nos anos anteriores, mas a lista de papéis indicados foge ao óbvio, em minha opinião. Dos 10 papéis preferidos pelo gestores, somente um, o da RaiaDrogasil, também faz parte da Carteira InfoMoney, um portfólio que rendeu o dobro do Ibovespa nos cinco primeiros meses deste ano – clique aqui e baixe a carteira. Veja a seguir os 10 papéis preferidos dos gestores do “value investing”:

RaiaDrogasil (RADL3)

Quem indica: Fabio Alperowitch, sócio da Fama Investimentos

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Acredita que ainda é hora de ter ações de empresas de alta qualidade na carteira. Ele utiliza cinco filtros para identificar as melhores companhias Bovespa: 1) Posicionamento de mercado; 2) Modelo de negócio; 3) Governança Corporativa; 4) Solidez financeira; e 5) Preço da ação atrativo. Na visão de Alperowitch, a RaiaDrogasil é uma excelente escolha considerando esses cinco filtros, ainda que seja a ação do Ibovespa que mais subiu neste ano. “A RaiaDrogasil está posicionada para crescer por mais 20 anos seguidos”, afirma.

Equatorial (EQTL3)

Quem indica: José Luiz Torres, sócio da Apex Capital

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Diz que o setor elétrico estava muito bem até 2012, quando a presidente afastada Dilma Rousseff editou a MP 479 e afundou a rentabilidade das empresas. Mas Torres acredita que a Aneel vem demonstrando muito mais sensibilidade com o setor desde 2014 e lembra que as revisões tarifárias feitas nos últimos dois anos já foram bem mais favoráveis às empresas. A distribuidora Equatorial possui a melhor administração entre as empresas do setor elétrico. Mesmo com a alta de 36% da ação em 2016, ele ainda acredita que investir nos papéis no preço atual seria equivalente a comprar um título de renda fixa que pague IPCA + 7,5% ao ano. Essa projeção de retorno poderia ser revisada para cima caso a Equatorial consiga renovar benefícios fiscais que recebe da Sudam e da Sudene. Como o governo quer vender distribuidoras em dificuldade da Eletrobras e como a Equatorial também já manifestou interesse em comprar a carioca Light, Torres acredita que outro possível motivo para o aumento do retorno do acionista seria por uma aquisição, uma vez que o choque de gestão que a Equatorial seria capaz de dar na empresa comprada geraria aumento de lucratividade. Já se a Equatorial não comprar ninguém, poderia garantir ao acionista um retorno em dividendos de 8% em 2017 distribuindo o excedente de caixa.

Lojas Renner (LREN3)

Quem indica: Pedro Franco Sales, gestor da Verde Asset

Da mesma forma que a Zara se transformou na maior varejista de roupas mundial entregando o que o cliente deseja comprar a preços bem acessíveis, a Lojas Renner possui a maior rentabilidade do setor no Brasil porque consegue fazer isso melhor que os concorrentes. É muito difícil acertar como a Renner nesse setor de vestuário porque o Brasil é um país muito grande e o gosto do cliente varia de acordo com a região. Por ser mais eficiente, a empresa consegue identificar rapidamente eventuais erros, minimizar o impacto e não sacrificar a rentabilidade. “Quando uma varejista erra, tem que queimar estoque e perde lucratividade. Mas as margens da Renner são maiores que as dos rivais, crescentes e bastante estáveis”, diz. A margem bruta da empresa subiu 5 pontos percentuais desde 2009 e o retorno sobre o investimento (ROIC) tem se mantido acima de 20% ao ano. Como consegue abrir novas lojas e preservar a rentabilidade, ele espera que as vendas da Renner continuem a crescer entre 10% e 15% ao ano. Por isso ele não vê como um problema a ação ser negociada a 20 vezes o lucro na Bovespa.

M. Dias Branco (MDIA3)

Quem indica: Felipe De Luca, sócio da Pollux Capital

É a empresa líder de mercado em massas e biscoitos. Sempre foi reconhecida pela sua força no Nordeste, mas também já é líder no Sudeste. É uma empresa bastante verticalizada, que possui também moinhos de trigo. As margens da empresa costumam ser bastante estáveis, mas eventualmente podem sofrer quando os preços do trigo importado disparam, como aconteceu no ano passado. De Luca explica que no segundo semestre de 2015, quando a margem Ebtida caiu para 11%, a Pollux aproveitou para recomprar os papéis apostando que haveria um retorno às margens históricas de 16% a 18%. O gestor explica que a M. Dias Branco conseguiu aplicar um reajuste de 6% nos preços mesmo no cenário de recessão e que estuda um novo reajuste de 8% apesar do alívio garantido pela recente queda do dólar. Após a recuperação das ações neste semestre, os papéis são negociados por cerca de 15 vezes o lucro na Bovespa, o que De Luca admite não ser nenhuma pechincha. Mas ainda pode ser considerado atrativo porque a empresa tem conseguido entregar crescimento de 15% a 20% ao ano e porque seria um alvo óbvio para uma grande multinacional do setor que queira desembarcar no Brasil com posição dominante.

