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Lula, o Paulo Maluf da esquerda

De acordo com o último DataFolha, 80% dos entrevistados dizem que Lula participou de corrupção e, mesmo assim, o ex-presidente lidera o cenário eleitoral com 31% das intenções de voto. Possivelmente, tais eleitores têm uma memória de que suas vidas melhoraram entre 2003 e 2010, dado o crescimento da renda e do emprego, sem associar que a crise econômica parida no governo Dilma foi gerada, inclusive, pela gestão Lula.
Por  Alan Ghani
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No passado, era comum muitos paulistas defenderem Paulo Maluf com unhas e dentes. Maluf era tido como o governante que fazia obras, o realizador. Quando seus apoiadores eram questionados sobre as corrupções de Maluf, logo diziam: “todos roubam, mas ele faz”. A frase era tão difundida, que na sua campanha para prefeito em 1992, a frase foi utilizada indiretamente, com eufemismos, para se passar a mensagem do “rouba, mas faz”, de maneira atenuada e capitalizar eleitoralmente.

Anos depois, sai Maluf; entra Lula. De acordo com o último DataFolha, 80% dos entrevistados dizem que Lula participou de corrupção e, mesmo assim, o ex-presidente lidera o cenário eleitoral com 31% das intenções de voto. Possivelmente, tais eleitores têm uma memória de que suas vidas melhoraram entre 2003 e 2010, dado o crescimento da renda e do emprego, sem associar que a crise econômica parida no governo Dilma foi gerada, inclusive, pela gestão Lula.

É claro que há diferenças essenciais entre o “malufismo” e o “lulismo”, mas um ponto os une: a ideia de que “todos roubam; mas, eles, pelo menos, fazem”. Duas premissas estão implícitas neste tipo de pensamento: i) todos roubam, portanto, vota-se naquele que faz, ii) a corrupção é um mal menor.

Quanto à premissa do “todos roubam, mas ele faz”, tal generalização é simplista e perigosa. Primeiro, porque há casos de políticos que não tem envolvimento com corrupção (veja o ranking dos políticos). Segundo, porque o grau de corrupção varia. Por maios que seja condenável fazer caixa 2, não dá para comparar legal e moralmente dinheiro não contabilizado com propina paga para manutenção de um projeto de poder (Mensalão e Petrolão). Isso quer dizer que temos que ser tolerantes com caixa 2? Não, de maneira alguma! Mas devemos ter senso de proporções no julgamento dos políticos.

A generalização da corrupção, equiparando caixa 2 a roubos bilionários de propinas, só interessa aos corruptos graúdos. Não é à toa que a propaganda de Maluf no passado e a narrativa do PT de hoje generalizam a corrupção, colocando tudo num saco só. Diga-se de passagem, a relativização moral é um dos pilares do pensamento de esquerda, equiparando moralmente a pessoa que passou no sinal vermelho à corrupção da Petrobras. (veja, por exemplo, este vídeo de Leandro Karnal, na qual sutilmente essa comparação é feita). Diga-se de passagem, o filósofo inglês, Roger Scruton, em seu último livro, “Tolos, fraudes e militantes: Pensadores da Nova Esquerda”, aborda essa questão do relativismo moral.

O segundo equívoco é acreditar que a corrupção é um mal menor, portanto, o ato de roubar dinheiro público não seria tão grave. Provavelmente, muitos brasileiros não entendem que o dinheiro público, na verdade, não existe; é apenas a renda da sociedade expropriada pelo governo na forma de impostos. De outro modo: quando se fala em desvio de “dinheiro público”, significa que cada brasileiro está sendo roubado! Também não compreendem os efeitos perversos da corrupção. Há uma série de estudos acadêmicos que mostra o quanto a corrupção prejudica o crescimento econômico, afetando a renda e o desemprego, principalmente dos mais pobres. Assim, os supostos benefícios gerados por Paulo Maluf e Lula se tornam ínfimos perto dos danos perversos gerados pela corrupção.

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Além disso, esse tipo de eleitor entende a corrupção apenas pelos seus efeitos concretos e imediatos e não pelas consequências de médio e longo prazo. É comum que os efeitos econômicos dos crimes praticados por um governante serão percebidos apenas numa próxima gestão. Por exemplo não dá para separar a corrupção da Petrobras e a farras fiscal presentes no governo Lula da crise econômica gestada no governo Dilma.

É claro que a corrupção de Lula e de Maluf tem suas diferenças. A corrupção malufista é mais fisiológica, destinada ao enriquecimento e fortalecimento do poder pessoal. A corrupção do lulopetismo é mais ideológica, destinada a um projetado totalitário, disfarçado de democracia (leia meu artigo: Afinal, o PT é um partido comunista?), embora houvesse também o enriquecimento pessoal.  Quem diria que os petistas, que condenavam tanto a corrupção de Maluf, teriam o mesmo comportamento dos malufistas? Quem diria que um dia eles estariam presos? Quem diria?

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Alan Ghani É economista, mestre e doutor em Finanças pela FEA-USP, com especialização na UTSA (University of Texas at San Antonio). Trabalhou como economista na MCM Consultores e hoje atua como consultor em finanças e economia e também como professor de pós-graduação, MBAs e treinamentos in company.

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