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Greve dos caminhoneiros: veja o quanto você vai pagar por essa conta

A greve dos caminhoneiros deixará péssimas consequências econômicas e sociais para a sociedade inteira, além do inferno que se tornou a vida do cidadão comum após a crise de abastecimento. Por baixo, o PIB crescerá 0,41% a menos (de 2,34% para 1,93%), o que significa uma queda na renda de 26 bilhões de reais para o país.
Por  Alan Ghani
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

A greve dos caminhoneiros deixará péssimas consequências econômicas e sociais para a sociedade inteira, além do inferno que se tornou a vida do cidadão comum após a crise de abastecimento.

De um lado, a esquerda se infiltrou na greve para derrubar o governo e cooptar uma classe altamente estratégica para o controle do país: os caminhoneiros. Do outro, parte da direita apostou no caos para derrubar o governo e, finalmente, fazer uma revolução popular, na qual seus interesses fossem atendidos. Enquanto uns exigiam o fim da regalia estatal e a redução dos impostos; outros apostavam que o caos poderia ocasionar uma intervenção militar ou favorecer Bolsonaro.

O ponto é que a população apoiou essa greve até o momento no qual a sua vida não foi afetada. A partir do instante em que o cotidiano se tornou um verdadeiro inferno – perda de dinheiro, de trabalho, falta na escola, dificuldade de locomoção, falta de alimentos, transtorno em hospitais, etc. -, a maré virou (até mesmo Bolsonaro pediu o fim das paralisações, gerando um “circuit break” na ala mais radical dos seus seguidores). Aliás, tenho minhas dúvidas se o povão de verdade – longe do ativismo virtual de Facebook – apoiou desde o início essa bagunça, para dizer o mínimo.

O fato concreto é que os subsídios aos caminhoneiros serão pagos com mais impostos de você, contribuinte. Nesse período, as perdas no comércio e na indústria chegam aos bilhões. A arrecadação diminuirá, porque o PIB será bem menor que o previsto. Por mais que o governo cortes os luxos – e tem que cortar mesmo -, essas despesas são “titicas” perto do roubo previdenciário, pagamento de juros nominais da dívida pública e despesas vinculantes. De outro modo, a arrecadação diminuirá e temos uma brutal dívida para pagar. Se não pagarmos, ao contrário do que pensa o senso comum, o calote não é no banqueiro, mas na população, com consequências drásticas para a sociedade inteira (inflação e desemprego bem elevados). Uns poderiam argumentar, baseado na curva de Laffer, que o corte de impostos aumentaria a arrecadação. Sim, possivelmente no médio e no longo prazo; não a curto prazo, com um déficit primário anual de quase 200 bilhões de reais.

O mundo concreto, o mundo real, exige prestação de contas. Uma renúncia fiscal, uma deterioração econômica afeta concreta e diretamente a vida das pessoas. Tivemos uma amostra grátis nesses últimos anos e, agora, nessa semana.

De acordo com as minhas estimativas, o PIB crescerá 0,41% a menos (de 2,34% para 1,93%), o que significa uma queda na renda de 26 bilhões de reais para o país. Com isso, 10 bilhões de reais deixarão de ser arrecadados pelo governo – valor que poderia ser utilizado para a construção de hospitais, combate ao crime organizado ou investimentos em educação. Este é somente o impacto direto da greve. Num cenário mais pessimista, com premissas mais negativas, o PIB poderá subir apenas 1,5%, representando 53 bilhões de renda a menos para a sociedade e 21 bilhões de renúncia fiscal para o governo.

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Do ponto de vista político, de acordo com as pautas atendidas – mais Estado -, as consequências da greve provavelmente beneficiarão a narrativa de esquerda, conforme vem apontado acertadamente o comentarista político Carlos Andreazza da Jovem Pan. Ou, por acaso, controle de preços, subsídios e tabelamento são pautas de liberais e conservadores? E o abandono do ajuste fiscal, de quem é esta pauta?

É a marcha da insensatez, a volta aos anos 80. Tempos muito difíceis virão, seja lá quem for eleito.

Alan Ghani é economista, PhD em Finanças pela FEA-USP e professor da SaintPaul, FIA e Insper

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Alan Ghani É economista, mestre e doutor em Finanças pela FEA-USP, com especialização na UTSA (University of Texas at San Antonio). Trabalhou como economista na MCM Consultores e hoje atua como consultor em finanças e economia e também como professor de pós-graduação, MBAs e treinamentos in company.

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