Gestora de fundos JGP ganha uma fortuna com títulos da Petrobras

A gestora carioca chegou a investir US$ 500 milhões em títulos de renda fixa da Petrobras negociados no mercado internacional – e lucrou milhões quando os juros pagos por esses papéis despencaram

João Sandrini

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(SÃO PAULO) – A gestora de fundos JGP, que tem como principal sócio André Jakurski, se transformou nos últimos anos na maior especialista do Brasil em investimentos em títulos de renda fixa negociados no exterior. Hoje a empresa tem US$ 800 milhões aplicados em “bonds” e só se transformou na líder brasileira nesse mercado porque desenvolveu um método para investir no exterior em títulos de renda fixa de empresas brasileiras tão boas quanto o Itaú ou a Sabesp e, mesmo correndo um baixíssimo risco de crédito, ainda garantir retornos bastante interessantes, como CDI + 4% ou CDI + 5% ao ano.

Nos últimos meses, a JGP chegou a colocar a maior parte de sua carteira de renda fixa internacional em “bonds” da Petrobras. Os juros desses papéis despencaram neste ano devido ao impeachment de Dilma, à nomeação de Pedro Parente para a presidência da estatal, aos cortes de custos e de investimentos, à recuperação dos preços do petróleo, à queda do dólar, às vendas de ativos e a um projeto em análise no Congresso que muda as regras de exploração do pré-sal.

Segundo Alexandre Muller, gestor de fundos de crédito, a JGP chegou a ter em Petrobras US$ 500 milhões de sua carteira total de US$ 800 milhões em “bonds”. Com a queda dos juros e da percepção de risco da estatal, esses papéis tiveram uma valorização espetacular. Muller diz não saber exatamente quanto a empresa ganhou com a queda das taxas, mas, segundo ele, os lucros obtidos com a Petrobras são o principal motivo para o fundo JGP Select FIC FIM Investimento no Exterior Crédito Privado ter alcançado um retorno de 140% do CDI neste ano.

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Mas o que a JGP faz que outras gestoras não fazem? Muller, que participou do XP Investor Day, evento promovido pela XP com assessores de investimentos, diz que há duas formas de investir em “bonds” no exterior. A forma mais comum é a gestora comprar “bonds” lá fora e depois fazer “hedge” da exposição cambial na BM&F. Como a compra de um título em dólar poderia trazer muita volatilidade ao fundo, o gestor “zera” sua exposição ao câmbio comprando um contrato conhecido como FRA de cupom cambial ou então vendendo contratos futuros de dólar. Dessa forma, se o dólar se desvalorizar contra o real, o fundo ganha com as posições na BM&F, e isso compensa a queda do valor do “bond” em reais. A JGP faz isso muito pouco porque mesmo com o “hedge” há oscilação na cota do fundo e há custos às vezes elevados para a montagem da trava cambial.

O que a JGP mais gosta de fazer é uma estratégia diferente e sofisticada de alavancagem. O dinheiro dos investidores dos fundos da JGP fica no Brasil aplicado em CDI, a principal referência para investimentos de renda fixa do país. Em seguida a JGP toma dinheiro emprestado no mercado americano de operações compromissadas (Repo) pagando juros de 1,5% ao ano – sim, o número está correto, é só 1,5% ao ano mesmo porque os juros estão muito baixos nos EUA. Logo em seguida a JGP compra títulos de boas empresas brasileiras negociados no exterior com juros bem maiores.

Por exemplo, recentemente a gestora comprou títulos do ABC Brasil, tido como o melhor banco médio brasileiro, que pagavam 6% ao ano. O resultado líquido dessa operação é 4,5% ao ano (6% – 1,5%) mais o CDI do dinheiro aplicado no Brasil. Na prática não há exposição cambial porque a JGP tem um ativo em dólar (os títulos do ABC Brasil) e uma dívida igual em dólar (as operações compromissadas). Ou seja, a JGP consegue uma taxa de juros comum a empresa de terceira linha comprando empresas de primeira linha.

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No caso da Petrobras, a gestora comprou títulos de prazo bem curto quando os juros estavam muito altos. O JGP Select chegou a comprar “bonds” com vencimento em 2017 que pagavam 12% ao ano de juros e que depois foram recomprados pela estatal com juros de 4,5%. Toda essa queda de juros levou a uma forte valorização dos papéis, gerando ganhos para a JGP.

Mas por que outras gestoras de fundos não fazem isso? A explicação é operacional. A gestora brasileira precisa ter um veículo offshore habilitado a montar esse tipo de operação no exterior. A escala também importa, já que pequenos investidores não vão conseguir tomar dinheiro emprestado a 1,5% ao ano. E a execução no mercado de “bonds” também é complexa. Há uma infinidade de “bonds” negociados nos EUA, mas, para não pagar spreads, o gestor precisa encontrar títulos comprados e vendidos no mercado de balcão que tenham liquidez nas duas pontas. Para se ter ideia da complexidade de sempre encontrar compradores e vendedores para os títulos, a JGP opera com 25 corretoras nos EUA.

Por último, Muller lembra que a JGP tem grande conhecimento de Petrobras, que tem títulos muito líquidos porque é a maior emissora de “bonds high yield” do mundo. “A JGP está no Rio e acompanharmos a empresa muito de perto. Temos um analista na JGP que cobre a Petrobras há 17 anos. Petrobras sempre dá oportunidade”, diz Muller.

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