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A Teoria do Valor Subjetivo sobre o Mercado de Arte

Na véspera da realização da 1a Mostra Cinema e Liberdade, a arte é o tema da semana. Para abordar esta questão, Leonardo Pavan, presidente do Insper Liber, nos brinda com esta belíssima reflexão acerca do valor subjetivo de um bem como uma obra. Para isso, resgata um conceito originado por Carl Menger, o pai da Escola Austríaca, que promete lhe fazer enxergar essa questão contemporânea sono uma nova perspectiva. Boa leitura! 
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Nos primórdios das relações comerciais, todas as interações mercantis eram baseadas na simples permuta, inexistindo unidades monetárias e baseando como único fator determinante de valor (no caso, o próprio custo) a quantidade de trabalho e/ou tempo dedicado à obtenção dos produtos ali trocados. Esta visão e prática simplista utilizada ao longo de séculos até o surgimento de mecanismos de escambo mais complexos foi corroborada por Adam Smith na determinação do valor objetivo. Smith, por exemplo, narrou a estória de um caçador que estaria disposto a trocar um castor por dois cervos se o primeiro animal exigisse o dobro do trabalho de caça do segundo (A Riqueza das Nações, 1776). De modo mais afirmativo, Karl Marx fez críticas ao capitalismo através da mesma abordagem: todo valor de um bem é derivado do trabalho empregado em sua produção (chamada Teoria do Valor-Trabalho). Desse modo, todo o “lucro” obtido por parte dos proprietários dos meios deprodução poderia ser visto como a simples usurpação do lavor de seus empregados, caracterizando, portanto, um modo de “exploração do trabalhador”(O Capital, 1867). Seguindo tal linha lógica, Karl Marx justifica e legitima o direito dos operários sobre tudo que fosse produzido através de seu empenho.

Apesar da Teoria do Valor ter sido refutada há mais de um século, especialmente por desconsiderar a subjetividade da demanda na formação dos preços, ela foi aceita e endossada por diversos economistas clássicos até o desenvolvimento de modelos modernos de precificação (nos quais o valor de troca divergirá do custo).

Desse modo, no final do século XIX, a Teoria da Utilidade Marginal é formalizada, considerada por James Buchanan (Custo e Escolha: Uma Indagação em Teoria Econômica; 1969) o “nascimento do cálculo econômico”. Ao usar a utilidade marginal como um dos determinantes do valor de determinado produto, o novo modelo equaliza a demanda subjetiva do mercado e a oferta fixa no ponto de troca. Além disso, considera-se que os valores seriam fixados à margem, ou seja, solve-se o paradoxo dos diamantes serem mais caros que água. Esse paradoxo era uma das grandes questões na economia, uma vez que se considerarmos a utilidade comparativa proporcionada pela água e por diamantes, o bem Elemental teria um valor muito superior ao da pedra preciosa, sendo aqui introduzido alguns dos fatores importantes na precificação, como a escassez dos produtos. Ao considerar os fatores mercadológicos além do custo, têm-se a chamada “economia do valor subjetivo”, posto que não apenas adeterminação objetiva do custo seria a responsável por designar o valor de troca de certo produto. Um dos primeiros a defender ativamente o subjetivismo das trocas, Carl Menger – que estabeleceu a Escola Austríaca de Economia, contesta o Valor-Trabalho e expõe diversas inexatidões da mesma. Utilizando como exemplo a definição de preço das obras de arte, ao considerar que, ao ver a beleza destas, insurge o desejo de possuí-las e desse modo, torna-se impossível precifica-las somente pela quantidade de trabalho ali investida ou dos insumos utilizados para sua produção. Além disso, têm-se aqui também uma das maiores inversões do pensamento econômico: o valor dos insumos (matéria prima e mão de obra) passou a ser definido pelo valor dos bens que fizeram uso dos mesmos em sua elaboração, e não o inverso, como acreditava-se até então; assim sendo, a remuneração de determinada função ou insumo físico passa a ser um resultado do valor agregado ao bem final (um móvel de madeira não é valido pelo trabalho do carpinteiro, mas sim pela beleza, durabilidade, função ou qualquer outro atributo que gere utilidade para o consumidor).

Historicamente, o desenvolvimento de grandes pintores, escultores e artistas de modo geral se deu através de patrocínios prévios à produção de suas obras, por parte dos Mecenas. O valor de suas produções artísticas era determinado após a execução da mesma, e não era um resultado (ao menos direto) do tempo ou esforço empregado para produção da mesma. Exatamente por esse motivo a precisão do argumento utilizado por Menger para transpor a Teoria do Valor Subjetivo para o mercado como um todo.

A despeito de ser um dos pilares de desenvolvimento da nova teoria de precificação, os conceitos de determinação do valor das obras de arte estão longe de ser consenso entre especialistas. O centro da discussão parte de duas diferentes teorias: a denominada Instrumentalista e sua contraposição Não-Instrumentalista. A primeira afirma que uma peça artística nada mais é que um instrumento destinado a proporcionar prazer a seus apreciadores, visão esta criticada por filósofos de arte, já que nem todas se destinam a gerar deleite, além de menosprezar outros sentimentos igualmente importantes ao apreciar uma obra. Em oposição, os Não-Instrumentalistas vêm como determinante de valor os componentes intrínsecos da obra, numa visão quase Parnasiana (“A Arte pelaArte”), na qual a estética pura (por isso denominado “Esteticismo”) é o fatordeterminante e também o único propósito em se produzir e transacionar obras artísticas; grande parte do embasamento do valor intrínseco parte da filosofia Kantiana, na qual a contemplação da arte é o fim dela mesma, não almejando atingir objetivos ou finalidades maiores, sejam elas práticas ou teóricas. Além disso, o debate acerca do modo de precificação das obras de arte se estende além do mundo artístico e atrai importantes acadêmicos de diversas áreas, como o filósofo político Robert Nozick, em Philosophical Explanations (1981). Apesar de não tratar como objeto de estudo central, menciona como a arte deveria ter seu valor analisado de forma intrínseca, dando como exemplo as diferentes composições de um quadro e do valor agregado através da utilização cores, temas e camadas.

Atualmente, é comum calcular o valor de projetos artísticos e arquitetônicos embasado apenas na quantidade de horas dedicadas ao mesmo, seja na execução, planejamento ou discussão, na tentativa de tornar objetivo algo que por sua própria natureza é subjetivo: a opinião. Assim, é óbvia a necessidade depropagação da Teoria “Austríaca” de Valor, retomando o modo de precificação subjetivo e valorando de modo correto as produções artísticas no Brasil.

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Leonardo Pavan é aluno de Administração pelo Insper e presidente do grupo acadêmico Insper Liber.

 

Bibliografia:

HORWITZ, Steve. A Teoria do Valor Trabalho ainda assombra a humanidade e segue causando estragos. Disponível em: <http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2540>. 24 Out. 2016.
BUCHANAN, James. Custo e Escolha: Uma Indagação em Teoria Econômica. São Paulo. Inconfidentes. 1993.
CONSTANTINO, Rodrigo. O Valor Subjetivo. Disponível em: <http://rodrigoconstantino.blogspot.com.br/2007/04/o-valor- subjetivo.html>. 25 Abr. 2007.
ALMEIDA, Aires. Filosofia: Uma Introdução por Disciplinas. São Paulo. EDIÇÕES 70 – BRASIL. 2012.
MATEUS, Paula. O Valor da Arte. 2015.
NOZICK, Robert. Philosophical Explanations. Boston. Belknap Press. 1981.

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