Publicidade
A construção de patrimônio é um processo que pode levar anos, e não um feito da noite para o dia. “As grandes fortunas foram construídas em 10, 20, 30 anos. Warren Buffett só virou bilionário depois dos 50”, afirmou Florian Bartunek, fundador e CIO da Constellation Asset Management, em entrevista no episódio especial do Outliers InfoMoney, gravado na Expert XP 2025.
Para o gestor, o exemplo do megainvestidor norte-americano reforça que o segredo para prosperar na Bolsa continua sendo simples — mas difícil de executar: investir no longo prazo em empresas de qualidade. A longevidade, diz ele, está ligada à capacidade de aguentar as oscilações do mercado.
“Quando você conhece o ativo, sabe o que tem na mão, a volatilidade não assusta. É como ter um bom apartamento: você sabe o valor dele, independente de uma crise momentânea.”
Na prática, a Constellation mantém posições por anos. “Fizemos 30 vezes o dinheiro em Totvs (TOTS3) ficando 12 anos, e 20 vezes no Mercado Livre (MELI34) em uma década. As empresas que ficamos mais tempo foram as que deram melhor retorno”, destacou.
Continua depois da publicidade
Segundo Bartunek, manter essa disciplina exige resistir ao impulso de seguir a manada. “A maioria compra boas empresas, mas poucos conseguem carregar por 10 anos sem se apavorar no caminho.”
- Leia mais: Com Trump, papel do dólar como reserva global entra em xeque, alerta gestor da Verde
- E também: Sparta: Mera tramitação da MP já tem impacto no preço de ativos e decisão de alocação
Indústria de fundos em “pente-fino” histórico
Esse olhar para o longo prazo ocorre em um momento de transformação radical no mercado brasileiro de gestão de ações. A indústria de fundos passa por um “pente-fino” histórico, impulsionado pela maior transparência, pelo fim da reserva de mercado e pelo uso crescente de tecnologia.
“Não dá mais para viver de reserva de mercado ou cobrar uma taxa absurda sem entregar performance. Está todo mundo vendo e comparando”, afirmou Bartunek.
De acordo com ele, a competição mais acirrada está obrigando fundos a mostrar resultados consistentes.
“O investidor entra na plataforma, olha custo, retorno, volatilidade e migra para o melhor. Quem não entrega, fica pelo caminho.”
E essa pressão deve se intensificar com a entrada da inteligência artificial no setor, acrescenta ele. “A IA vai fazer uma análise muito mais completa de retorno, risco e consistência. Isso vai diminuir ainda mais o número de fundos relevantes”, prevê.
Fim da reserva de mercado muda o jogo
Bartunek lembra que, há três décadas, o investidor tinha poucas opções: CDB do próprio banco ou fundo de ações do mesmo banco. “Não existia plataforma aberta, fundo passivo ou investimento no exterior”, disse.
Continua depois da publicidade
Hoje, o cenário é oposto. “A XP foi uma das primeiras a abrir a plataforma para vários fundos e forçou bancos a fazerem o mesmo. Agora, o investidor pode escolher entre fundos no Brasil, no exterior, ativos passivos, ativos, private equity, venture capital.”
Com mais opções e informações, a cobrança por performance aumentou — e gestores medianos estão sendo expurgados.
“Essa depuração é saudável. A indústria vai ficar mais concentrada em quem gera valor consistente e cobra de forma justa. A AI vai acelerar o filtro. Talvez fiquem 40 ou 50 fundos realmente relevantes no mercado”, projetou.
Continua depois da publicidade
IA como revolução comparável à internet
Para Bartunek, a inteligência artificial será tão transformadora quanto foi a internet há 20 anos — e empresas que souberem adotá-la terão vantagem competitiva.
“Não vamos criar os grandes modelos no Brasil, mas vamos usar os motores das big techs com nossos dados proprietários para ganhar produtividade.”
Na Constellation, agentes de IA já fazem em cinco minutos análises que levavam uma semana.
Continua depois da publicidade
“Ainda precisamos olhar o futuro — o passado virou commodity. Mas a ferramenta (IA) economiza tempo e melhora a profundidade da análise.”
O efeito, diz ele, será deflacionário para empresas e abrirá espaço para novos modelos de negócio. “Algumas vão ficar pelo caminho, outras vão crescer muito. Vai ser um divisor de águas como foi a chegada da internet.”
Mesmo com décadas de experiência, Bartunek afirma se sentir desafiado como um iniciante. “Estou aprendendo com os jovens da equipe. É fascinante, como se eu tivesse 20 anos de novo”, contou.