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Perspectivas para o governo Temer e impactos na bolsa

Os quatro pontos que irão determinar o sucesso ou fracasso da nova gestão
Por  Celson Placido
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

SÃO PAULO – Com a aprovação da admissibilidade do processo de impeachment pelo Senado, afastamento da atual presidente e, posteriormente, a provável definição do senado a favor do impedimento, o próximo evento para se monitorar é o governo de transição de Michel Temer. As variáveis à serem satisfeitas nesse novo governo serão cruciais para os preços dos ativos brasileiros.

O grande desafio atual é a questão fiscal, uma vez que a trajetória das contas públicas é explosiva, sendo essencial reverter as projeções de déficits fiscais para superávits nos próximos anos. O esforço necessário para se retornar a um quadro de superávits tem uma proporção grande, e deverá ser feito não só por Temer, mas por seu sucessor. Alguns pontos devem ser monitorados nesse início de governo, por serem essenciais para determinar um eventual sucesso ou fracasso da nova gestão: 1) A formação da coalização para governar; 2) A montagem da equipe econômica; 3) O confronto de movimentos sociais; 4) Lava-Jato.

1) Coalizão

A alternância de poder concede munição para a nova gestão, dado que diversos cargos do governo anterior geram espaços para serem preenchidos. Além disso, projeções otimistas contemplam que os votos favoráveis ao impeachment seriam de Temer, no entanto, a sinalização de corte de ministérios para “cortar na carne” pode limitar apoio de alguns grupos. Acreditamos que o apoio para as reformas pode surpreender. Só o fato do novo governo não sofrer discordâncias dentro do seu próprio núcleo (fogo amigo) já é uma grande vantagem. Já a oposição, tem relevante interesse que as reformas sejam aprovadas o quanto antes, dado que o custo político permaneceria no governo Temer, e grande parte do benefício fica com o próximo governo. O fato do novo presidente não adotar uma postura tão centralizadora quanto Dilma também deve favorecer seu governo.

2) Equipe Econômica

Com o afastamento de Dilma, a agenda econômica tende a ser o novo foco de atenção, e para isso, Temer aparenta já ter um equipe bem encaminhada, com Henrique Meirelles como novo Ministro da Fazenda. Essa mudança traz uma ideia de ruptura na forma atual de condução da economia, caminhando em uma direção mais consciente na parte fiscal e nas reformas necessárias. Tudo indica que nomes fortes e de agrado do mercado, devem compor o time do Banco Central. Com relação à Reforma da Previdência, uma das mais urgentes, há sinalizações de que deverá ser encaminhada para o Congresso ainda em 2016, em demonstração de compromisso com a questão fiscal. Essa sinalização é essencial, pois na ausência de reformas, a melhora da confiança poderá não se concretizar.

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3) Movimentos Sociais

A capacidade de mobilização do PT e dos movimentos sociais nas ruas não é desprezível, mas tem perdido muita força ao longo do tempo. O potencial de “parar o país” já é duvidoso e só poderá ganhar uma força mais expressiva se Temer errar de maneira grotesca nesse governo de transição. Além disso, grupos dentro do PT já começam a sinalizar uma compreensão maior sobre a urgência de algumas reformas, podendo, ao menos, reduzir as resistências.

4) Operação Lava Jato

A operação seguirá com alto potencial desestabilizador para o governo, levando em conta que diversos nomes importantes do governo estão ligados as investigações. A tendência é que a operação prossiga, mas sem seu protagonismo atual. Mas aqui entra o imponderável.  

Portanto, é necessário um pacto nacional em torno de uma agenda mínima necessária para estabilizar a dívida pública como proporção do PIB. Assim, poderemos ter uma volta cíclica da economia e um fôlego maior para mais avanços estruturais que se traduzam em crescimento econômico de longo prazo. Os acertos na largada são, portanto, essenciais. Encurtam o caminho para a normalidade e aumentam suas chances. O lado bom disso tudo é que, aparentemente, o time de Temer compreende isso. Nesse sentido, o novo governo deve ter início com um otimismo dos agentes, semelhante ao ocorrido com Macri na Argentina, e ainda com a vantagem de que em 2015 ocorreram ajustes impopulares, como o aumento de tarifas represadas, e a forte desvalorização do câmbio. As consequências sobre a população via inflação e mercado de trabalho já chegaram. Ao contrário de um possível governo de Aécio, a população já associou o momento atual ao governo Dilma. A percepção de que ocorrerá uma melhora na parte fiscal deve diminuir o risco país, levar para baixo a expectativa de inflação e das taxas de juros no mercado. Também podem surgir sinais positivos no mercado de trabalho e no mercado de crédito privado, além de uma maior atração de capitais estrangeiros. Porém, é importante destacar que o caminho será tortuoso e sujeito a altas volatilidades, sem muita margem para erro.

Cenários para a Bolsa:

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a) Cenário Base: Bolsa em 58 mil pontos

A probabilidade, ao nosso ver (área de análise da XP Investimentos), é do Ibovespa atingir 58 mil pontos, probabilidade de 50% nos nossos cenários. Isso representa 10% de upside em relação ao nível de hoje, dia 12/05.

b) Melhor Cenário: Bolsa acima de 70 mil pontos – Probabilidade de 35%.

Se de fato as variáveis acima forem satisfeitas, isto é, uma equipe econômica e ministerial de peso, formação de maioria no congresso, sinalização rápida quanto às reformas e mudança nas perspectivas com relação a trajetória da dívida brasileira, poderemos observar uma melhora rápida nas expectativas/confiança dos agentes econômicos, que se refletirá nos ativos da bolsa brasileira. Fazendo um exercício para estimar um possível ponto de chegada do Ibovespa nesse cenário, simulamos uma revisão de lucro das empresas que compõe o índice, que atualmente estão nos menores patamares dos últimos anos, para níveis do ponto alto do ciclo de expansão econômica e confiança (consumidor/empresários) recentes, 2010-2011. Fazendo esse ajuste, observaríamos uma descompressão do múltiplo Preço/Lucro da bolsa para cerca de 8x. Tomando como base o múltiplo médio da bolsa nos últimos anos (11x) e realizando essa correção, estaríamos falando em um Ibovespa negociando a cerca de 73mil pontos. Lembrando que trata-se de um exercício para estimarmos um ponto de chegada no médio/longo prazo.  

c) Pior Cenário: Bolsa entre 40-45 mil pontos. Menor probabilidade – 15%.

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Se o governo de transição se mostrar um fracasso, não conseguir construir uma maioria no congresso, sem sinalização de reformas críveis e sem mudança nas perspectivas com relação à trajetória da relação dívida bruta/PIB do país, poderemos observar uma deterioração nas expectativas e confiança dos agentes econômicos, sem uma solução crível para a retomada da atividade econômica e melhores níveis de endividamento. Nesse cenário, poderia ocorrer uma correção no múltiplo atual da bolsa (12,7x) para níveis médios históricos (11x) ou até menores, nesse caso utilizaremos o desvio-padrão inferior (cerca de 9,7x). Isso seria equivalente ao Ibovespa negociando entre 40-45 mil pontos.

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