Os economistas de Temer não são de Temer
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Bolsonaro quer manter integrantes do governo Michel Temer na equipe econômica. É o caso de Mansueto Almeida, Marcos Mendes e Ilan Goldfajn, segundo a imprensa. Muitos reclamaram, até eleitores do capitão, mas não é como se ele tivesse chamado Romero Jucá para o governo.
Os três economistas mais cogitados para o novo governo tem história própria, muito respeito entre os colegas de profissão e uma trajetória sem esquemas de corrupção. São técnicos, generais quatro-estrelas da economia.
Os economistas cogitados para seguir no governo não dependem de Temer
No caso de Mansueto, uma curiosidade: provavelmente se trata do primeiro cotado para o governo Bolsonaro que se considera de “mais de esquerda do que de direita”, conforme declarou em entrevista à Época. Apesar de militar no lado liberal de grande parte dos debates, ele assume o rótulo porque “acredita muito que é papel do Estado fazer distribuição de renda”.
No início da década, Mansueto reparou que havia algo estranho nas contas do governo. Passou a escrever sobre o assunto no seu blog, ganhando a atenção de boa parte da comunidade de economistas. Foi um dos primeiros a denunciarem o que era então chamado de maquiagem fiscal – inclusive as famosas pedaladas.
Conforme as barbeiragens de Dilma ficavam mais evidentes, o nome de Mansueto só cresceu. Após o impeachment, foi um dos primeiros nomeados por Meirelles, inicialmente na Secretaria de Acompanhamento Econômico, passando em seguida para a poderosa Secretaria do Tesouro, onde ele está hoje.
Mansueto não precisou de Temer para ser conhecido. Pelo contrário, Temer precisou dele para sinalizar que a bagunça dos anos Dilma estava acabando.
Marcos Mendes é outro com ideias próprias, nem sempre semelhantes às de Bolsonaro. Em seu último livro, entitulado “Por que o Brasil Cresce Pouco”, Mendes atribui o baixo crescimento da Nova República a uma herança maldita governo militar, em combinação com a alta desigualdade. Com elogios de Marcos Lisboa e Samuel Pessôa, o livro é frequentemente citado como referência para entender a situação do país.
Ilan Goldfajn foi bem sucedido nas suas duas passagens pelo governo. Entre sua última passagem como diretor do BC e o atual mandato como presidente, foi economista-chefe do Itaú, cargo de indiscutível importância.
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No início de 2018, Ilan foi apontado como Banqueiro Central do Ano por uma famosa revista estrangeira. O jornal britânico Financial Times escreveu em 2017 um pequeno perfil sobre ele, descrevendo-o como “uma cabeça fria para crises”, dado o sucesso em estabilizar tanto a recessão dos anos Dilma quanto a incerteza enfrentada nos tempos de implantação do tripé macroeconômico.
O economista como soldado
Para um economistas, participar do governo não implica em concordância com o presidente. Ser chamado para uma equipe econômica é uma honra universalmente reconhecida, mesmo quando o presidente é um canalha. É uma oportunidade de servir ao país.
Caso aceite participar do governo Bolsonaro, Ilan Goldfajn trabalharia para o quarto presidente diferente – ele foi diretor do BC entre os governos FHC e Lula e presidente no governo Temer. Não faz sentido descrevê-lo como ideologicamente ligado a PT, Bolsonaro, MDB e PSDB ao mesmo tempo.
Joaquim Levy participou dos governos Lula e Dilma sem jamais deixar de ser um Chicago Boy. Marcos Lisboa é outro liberal de peso que participou do governo Lula e não pode ser chamado de petista.
Pérsio Arida e André Lara Resende foram economistas do governo Sarney, durante o Plano Cruzado, o mais simbólico dos fracassos no combate à inflação. Depois, formularam o bem sucedido Plano Real, sob FHC, com princípios bem distintos do Cruzado.
Certamente há economistas umbilicalmente ligados a certos políticos. Guido Mantega, por exemplo, é um petista de carteirinha. Mauro Benevides, fiel escudeiro de Ciro Gomes na campanha presidencial, é outro ligado ao mesmo grupo político há muitos anos.
Não é o caso de Mansueto, Mendes ou Ilan. Os três possuem ideias próprias, uma história já respeitável antes de serem chamados por Temer e provavelmente se importam pouco com o partido do presidente.
Se Temer é acusado de corrupção, eles não tem nada a ver com isso. Mesmo os resultados da economia estão condicionados à conjuntura política que o presidente entregou. O trabalho dos três deve ser avaliado independentemente, observando-os como indivíduos, inclusive porque conquistaram esse respeito ao longo das suas carreiras.
Seria bom se Bolsonaro ignorasse as críticas, mantendo os três em seus cargos. Mas bom mesmo seria garantir condições de trabalho aos três, assim como a aprovação de projetos no Congresso.
Durante o período de Pedro Malan e Antonio Palocci na Fazenda, o Brasil teve diversos economistas desse tipo no setor público: profissionais de competência reconhecida, com história e ideias próprias. Deu certo. Temer tentou nos recolocar nesse rumo, mas governou em meio a turbulências. Se Bolsonaro seguir o mesmo caminho, começará o governo com o pé direito.