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Olhando além dos resultados das empresas

Tudo o que você sempre quis saber sobre os resultados das empresas, mas não sabia onde procurar 
Por  Eduardo Guimarães
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

A temporada de resultados do terceiro trimestre de 2018 já começou, com as principais empresas do Ibovespa mostrando os seus resultados referentes ao período de julho a setembro de 2018 (ex: Vale, Localiza, Via Varejo e Ambev).

Muitos balanços serão publicados até o dia 14 de novembro, mas como separar o joio do trigo? Como saber o que é importante? Quais indicadores analisar no balanço das empresas?

Na coluna de hoje, eu pretendo compartilhar a minha experiência de mais de 10 anos como especialista de ações e te mostrar o caminho das pedras ao analisar o resultado de uma empresa.

Eu já analisei mais de 40 resultados trimestrais de mais de 60 empresas na minha carreira e pretendo dar um passo a passo do que é importante no extenso material publicado pelas empresas sobre os resultados.

O resultado foi bom? A ação vai subir ou cair?

O principal objetivo de uma análise de resultado de uma empresa é responder às perguntas acima no curto prazo. Tentar prever o que vai acontecer com o preço das ações da empresa é o chamado call (opinião). Eu sempre falava para a minha equipe de analistas: “Sempre existe uma chance de 50% de acertar o call: a ação pode subir ou descer”.

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7 coisas que você precisa saber para analisar o resultado das empresas

1. Existem três fontes principais de informação: i) release de resultados, ii) ITR (informações trimestrais) entregues à CVM com demonstrações financeiras completas e notas explicativas e; iii) apresentação e teleconferência de resultados. Todas são fontes de informações muito úteis, por isso pretendo te falar onde exatamente procurar cada informação.

2. A minha primeira recomendação é tomar muito cuidado com os números ajustados por itens não recorrentes. Sempre analise o EBITDA e lucro líquido sem os números ajustados, a fonte ideal é a demonstração de resultados do ITR. Na maior parte das vezes, as tais despesas que são classificadas como não recorrentes, são na verdade recorrentes, como por exemplo provisão para pagamento de bônus de executivos, despesas com advogados e despesas com pessoal para integração de empresas adquiridas.

3. Um dos principais indicadores fundamentalistas é o endividamento líquido. Aqui não tem como a empresa mostrar números diferentes. Muito importante observar a variação do endividamento líquido da empresa no período e comparar com o EBITDA dos últimos 12 meses (alavancagem financeira). Eu sempre prefiro buscar a informação do endividamento líquido (dívida bruta menos caixa e aplicações financeiras) no balanço da empresa nas demonstrações financeiras no ITR, e não no release de resultados, que às vezes pode não estar correto ou desconsiderar alguma dívida. No limite, vale a pena olhar a nota explicativa do endividamento no ITR para verificar.

4. O fluxo de caixa relaciona a demonstração de resultados com o balanço patrimonial de uma empresa. Eu gosto muito da seguinte metáfora: o balanço patrimonial seria caixa d’água e o fluxo de caixa é a movimentação de entradas e saídas de água no período. Só é possível saber o volume final da caixa de água se soubermos o volume inicial e as entradas/saídas. No fluxo de caixa, eu sempre presto muita atenção à variação das contas de capital de giro, basicamente contas a pagar e contas a receber. Uma empresa do setor de varejo pode descontar recebíveis e/ou duplicatas e afetar bastante o resultado em determinado período.

5. Naturalmente, existe sazonalidade em algumas operações de empresas, mas eu sempre comparo o resultado do trimestre atual ano a ano e trimestre a trimestre, ou seja, comparo com o mesmo período do ano anterior e com o trimestre imediatamente anterior. Eu já vi muitos casos de empresas que não mostram a comparação com o trimestre anterior no seu release de resultados. Na maioria das vezes, isto acontece para não mostrar uma queda ou piora no desempenho. No limite eu recomendo ter os três releases de resultados das empresas para comparar (ex: 3º trimestre de 2018, 3º trimestre de 2017 e 2º trimestre de 2018).

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6. Uma conta de resultado que geralmente passa despercebida é a chamada “outras despesas/receitas operacionais”. Os resultados não recorrentes geralmente passam nessa linha de resultado e podem distorcer a análise. Ressalto que nem sempre as empresas fornecem abertura detalhada destas receitas e despesas.

7. Tudo na vida é a gestão de expectativas, e uma definição de felicidade é simples: “quando a realidade supera as expectativas”. Portanto, um resultado de uma empresa é sempre comparado com a expectativa do mercado. Essa expectativa de resultado pode estar ou não no preço das ações da empresa. Eu já escrevi sobre esse assunto aqui (https://br.investing.com/analysis/por-que-o-preco-das-acoes-das-empresas-oscila-tanto-apos-um-resultado-trimestral-200222064).

Por fim, o grande segredo na análise fundamentalista de ações é conseguir separar o que é informação do que é ruído e saber como o resultado de uma empresa afeta a sua tese de investimentos e capacidade de gerar lucros no futuro.

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