Fechar Ads

Pé trocado: o call curupira

Eu sempre digo que o mais importante na carreira de um bom analista de ações é acertar mais do que errar em recomendações de investimento. Portanto, errar faz parte do processo
Por  Eduardo Guimarães
info_outline

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Eu já falei aqui de uma recomendação contrária de venda que foi um dos meus maiores acertos na minha carreira de análise de ações. Entretanto, nem sempre é possível acertar tudo na vida. Hoje irei falar de uma recomendação “fora do consenso” que não deu certo, o chamado call pé trocado ou curupira.

Antes de começar a contar essa história, preciso fazer um adendo sobre o Curupira, que é uma das lendas do folclore brasileiro. Uma das suas principais características é possuir pés virados para trás. Assim, o call curupira (errado) é quando o preço das ações se comporta de maneira oposta à recomendação (ex: recomendação de compra e queda no preço das ações).

Eu sempre digo que o mais importante na carreira de um bom analista de ações é acertar mais do que errar em recomendações de investimento. Portanto, errar faz parte do processo e devemos aprender com os nossos próprios erros.

Eu acredito que um bom especialista em ações precisa ter três habilidades essenciais: i) saber escrever e expressar bem as suas ideias; ii) ter um bom modelo de projeção financeira que responda rapidamente aos diferentes cenários e; iii) timing e saber “tradar” o catalisador certo para uma determinada ação.

Eu diria que a maior parte dos erros ocorre devido ao timing da recomendação, pelo simples fato do analista não ter enxergado algo muito importante para o call ou ter dimensionado errado o catalisador para a empresa.

O call errado da Tecnisa

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

O meu maior erro foi a recomendação de COMPRA para as ações da incorporadora imobiliária Tecnisa em outubro de 2013.

A recomendação de COMPRA nas ações da Tecnisa estipulou um preço alvo de R$ 12,00 por ação em dezembro de 2014, com potencial de valorização de 25%. O grande catalisador das ações era o projeto imobiliário Jardim das Perdizes, praticamente um novo bairro planejado em São Paulo

A tese de investimento era baseada na geração de caixa e consequente redução do endividamento da empresa no final de 2014 e 2015.

O que realmente aconteceu

Com o grande volume de projetos entregues pela Tecnisa, apareceram os problemas: estouros de custos de obras e cancelamentos de vendas. Assim, a geração de caixa não veio e a dívida da Tecnisa ficou tão alta que a empresa anunciou um aumento de capital, que teve inclusive a participação da Cyrela.

Errar significa perder dinheiro

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Como dizia um analista da minha equipe: “Deu ruim, boss”. As ações (TCSA3) acumularam queda de 56,7% até o final de 2014.

Depois do leite derramado, joguei a toalha

Eu mudei a recomendação da Tecnisa de Compra para Manutenção no início de 2015, pois o nível de endividamento (dívida líquida/PL) aumentou para 146% em setembro de 2014, pois a geração de caixa não veio e o catalisador da ação se provou equivocado.

Cuidado com previsões muito otimistas

Eu aprendi a ter mais cuidado e sempre duvidar de projeções muito otimistas para as empresas, especialmente quando o tema é endividamento, pois este é um dos indicadores mais importantes da análise fundamentalista de uma companhia.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Não tenha amor pelo call (recomendação)

Como especialista de ações sou diariamente desafiado a ter opinião sobre as empresas e sempre ter recomendações sobre as ações (compra ou venda), às vezes opiniões fora do consenso.

Porém, se a tese de investimento estiver equivocada ou mudar devido ao cenário e devido às mudanças na empresa, eu reconheço o meu erro e mudo a recomendação. Muitos analistas acabam ficando “presos” ao call e resistem para enxergar que as condições mudaram e que a recomendação não faz mais tanto sentido.

Errar faz parte do processo e a experiência de mais de uma década em análise de ações ajuda no aprendizado com as recomendações que não deram certo.

Por último, aprendi que nem sempre o call contrário funciona e o momento nem sempre é adequado nas decisões de investimento. Existem momentos em que é mais difícil ter uma opinião fora do consenso. Uma opção “fora do dinheiro” nem sempre está disponível e às vezes não fazer nada (ex: sem mudar a carteira recomendada) é a melhor decisão de investimento.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Compartilhe

Mais de Blog da Levante

Blog da Levante

Kit Brasil 2019

Chegou a hora de dar a minha perspectiva para o comportamento deles neste ano, com foco mais específico em ações, que é a minha especialidade, e no Kit Brasil 2019
Blog da Levante

Como assim, Marco Aurélio?

"Se o Supremo ainda for Supremo, minha decisão tem de ser obedecida, a não ser que seja cassada". A frase de Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, é de rara ambiguidade
Blog da Levante

A hora da virada

Em economia, muito se fala sobre ciclos econômicos (conseguiu visualizar uma imagem com as flechas para cada etapa?). E se existe um setor que tem fases bem definidas, são os ciclos imobiliários
Blog da Levante

Home bias

Sempre tenho uma busca por passagem no radar ou aproveito um feriado para conhecer um lugar diferente. É o meu maior incentivo para viver e investir cada vez mais