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Virada que Haddad precisa só tem um precedente em 20 anos

Analisando todas as eleições para presidente, governador e prefeito desde 1998, uma virada como a que Haddad precisa ocorreu apenas uma vez, numa eleição para prefeito na qual o PT foi derrotado. Mas os contextos eram bem diferentes.
Por  Pedro Menezes
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Para vencer as eleições, Fernando Haddad precisa de uma virada que ocorreu apenas uma vez desde 1998, considerando todas as eleições majoritárias – para prefeito, governador ou presidente.

Esse foi o resultado de um levantamento realizado pelo blog a partir da base de dados do CEPESP-FGV, considerando todos os resultados eleitorais disponíveis, desde 1998.

A dificuldade da virada de Haddad se dá por um motivo duplo: Bolsonaro foi o primeiro colocado do 1º turno com uma votação respeitável, 4% abaixo do necessário para ter a maioria dos votos; como se não bastasse, o candidato do PT teve apenas 29% dos votos válidos, o que leva a uma diferença considerável.

Há apenas um caso de candidato que venceu o segundo turno nessas condições depois de ter menos de 30% dos votos no primeiro e ver seu adversário com mais de 45%. Foi justamente uma derrota do PT, nas eleições municipais de Santo André em 2008.

Dentre as eleições para governador, o caso mais próximo é a vitória de Jackson Lago sobre Roseana Sarney no Maranhão, em 2006. Mas Lago teve 34% dos votos no primeiro turno, 5 pontos percentuais a mais do que Haddad em 2018.

Eleições presidenciais: quem pontuou como Bolsonaro no primeiro turno, acabou eleito com larga vantagem

Analisando todas as eleições presidenciais desde 1989, a virada que Haddad precisa para ser presidente nunca ocorreu. O histórico é o seguinte:

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  • Fernando Collor (1989): 30,5% no 1º turno e 53% no 2º
  • FHC (1994 e e 1998): eleito sem necessidade de segundo turno
  • Lula (2002): 46,4% dos votos no 1º turno e 61,3% no 2º
  • Lula (2006) 48,6% dos votos no 1º turno e 60,8% no 2º
  • Dilma (2010): 46,9% dos votos no 1º turno e 56% no 2º
  • Dilma (2014): 41,6% dos votos no 1º turno e 51,6% no 2º
  • Bolsonaro (2018): 46% dos votos no 1º turno

Os candidatos com votação mais próxima à de Bolsonaro no 1º turno venceram o 2º por larga margem. Dilma teve 12 pontos percentuais de vantagem sobre Serra em 2010, Lula venceu 2002 e 2006 com mais de 20 p. p. de vantagem.

Esse levantamento foi publicado em alguns órgãos de imprensa assim que saiu o primeiro turno, mas tem um problema: a amostra de 6 segundos turnos presidenciais é muito pequena.

Daí me veio a dúvida: no caso das eleições para governador, a virada que Haddad precisa já ocorreu? Fui à base de resultados eleitorais do CEPESP-FGV e descobri que não.

Nas eleições para governador, nenhuma virada semelhante desde 1994

Desde 1998, ano dos primeiros resultados disponíveis, 12 candidatos a governador perderam a eleição depois de alcançar 45% ou mais dos votos no primeiro turno, como Bolsonaro.

O problema é que, em 10 dessas 12 derrotas, outro candidato também fez mais de 45% dos votos. São casos como a disputa pelo governo cearense em 2014: Eunício Oliveira perdeu a eleição fazendo 46,4% dos votos no primeiro turno contra 47,8% de Camilo Santana. Portanto, são exemplos que não lembram o de Haddad.

Nos 2 casos restantes, o segundo colocado do primeiro turno teve um percentual superior aos 29,3% de Haddad.

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Robinson Faria teve 42% dos votos no primeiro turno das eleições para governador do Rio Grande do Norte em 2014, alcançando a virada sobre Henrique Eduardo Alves.

Jackson Lago derrotou o domínio histórico da família Sarney alcançando 34,4% dos votos no primeiro turno, contra 47,2% de Roseana Sarney. No segundo turno, Lago venceu Roseana por 51,8% a 48,2%.

Desde 98, portanto, a virada que Haddad precisa não ocorreu em nenhuma eleição para governador.

No Twitter, alguns seguidores lembraram a eleição para o governo mineiro em 1994, que não consta na base de dados da FGV. No primeiro turno, Eduardo Azeredo teve 27,2% dos votos contra 48,30% de Hélio Costa. A virada veio no segundo, quando Azeredo chegou a 58,7% e viu o adversário cair para 41,3%.

E no caso das eleições municipais, que possuem amostra muito maior? A base da FGV inclui todos os resultados desde 2000 e também permite essa análise.

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Eleições municipais: o único precedente

Nos últimos 5 pleitos, cerca de 90% dos candidatos que fizeram mais de 45% dos votos no primeiro turno foram eleitos. Esse número ainda é exagerado para se comparar com o caso Haddad x Bolsonaro, pois desconsidera a votação do segundo colocado.

Considerando a votação do primeiro e segundo colocados no 1º turno, há apenas uma virada comparável à que Haddad precisa.

No total, 4 candidatos perderam a eleição após saírem do primeiro turno na situação de Bolsonaro, como líderes com mais de 45% dos votos.

No mesmo período, 23 candidatos venceram a eleição após terminarem o primeiro turno na segunda colocação, com menos de 30% dos votos, como ocorreu com Haddad.

Só há um caso de intersecção: as eleições para prefeito de Santo André em 2008. Essa foi a única virada que encontrei na base de dados e se assemelha com a que Haddad precisa. E o derrotado foi justamente um petista.

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Naquele ano, Vanderlei Siraque (PT) terminou o primeiro turno com 48,9% dos votos, contra 21,8% do candidato Doutor Aidan (PTB). Portanto, foi uma virada ainda maior do que a necessária para Haddad: no segundo turno, Aidan venceu por 55% a 45%, com diminuição do percentual de votos válidos conquistados pelo adversário.

Vale ressaltar que as viradas mais parecidas para governador e prefeito – os casos do Maranhão em 2006 e de Santo André em 2008 – tiveram como derrotado um candidato da situação, cujo grupo político estava há anos no poder e era rejeitado a ponto de toda a oposição votar unida. Foi o caso da dinastia Sarney e dos 12 anos do PT à frente da Prefeitura de Santo André.

Em outras palavras, um outsider nunca sofreu uma virada desse tamanho, nem para prefeito e governador.

A virada de Haddad seria extremamente improvável e histórica. Se o Brasil fosse um país pouco surpreendente, já dava pra cravar a vitória de Bolsonaro.

Pedro Menezes Pedro Menezes é fundador e editor do Instituto Mercado Popular, um grupo de pesquisadores focado em políticas públicas e desigualdade social.

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