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Regras de trânsito de Bolsonaro podem causar mais mortes – e elas custam bem caro

O governo mandou para a câmara dos deputados proposta para "flexibilizar" algumas leis de trânsito. Trânsito que mata quase 50 mil pessoas ao ano. Qual é a perda para a sociedade se essas mudanças - para pior - forem aprovadas?
Por  Raphael Galante -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Caros leitores, digníssimas leitoras: o foco central deste post é tratar sobre as novas regras de trânsito que foram apresentadas pessoalmente pelo nosso excelentíssimo Presidente da República.

E, seguindo a nossa linha de pensamento rodriguiano “a vida como ela é”; a primeira coisa que veio às nossas cabeças quando nos debruçamos sobre a proposta, foi algo do tipo:

Observamos pontos positivos (mínimo) no projeto, e muitas aberrações!

Positivo: documentos digitais e “bloqueio” dos carros que foram convocados para recall e não foram levados às oficinas.

Negativo: a nova proposta é mais permissiva com os maus motoristas (aumentando o limite de pontuação máxima da carteira) – ou seja, mais uma vez em terra brasilis, ir para o lado negro da força compensa -, além da não obrigatoriedade de exames toxicológicos por parte de motoristas de cargas (caminhoneiros).

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E é nestes dois pontos que vamos no apegar mais!

Diz a lenda que achar um caminhoneiro que não toma (ou nunca tomou) um rebite é uma epopeia herculana: mais ou menos como achar o mundial do Palmeiras!

Além disso, temos o aumento da pontuação máxima. Ou seja, aquele “deslize” que antes era só uma vez, agora é “só algumas vezes”.

Assim, a proposta sendo aprovada, a probabilidade de ocorrer mais acidentes vai aumentar (sim, precisa ser gênio para chegar a tal conclusão).

E, apesar de passarmos longe de sermos securitários, a grande pergunta é:

QUANTO CUSTA UMA VIDA?

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No momento em que estamos falando C-O-N-S-T-A-N-T-E-M-E-N-T-E da reforma da previdência, onde vidas e expectativas de vida são quantificadas e monetizadas, decidimos analisar isso neste espaço.

Existem muitos trabalhos que são “f*#@$+!s” sobre o tema, produzidos pelo pessoal do IPEA. É só ir lá no site deles e procurar pelos materiais.

Mas qual é a realidade dos grandes acidentes de trânsito?

Em geral, grande parte das vítimas são relativamente jovens (até 49 anos). Essa faixa corresponde por mais de 72% dos óbitos.

Aquela faixa etária onde o ímpeto de juventude impera (entre 15 a 29 anos), e ainda  acreditam que são “Highlander”, corresponde a 33% dos óbitos!

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Vamos traçar uma linha de pensamento e quantificar essa brincadeira?

Imaginemos um acidente de carro (um SUV, que tá na moda) com vítima fatal. O que o pessoal analisou? Tudo envolvido no acidente: custos pré-hospitalares, hospitalares, pós-hospitalares, remoção, pátio, danos materiais, perda da carga, danos patrimoniais e (principalmente) perda de produção laboral da pessoa que faleceu.

Atualizando os valores pelo IPCA, o custo de uma vida no trânsito seria de aproximadamente:

R$ 589.002,73

Uma vítima fatal de trânsito custa por volta de R$ 600 mil. Em rodovias, onde é preciso acionar uma estrutura de socorro maior, o custo chega a R$ 646 mil.

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Vamos fazer aquela nossa famosa conta de padaria?

Se o custo de uma vida no trânsito for de quase R$ 600 mil, e eu tive quase 50 mil mortes de trânsito no ano passado; logo, eu tive uma perda aproximada de R$ 30 bilhões somente em 1 ano devido às mortes de trânsito.

Grande parte deste montante (90%) está associado à “perda de produtividade/renda” que a vítima deixou de auferir ao longo de sua expectativa de vida! Como, por exemplo: não contribuindo mais para a previdência e/ou usufruindo dela (#abreoolhopauloguedes).

Isso é apenas uma pontinha do iceberg. Não foram contabilizados todos os outros acidentes, apenas os com vítimas fatais.

Vamos quantificar de um modo diferente?

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Fazer uma “monetização” sobre as vítimas fatais de trânsito já é uma tragédia natural que é praticamente impossível de se mensurar; mas podemos estimar com mais precisão a perda potencial de anos que deixam de ser vividos todo ano no Brasil.

Ano passado, todas as vítimas de trânsito perderam mais de 1,815 milhão de anos que poderiam ter sido vividos.

Foram famílias, sonhos, profissionais qualificados, estudantes e por aí vai o que se perdeu. E, em geral por coisas bobas que a proposta flexibiliza, como: velocidade não compatível (14%), ultrapassagem indevida (8%), falta de atenção (20%), álcool/sono (10%) – olha aí o rebite!

Aumentar o limite de pontuação para infrações ou não exigir exames toxicológicos de motoristas profissionais de transporte é de uma barbárie sem fim. Um levantamento do próprio Ministério da Saúde mostra que, nas capitais (onde há regras urbanas mais rígidas e maior fiscalização), os óbitos no trânsito caíram 27,4% entre 2010 e 2016.

Por mais que o nosso viés seja o mais liberal possível, aqui estamos falando quase de saúde pública. São R$ 30 bilhões perdidos anualmente em mortes desnecessárias! Existe uma perda incalculável de mentes/pensadores/bons trabalhadores que são ceifadas; além do aumento no rombo da previdência – que é o tema do momento.

Temos que flexibilizar UM MONTE DE COISA NO BRASIL? E como!

Mas, em outras, nem pensar… como esta!

#talkey?

E aí, o que achou? Dúvidas? Me manda um e-mail aqui.

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=)

Raphael Galante Economista, atua no setor automotivo há mais de 20 anos e é sócio da Oikonomia Consultoria Automotiva

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