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Qual é o saldo político das manifestações pró-Bolsonaro?

Bolsonaro cumpriu seu papel ao colocar muita gente na rua e mostrar que tem apoio. Os atos, porém, indicaram possibilidade de uma crescente dependência da popularidade do ministro Sérgio Moro
Por  XP Política -
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A temporada 2019 de protestos, que foi aberta dias atrás por estudantes contra os cortes na educação, teve ontem outro capítulo: manifestações a favor do presidente Jair Bolsonaro.

Convocadas inicialmente pelo próprio presidente em período que coincide com o da ofensiva contra seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), por parte do Ministério Público do Rio de Janeiro, o caráter inicial das convocações nas redes sociais era contra o establishment político, personificado no presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o STF (Supremo Tribunal Federal) e aqueles que querem “derrubar” Bolsonaro.

Terminou com o próprio Bolsonaro tendo que direcionar o apoio das manifestações para a agenda do ministro Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública), reforma da previdência, assuntos da pauta do governo. Compra quem quiser que a agenda central era essa.

Algumas reflexões são necessárias depois dos atos de domingo:

1. Entender Bolsonaro e as narrativas que o envolvem é importante, mas cada vez mais é também entender o prazo de validade delas e como funciona a cabeça do presidente. Pelo controle do discurso do dia, ou para estar no centro das redes mesmo que seja a base do “falem mal, mas falem de mim”, tem valido quase de tudo: do vídeo publicado no carnaval aos protestos de ontem, o intuito é sempre dominar uma agenda ou discurso no curto prazo. Estamos vivendo o período da política em 280 caracteres.

2. O fato concreto: Bolsonaro cumpriu o papel ontem. Colocou gente na rua e mostrou que tem apoio. Nada muito impressionante, mas tampouco muito diferente do que se esperava, e uma coisa chamou a atenção: Sérgio Moro e a dependência que logo mais Bolsonaro pode vir a ter da popularidade do ex-juiz. Uma parte importante dos manifestantes de ontem tinha Moro e seu pacote contra a corrupção como bandeira. É evidente que, para parte importante dos apoiadores de Bolsonaro, Moro está para o combate à corrupção como Paulo Guedes está para a economia. Guedes e Moro não só tocam uma agenda no país hoje, mas, em grande medida, personificam ela. Em Brasília o “super-Moro” gigante inflado em frente ao Congresso Nacional deu face a isso, inclusive.

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3. Não parece caber mais a pergunta “mas então o presidente vai usar os atos para distensionar a relação com o Congresso, ou vai dobrar a aposta e manter algum nível de conflito?”. Não será binária a situação. Bolsonaro vai manter distensionamentos e tensionamentos constantes, é assim que ele faz política. Não se pode dizer que Bolsonaro não mantenha sua coerência e o discurso de campanha, e, mesmo quando quis sair disso e negociou dois ministérios com Maia e Alcolumbre, sua ala ideológica no governo e família trataram de o lembrar de que ele, ao menos em público, não pode aparecer fazendo isso.

4. Rodrigo Maia e aliados na Câmara e Senado certamente acompanharam atentamente o movimento nas redes e nas ruas. Não é razoável afirmar que foi intimidador o protesto de ontem e que o Congresso sentiu muita pressão, o que faz os olhos se voltarem para como a política vai tratar o fato de os apoiadores do presidente em manifestação que ele mobilizou e que contou com instrumentos de convocação aparentemente não só voluntários. Nossa aposta: em poucos dias, o Congresso deve tratar de superar isso e seguirá sua agenda. O problema é que parte dos parlamentares pode ter ganhado convicção mais forte da necessidade de criar dores de cabeça e limitar poderes do presidente da República.

5. E a reforma da previdência? Maia, ao assumir a responsabilidade pela aprovação na Câmara, acabou por criar uma cortina de fumaça que ontem foi reiterada com o enxerto do assunto nas manifestações. Nem Maia tem tanto poder sozinho, nem as manifestações apoiam tanto assim a reforma, que segue como antes: sem governo articulando aprovação, e sem votos. Ainda assim, acreditamos na aprovação. Não convém, tampouco, ignorar que perturbações externas caudadas por ruas ou pelo governo podem ter efeito ruim na economia esperada/timing da reforma.

6. Vida que segue, depois das manifestações pró-Bolsonaro de ontem, organizações estudantis prometem fazer outra no próximo dia 30.

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