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O dólar digital: o que são e como funcionam as stablecoins

As Stablecoins, ou moedas estáveis em tradução livre, são, em geral, representações no mundo Crypto de moedas fiduciárias tradicionais
Por  Gustavo Cunha -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

No último artigo que escrevi, coloquei como um dos grades desafios dessa fase de Tokens e Coins, que se iniciou após a criação do Bitcoin, a transição do mundo das moedas fiduciárias, como Dólar, Euro ou Real, para a nova realidade das moedas/Tokens digitais (leia ele aqui). As Stablecoins vêm para construir uma ponte entre esses dois mundos.

As Stablecoins, ou moedas estáveis em tradução livre, são, em geral, representações no mundo Crypto de moedas fiduciárias tradicionais. O que se faz é emitir um Token (Crypto) que tenha como lastro dólares, por exemplo.

Uma entidade ou algoritmo descentralizado garante que para cada Token emitido haja a mesma quantidade de dólares custodiados, guardados em  um cofre ou banco, e que para emitir ou retirar esses Tokens do mercado haverá a
necessidade de se alterar a quantidade de dólares em custódia. A regra é ter para cada Token uma quantidade definida de ativo de referência.

O exemplo mais conhecido de Stablecoin é o Theter (USDT), Crypto que tem como lastro o dólar e tem hoje um valor de mercado de aproximadamente USD 2 bilhões, o que a coloca como a sétima maior Crypto por essa medida. O valor do Theter em dólares deveria ser sempre de 1,00 USD/ 1,00 Theter, dado que, conceitualmente, para cada Theter emitido há a mesma quantidade de dólares em um cofre, mas, se observarmos o histórico de preços, vemos que essa relação não é tão estável quanto se esperaria.

Isso se deu, em grande parte, por conta de dúvidas levantadas em relação à quantidade de dólares custodiados não ser a mesma de Theters emitidos, e a dificuldade que a Theter teve em demonstrar isso.

O Theter foi uma Stablecoin bastante utilizadas pela Bitfinex, uma das maiores corretoras de Cryptos do mundo, e a ligação entre as duas vai além disso. Alguns relatórios colocam a Bitfinex como uma das empresas por traz da sua criação, o que não é de todo surpresa.

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Todas as corretoras de Cryptomoedas do mundo tiveram, em algum momento, dificuldades com contas nos bancos tradicionais, e ter uma Stablecoin com lastro em dólares facilita não ter que utilizar o sistema bancário tradicional para acertar ajustes entre contas internas, além de fazer isso de forma mais rápida, transparente e auditável do ponto de vista interno da empresa.

Mas o Theter não é a única Stablecoin que existe no mercado. Recentemente a Gemini, empresa criada pelos gêmeos Winklevoss, colocou em campo o Gemini Dólar (GUSD), com a mesma proposta de mercado que o Theter, ou seja, ter cada gemini dólar diretamente atrelado a 1 dólar em custódia, mas com uma nova forma de verificação e independência entre emissor e custodiante, com o objetivo de trazer mais confiança.

Outro projeto interessante é o da True USD (TUSD), que tem o objetivo de transformar para as pessoas seus dólares em uma Crypto, ou seja, para que haja emissão de TUSD, qualquer pessoa pode mandar dólares para umas das instituições cadastradas, que colocarão esses dólar em uma Escrow Account (tipo de conta onde o dinheiro fica bloqueado até que uma determinada condição esteja presente, no caso a eliminação dos Tokens que foram emitidos lastreados por esse dinheiro) que permitirão à empresa emitir os Tokens TUSD para você. A ideia aqui é ser um serviço para que todos possam ter dólares no mercado digital para fazer suas transações.

Na lista das Stablecoins atreladas ao dólar temos também a Paxos (PAX) que, entre outras novidades, traz a emissão do Tokens sendo feita por uma instituição regulada pelo departamento de finanças do Estado de Nova York, nos Estados Unidos – o mesmo regulador que criou o controverso Selo Crypto (Bitstamp) para empresas de Crypto em Nova York — e a USD Coin (USDC), Stablecoin emitida para corretora Coinbase.

A lista não se resume a essas mencionadas, e toda semana há uma nova iniciativa de se criar uma Stablecoin atrelada ao dólar ou outras moedas fiduciárias, que pretende fazer de forma mais segura, rápida e transparente essa transição do mundo “tradicional” de moeda para o mundo Crypto. Quem sabe até já exista um projeto para fazer uma Stablecoin atrelada ao nosso Real! Se tiver conhecimento, me avisa que tenho interesse em entender o projeto.

Temos também iniciativas de emissão de Stablecoins privadas como a que o JPMorgan anunciou esse mês. A JPM Coin é uma Stablecoin lastreada 1:1 com o dólar americano e será utilizada pelo banco para fazer transferências entre contas institucionais, a princípio, trazendo para o banco vantagens como tornar os processos de transferências internas de valores mais
rápidos, transparentes e auditáveis.

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Além das Stablecoins atreladas ao dólar temos também inúmeras iniciativas de Stablecoins atreladas a ouro, prata, outras Cryptos, ou qualquer outro ativo que faça as vezes de meio de pagamento. Nessa lista dá para ver a quantidade de projetos que tem o ouro ou metais como lastro da Stablecoin.

É curioso notar que as Stablecoins, diferentemente das moedas fiduciárias atuais, requerem um lastro. Essa maneira de ganhar confiança e credibilidade para a moeda já foi utilizada pelas cédulas emitidas por governos (papel-moeda) que no seu inicio eram lastreados em ouro.

A história mostra que a partir de determinado momento a confiança nessas moedas se tornou tão grande que a necessidade de se ter um lastro para lhe dar confiança não era mais necessário.

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No caso do dólar, isso aconteceu após os EUA romperem com o acordo de Bretton-Woods, em 1971. Quanto às Stablecoins, de quanto tempo precisaremos para que elas ganhem confiança e não precisem mais de lastro? Essa é uma das perguntas a ser respondida nos próximos anos.

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No que se refere aos desafios, o maior enfrentado por todas Stablecoins está em garantir que para cada Token do mundo Crypto haja um lastro no mundo tradicional. A entrada de grandes empresas que possam trazer essa confiança inicial, além de um conjunto de regras de checagem transparente e auditável, pode ser um passo muito importante nessa transição inicial do mundo das moedas fiduciárias para o mundo Crypto.

Outro movimento importante são os estudos que vários Bancos Centrais do mundo estão fazendo para já emitir suas moedas através de Tokens, o que acaba com a necessidade de se atestar que para cada moeda daquele Banco Central há uma moeda depositada no cofre dele, já que esse Banco Central tem a prerrogativa de emissão de sua moeda. Essa é uma saída fascinante, e será tema do próximo texto que estou escrevendo.

Quer saber mais sobre as mudanças no mercado financeiro? Só me seguir no LinkedIn, Facebook ou Youtube para acompanhar as novidades.

Para quem quiser se aprofundar sobre Stablecoins:

Important aspects of Stablecoins the difference between pegging collateralization and redeemability – Chrisjan Pauw (Coinelegraph)

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The rise of Stablecoins – Alex T – Coinjournal

Explaining Stablecoins the holy grail of Crytpocurrency – Sherman Lee (Forbes)

The state of Stablecoin 2019 – George Samman

Gustavo Cunha Autor do livro A tokenização do Dinheiro, fundador da Fintrender.com, profissional com mais de 20 anos de atuação no mercado financeiro tradicional, tendo sido diretor do Rabobank no Brasil e mais de oito anos de atuação em inovação (majoritariamente cripto e blockchain)

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