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O teste do Marshmallow e o fim da previdência

A previdência é o grande desafio do novo governo. O modelo praticado até hoje gerou desigualdades sociais e beneficiou o setor público. Esse artigo procura iluminar essa questão e trazer o leitor para a reflexão sobre o tema. Previdência pública é realmente necessária? 
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Alexandre Luiz de Oliveira Serpa
Associado do IFL-SP, doutor em Avaliação Psicológica

Você já ouviu falar do teste do Marshmallow¹? Nesse experimento da década de 60/70, um pesquisador pede a uma criança que escolha entre receber um doce imediatamente ou dois se ele esperar seu retorno após uma breve saída. É claro que aguardar é a melhor escolha. Afinal, é um investimento pequeno para ter o dobro do retorno.

Agora imagine um segundo experimento no qual o pesquisador pede que você escolha entre receber dois doces imediatamente ou ficar com um e ganhar o outro só quando ele retornar. Aqui a escolha óbvia é receber os dois doces de uma vez, pois o investimento em esperar não trará nenhum benefício futuro (afinal, você ganhará os mesmos dois marshmallows). Além de não haver incentivo, existe ainda o risco do pesquisador não voltar.

Substitua o pesquisador pelo governo e você terá um esquema para entender o que é a previdência pública.

Há uma conta bem conhecida de que o custo de um trabalhador (incluindo todos os impostos) é de duas vezes o seu salário. Ou seja, o custo total daquela vaga de emprego para o empregador é de dois doces, um para o trabalhador e outro para o governo. Esse segundo doce é usado para custear a existência do Estado, incluindo aí a previdência pública.

Muitos dizem que esse dinheiro retornará a você ao se aposentar. Logo, seria uma reserva para garantir uma “velhice tranquila”. Mas será verdade?

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A situação da previdência é mais grave do que parece. O déficit global da previdência cresceu 327% em 10 anos. E chegará próximo a 300 bilhões de reais em 2018. Se nada for feito, essa conta se tornará impagável. Já em 2019 a previdência consumirá três vezes mais recursos que a soma da saúde, educação e segurança².

E a perspectiva é que a situação piore ainda mais. A população brasileira – incluindo nós – está envelhecendo e não haverá ninguém para pagar a conta. Em 20 anos, a população de idosos será maior do que a de jovens e a expectativa de vida superará os 80 anos de idade. Portanto, é preciso usar a lógica para perceber que a atual proposta de mudança da idade mínima da aposentadoria é apenas uma correção e não um aumento da faixa.

O esquema da previdência é um cheque sem fundos. Gastamos muito mais do que arrecadamos. Os problemas se devem a desigualdades estruturais do sistema, materializada nos privilégios que os aposentados pelo setor público possuem. A principal barreira à reforma não é a perda de direitos do trabalhador, mas a luta de grupos pela manutenção de seus privilégios. A previdência é, na realidade, uma política de reprodução e perpetuação da desigualdade social.

É por isso que a reforma da previdência não é mais uma opção. É uma obrigação. Que, se negligenciada, pode levar o Estado brasileiro a falência. Não basta que venha qualquer reforma: é preciso que ela inclua o fim das aposentadorias integrais, a adoção de regras iguais para todos e o fim da paridade entre servidores ativos e inativos.

A solução ideal passa, na verdade, pela extinção da previdência pública. Afinal, qual a necessidade dela existir? Bancos e instituições financeiras oferecem diversos produtos que podem ser mais interessantes para o trabalhador. Por que não dar a liberdade para que ele escolha se quer ou não se aposentar? Ao tornar compulsória a contribuição, o governo federal simplesmente impõe o seu planejamento previdenciário a todos os indivíduos.

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Essa prática impositiva é o que o economista e filósofo austríaco Ludwig von Mises chamava de planejamento central. Em seu livro “As seis lições”, ele explica que essa política impede todo planejamento de uma pessoa, restringindo sua liberdade de escolher como deseja gerenciar sua vida. Ao limitar a liberdade de ação do indivíduo, diminui sua capacidade de ação e, inclusive, sua capacidade de mudar seu status social e ascender socialmente.

O teste do Marshmallow foi originalmente concebido para avaliar a capacidade de uma criança esperar para receber uma recompensa futura. As que conseguem possuem esquemas mentais que os ajudam a ter sucesso na vida. Ao conhecer a organização da previdência no papel, esses esquemas mentais são ativados e entendemos como um bom negócio. Por isso, quando somos apresentados a realidade da previdência tentamos justificar nossa incapacidade de avaliá-lo como ruim com o discurso da perda de direitos. Mas, ao invés de insistir nesse erro, será que já não está na hora de você decidir o que fazer com os dois doces, ao invés de sermos obrigado a dar um para o governo?

[1] Mischel, W. (2014). The Marshmallow Test: mastering self-control. New York, NY: Little, Brown and Co.

[2] Os dados foram compilados pelo Insper: https://www.insper.edu.br/conhecimento/conjuntura-economica/reforma-previdencia-brasil-em-graficos/

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