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Buy the dip

Estamos vivendo hoje o décimo ano da chamada recuperação global, após a grande crise financeira de 2008. Fomos "abençoados" com a rápida (e única) resposta dos Bancos Centrais à crise, que foi abaixar a taxa de juros até zero (e, em alguns casos, até patamares negativos) por muitos anos, o que criou um bull market bem artificial. Após todos esses anos, os sentidos de muitos fund managers foram anestesiados. Aliás, temos uma geração de gestores que nunca viram um bear market ou um crash na vida. Eu iria até um pouco mais longe, a ponto de sugerir que muitos tampouco viram duas ou três correções descentes nos mercados.
Por  Marcelo López
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

“All truth passes through three stages. First, it is ridiculed. Second, it is violently opposed. Third, it is accepted as being self-evident.” Arthur Schopenhauer

Estamos vivendo hoje o décimo ano da chamada recuperação global, após a grande crise financeira de 2008. Fomos “abençoados” com a rápida (e única) resposta dos Bancos Centrais à crise, que foi abaixar a taxa de juros até zero (e, em alguns casos, até patamares negativos) por muitos anos, o que criou um bull market bem artificial.

Após todos esses anos, os sentidos de muitos fund managers foram anestesiados. Aliás, temos uma geração de gestores que nunca viram um bear market ou um crash na vida. Eu iria até um pouco mais longe, a ponto de sugerir que muitos tampouco viram duas ou três correções descentes nos mercados.

Assim, a mera tentativa de correção é vista como uma boa oportunidade de entrada (compra), conhecida no mercado como “buy the dip”. Os seguidores dessa modalidade (vamos chamar assim) foram capazes de entregar bons resultados, porque cada pequena queda se mostrou uma verdadeira oportunidade de compra.

Esse tipo de movimento funciona até o dia em que ele para de funcionar. Parece uma tautologia, mas é justamente isso. De repente, várias pessoas que ainda não tiveram a experiência de passar por um bear market são expostas a perdas grandes em seus portfólios, à medida que eles percebem aquela pequena queda inicial como mais uma oportunidade de compra e usam mais recursos (às vezes alavancagem) para aumentar a exposição a ativos caros no pior momento.

De qualquer forma, a mensagem aqui é clara: ver cada uma das quedas como uma oportunidade de compra está se tornando uma estratégia extremamente perigosa e arriscada.

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E por que essa estratégia está se tornando cada vez mais arriscada? A resposta está no criador da bolha, aquele que a inflou a fim de tirar o mundo da crise gerada pela última bolha que ele mesmo havia inflado, a das hipotecas. Estou falando do FED, o Banco Central norte-americano e sua política de juro zero, que está chegando ao fim (pelo menos por enquanto).

O FED começou a subir a taxa de juros e a diminuir o tamanho do seu balanço, que ultrapassou US$4 trilhões, numa operação batizada QT – Quantitative Tightening.

QT é o oposto do QE (Quantitative Easing). E se o QE foi responsável pela alta nos preços das ações, baixos rendimentos dos bonds, o fim da volatilidade, queda na taxa de juros e aumento no apetite por risco, não seria inteligente de nossa parte achar que o movimento contrário (QT) não fosse trazer os efeitos inversos.

A verdade é que a inflação está saindo do controle – ontem tuitei sobre isso no fechamento do mercado (link) -, e ultrapassou a barreira dos 2,8%, bem acima do número mágico do FED de 2% e os juros devem continuar subindo.

É bom lembrar que os últimos crashes aconteceram em períodos em que o FED estava subindo as taxas de juros.

crashes

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Agora não é hora de catar moedas à frente do trator. Agora é hora de ter prudência e paciência. Ativos reais são um bom hedge contra a insanidade dos Bancos Centrais.

Marcelo López Marcelo López tem certificação CFA, é gestor de recursos na L2 Capital Partners, com MBA pelo Instituto de Empresa (Madrid, Espanha) e especialização em finanças pela principal escola de negócios da Finlândia (Helsinki School of Economics and Business Administration). Atuou como Gestor de Carteiras e de Fundos em grandes gestoras internacionais, tais como London & Capital e Gartmore Investment Management.

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