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A arte da opinião contrária

"Um investidor contrário ouve todo o tempo que ele está errado em apostar contra a corrente, e é preciso ter muito sangue frio para desconsiderar isso."
Por  Eduardo Guimarães
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Hoje eu continuarei falando sobre a minha experiência como analista de ações e darei um exemplo de uma recomendação contrária de uma grande empresa no setor de construção civil.

Antes de revelar qual foi a ação que eu recomendei VENDER, gostaria de explicar que no mundo da análise de empresas tudo é relativo. Assim, dentro do meu universo de cobertura de empresas era necessário e salutar ter recomendações de compra, manutenção e venda, ou seja, ordenar as empresas desde os melhores investimentos até os menos atrativos.

Além disso, os analistas são incentivados a terem um call fora do consenso de mercado, ou seja, contrário à opinião geral dos investidores.

Aqui, eu uso mais uma frase do sábio de Omaha, Warren Buffet:

“Tenha medo quando os outros estão gananciosos e tenha ganância quando os outros estão temerosos.”

Na minha última coluna, eu citei o famoso investidor Jim Chanos, que tem um fundo de investimento (o Kynikos) que ganha dinheiro operando vendido em ações, ou seja, apostando contra o resultado das empresas.

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“Um investidor contrário ouve todo o tempo que ele está errado em apostar contra a corrente, e é preciso ter muito sangue frio para desconsiderar isso.”

Portanto, uma recomendação contrária e fora do consenso pode ser considerada “errada” por um bom tempo antes dos fundamentos mostrarem a sua cara.

Não resisto e cito mais uma frase do Warren Buffet:

“Você só descobre quem está nadando nu quando a maré baixa.”

Agora eu vou direto ao ponto e contarei a minha história sobre a minha recomendação de VENDA das ações da PDG Realty (PDGR3).

A gigante e a queridinha do setor

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A PDG Realty já foi a maior empresa do segmento imobiliário do Brasil, com valor de mercado de R$ 11,6 bilhões no final de setembro de 2010 e as ações (PDGR3) representavam cerca de 2% do Ibovespa.

As ações (PDGR3) acumularam alta de 300% desde o início de 2009 até o final de 2012. Praticamente todos os analistas de mercado tinham recomendação de compra para as ações da PDG, inclusive este escriba (aqui faço o meu mea culpa).

Alguma coisa não estava cheirando bem

Durante o ano de 2012, a PDG estava enfrentando alguns problemas de estouro de orçamentos de custos de obras, aumento no endividamento e pressão nas margens. Entretanto, não era nada muito significativo e as ações da PDG tiveram desempenho em linha com o índice do setor imobiliário (IMOB) em 2012.

Nesse mesmo ano, o Conselho de Administração da PDG nomeou uma nova diretoria, com executivos de peso do mercado financeiro, que vieram da conceituada gestora de recursos Vinci Partners para os cargos de presidente geral e diretor financeiro.

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No final do ano, a Diretoria de Relações com Investidores da PDG convocou todos os analistas de mercado (sell side) que cobriam a empresa para uma apresentação sobre a estratégia futura da companhia na sede da PDG e discutir os números da empresa.

Saí desta reunião com a pulga atrás da orelha e achando muito estranho algumas informações, como por exemplo a margem dos projetos em construção.

A contabilidade do setor era uma caixa preta

Esse setor sempre teve uma contabilidade muito estranha, pois a demonstração de resultados (DRE) das empresas não conversava com o fluxo de caixa. Tudo era baseado num orçamento estimado das obras, praticamente uma caixa preta de avião – ninguém sabe o que tem lá dentro. Para explicar a contabilidade do setor eu precisaria de um livro.

A conta não fechava

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Durante a reunião na PDG eu perguntei bastante para a área de Relações com Investidores (RI) sobre os custos a incorrer da empresa e qual seria a margem dos projetos (em construção e ainda por iniciar a fase de obras).

Eu atualizei as minhas planilhas e as contas não fechavam: a margem futura dos projetos da empresa parecia alta demais. O RI insistia que os números estavam corretos e ficou “bravo” com as minhas observações e comentários, o que somente confirmou as minhas suspeitas.

Saí da reunião decidido a mudar a recomendação da PDG de COMPRA para VENDA no final de novembro de 2012. Eu fui o primeiro analista de mercado a recomendar VENDA nas ações da “queridinha” PDG Realty.

Uma recomendação contrária na prática

Desde o final de novembro de 2012 as ações da PDG apresentaram queda de impressionantes 98,9%, ou seja, praticamente viraram pó. O valor de mercado da companhia saiu de R$ 4,6 bilhões em nov/12 para cerca de R$ 42 milhões atualmente. O índice do setor imobiliário (IMOB) apresentou queda de 49% no mesmo período.

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Por último, como diria um amigo meu: “Analisar depois do fato é fácil, quero ver vender quando todos estão comprando”.

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