Mandato não é privatizar, mas tornar BB mais eficiente, diz Luiz Fernando Figueiredo

O gestor, que é fundador da Mauá Capital e foi indicado recentemente para assumir a presidência do conselho de administração do Banco do Brasil, explicou a atuação pública da instituição

Giuliana Napolitano

Luiz Fernando Figueiredo (divulgação)

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SÃO PAULO – Ex-diretor do Banco Central e fundador da gestora de recursos Mauá Capital, Luiz Fernando Figueiredo foi convidado pela equipe econômica do governo para assumir a presidência do conselho de administração do Banco do Brasil.

Será a primeira vez, segundo Figueiredo, que o conselho do BB será comandado por alguém vindo do mercado. E o que isso significa na prática? Que haverá um plano para tornar o BB mais eficiente e capaz de brigar de igual para igual com os concorrentes privados – o que, diz ele, não acontece hoje.

“O Banco do Brasil tem profissionais excelentes, mas, por ser uma estatal, também tem uma série de amarras. Entra na disputa por mercado com um braço para trás, enquanto os bancos privados competem com tudo o que têm”, afirmou, durante uma palestra online exclusiva para alunos do MBA em Investimentos e Private Banking, feito pelo InfoMoney em parceria com o Ibmec.

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Sem dar muitos detalhes de como será sua atuação no BB – já que ainda não foi formalizado no cargo –, Figueiredo disse que seu mandato é “ajudar, com minha experiência, a tornar o banco melhor e mais eficiente”.

É preciso privatizar o BB para isso? “O que sei sobre esse assunto é o que está público: o banco não será privatizado”, disse Figueiredo. “Meu mandato não é esse.” Ele defendeu a atuação pública da instituição, mas disse que os custos dessa atividade não precisam ser pagos pelo BB – poderiam, por exemplo, estar previstos no orçamento da União.

“Montar uma agência numa área remota da Amazônia pode não fazer sentido econômico, mas tem uma função pública, e o Banco do Brasil deve estar atento a isso. Mas os recursos poderiam vir do orçamento público”, afirmou.

Sobre a chance de haver conflito de interesse entre sua atuação como presidente da Mauá e o comando do conselho do BB, Figueiredo diz que esse problema não existe. “Sou criterioso e, antes de aceitar o convite, também consultei advogados. Não existe conflito.” Segundo ele, Mauá e BB não são concorrentes diretos e, além disso, ele não faz parte do comitê que decide onde serão investidos os recursos dos fundos da gestora.

Trilhões fora da bolsa

Durante a palestra, em que respondeu perguntas dos alunos do MBA, Figueiredo também fez uma análise sobre a situação atual do país e disse acreditar na aprovação da reforma da previdência, “o que abriria espaço para um grande avanço do país”. “Os ativos financeiros vão mudar de preço”, acrescentou.

Para o gestor, a bolsa é o mercado com o maior potencial de valorização nesse cenário. Ele lembra que, atualmente, menos de 10% do patrimônio total do setor de fundos (que beira os R$ 5 trilhões) está aplicado em ações. A média internacional é de cerca de 50%. Se o Brasil se tornar um país mais “normal”, com uma perspectiva de crescimento de longo prazo, “a migração para a bolsa tende a ser enorme”, afirma.

Figueiredo acredita ainda que o câmbio esteja “fora do lugar” – ou seja, o real está desvalorizado demais frente ao dólar. “Mesmo sem a entrada de mais capital estrangeiro, o balanço de pagamentos é superavitário. Se a reforma for aprovada, não sei quem vai comprar tudo isso de dólar”, disse ele.

Giuliana Napolitano

Editora-chefe do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre finanças e negócios. É co-autora do livro Fora da Curva, que reúne as histórias de alguns dos principais investidores do país.