Transmissão Paulista (TRPL4)

Quem indica: José Luiz Torres, sócio da Apex Capital

A Transmissão Paulista assinou a MP 479 editada pelo governo federal, mas agora vai receber pela devolução de concessões uma indenização maior que a esperada. São cerca de R$ 8 bilhões em pagamentos parcelados a partir de 2017. Esse dinheiro poderá ser distribuído aos acionistas na forma de dividendos. O retorno em dividendos deve ser de 15% a 16% em 2017 e esse percentual poderia chegar até mesmo a 25% se a empresa não fizer novos investimentos. Mas o gestor prefere que a empresa reinvista esse dinheiro porque o negócio de transmissão de energia tem capacidade de gerar retornos bem interessantes ao acionista sem risco hidrológico.

CPFL Energia (CPFE3)

Quem indica: Pedro Franco Sales, gestor da Verde Asset

Na parte de geração, a CPFL já tem toda a energia que vai produzir contratada até o final das concessões, em 2030, com correção dos preços pela inflação. O único risco seria o de não chover. Possui participações em energia eólica com a CPFL Renováveis. E possui fôlego financeiro para participar do leilão de grandes usinas. Caso realize aquisições, tem executivos capazes de melhorar a gestão e aumentar o retorno dos investimentos. Um possível alvo são as distribuidoras que a Eletrobras pode colocar à venda em breve. Se o ambiente macroeconômico piorar e os juros subirem, a empresa está bem protegida. E se o imposto subir, a CPFL consegue repassar isso às tarifas. O analista estima que a preços de hoje a CPFL seja capaz de garantir um retorno de IPCA + 8,5% ou 9% ao acionista mesmo sendo um papel com perfil bem defensivo. Ele lembra que esses percentuais poderiam subir com eventuais aquisições baratas e bem-sucedidas.

 Sonae Sierra (SSBR3)

Quem indica: André Gordon, gestor da GTI Administração de Recursos

Na ótica do gestor, há duas formas de se expor em Bolsa neste momento: apostando na queda dos juros ou na retomada do PIB (Produto Interno Bruto). Dentre as empresas que ele comentou em sua apresentação, uma se destaca: a Sonae Sierra. Trata-se da empresa de shoppings que mais cresceu no Brasil nos últimos anos. Contudo, pela sua forte exposição à classe C, suas ações foram duramente impactadas ao longo da corrosão da economia brasileira. Mas a companhia possui uma gestão excelente, comandada por Alexandre Otto, um empresário alemão e herdeiro do conglomerado de varejo europeu Grupo Otto, que comprou 50% da Sonae Sierra em 2014, pagando quatro vezes o que ela vale hoje. Então há um enorme desconto na ação. Para Gordon, seria factível que valor de mercado duplicasse nos próximos dois anos.

Mills (MILS3)

Quem indica: André Gordon, da GTI Administração de Recursos

A Mills trouxe uma “má notícia” recentemente aos seus acionistas, quando optou por fazer um aumento de capital via subscrição de ações “injustificado”, na visão do gestor, pois a empresa não apresentava uma necessidade de caixa tão emergencial para tal movimento. Mesmo assim, é uma das empresas mais bem posicionados para a expectativa de retomada do crescimento do Brasil, tendo em vista as enormes obras paralisadas ou reprimidas que tivemos nos últimos anos – a Mills pertence ao segmento de infraestrutura, tendo atuação em inúmeras frentes de negócios. Outra informação “que tem muito valor”, na visão do gestor, é a de que a empresa não foi citada em nenhuma investigação com a Lava Jato, embora mais da metade dos seus clientes estejam envolvidos ou tenham sido citados.

Alpargatas (ALPA4)

Quem indica: Flavio Sznadjer, gestor da Bogari Capital

O gestor acredita demais na marca Havaianas e vê na chegada da JBS uma ótima forma de melhorar a gestão da empresa e torná-la mais agressiva. Ele ressalta ainda que o risco político que envolve a JBS não prejudicaria a Alpargatas, visto que a aquisição foi feita depois do período em que foram liberados os empréstimos do BNDES ao grupo que estão sob investigação.

Guararapes (GUAR3)

Quem indica: Flavio Sznadjer, da Bogari Capital

“Essa é uma empresa que ninguém quer ouvir falar, e é desses cases que a gente mais gosta”, brinca o gestor. A aversão do investidor à Guararapes, dona da Riachuelo, deve-se justamente à gritante diferença entre ela e a Lojas Renner. “O investidor que olha para as varejistas de vestuário compara Lojas Renner com Guararapes. A Renner é toda certinha, com bons resultados, situação de caixa confortável e crescimento de vendas, enquanto a Guararapes não é assim. Mas a Guararapes é uma boa empresa. Não é a melhor empresa do mundo nem possui a melhor gestão do mundo, mas ela é boa e tem um valuation extremamente descontado”, explica Sznadjer, dizendo que a Guararapes é negociada na Bolsa a 20% dos múltiplos da Renner. Dentre os motivos citados para defender o investimento em Guararapes, está o conservadorismo da empresa, refletido nas provisões para possíveis perdas maiores que seus pares, e pelos imóveis que a empresa possui, que podem ser vendidos e lhe garantir um fôlego em caso de emergência financeira. Além disso, afirma o gestor, a Guararapes “copia a Renner sem vergonha nenhuma”, o que, para ele, é bom.

Thiago Salomão

Idealizador e apresentador do canal Stock Pickers