Legacy: Contra dólar, parcela do ouro nas reservas internacionais é a maior no século

Gestora vê mudança no formato de crescimento global consolidado nas últimas quatro décadas

Osni Alves

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No mais recente episódio do programa Stock Pickers, os fundadores da Legacy Capital, Felipe Guerra e Pedro Jobim, analisaram os movimentos da economia global e detalharam como estão posicionando seus fundos diante de um cenário que promete ser muito diferente das últimas quatro décadas. A conversa foi conduzida por Lucas Collazo e Henrique Esteter e teve como pano de fundo a crescente complexidade dos mercados internacionais — e as oportunidades que surgem no crédito privado brasileiro.

“A gente está vendo uma reconfiguração estrutural. O que funcionou nos últimos 40 anos, com China e Estados Unidos puxando o crescimento global, não deve se repetir no mesmo formato”, afirma Pedro Jobim, economista-chefe da Legacy. Segundo ele, a crescente tensão entre os dois países, a desaceleração chinesa e o avanço de outras economias, como a Índia, desenham um mundo mais multipolar. “O crescimento robusto americano, ancorado em ativos de alta qualidade, ainda se sustenta, mas o peso global começa a se redistribuir”, avalia.

Mudança de eixo geopolítico

A mudança de eixo geopolítico e a busca de diversificação pelos bancos centrais globais, com menor exposição aos títulos do Tesouro dos EUA e maior alocação em ouro, segundo Jobim, são sinais claros dessa transição. “A parcela de ouro nas reservas internacionais chegou ao maior patamar em 26 anos, enquanto a participação dos estrangeiros nos treasuries caiu ao menor nível em mais de duas décadas. É um reflexo direto da desconfiança sobre a dominância do dólar”, disse.

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Já Felipe Guerra, CIO da gestora, destacou como essas transformações impactam as estratégias locais. Segundo ele, a Legacy está ampliando sua atuação em crédito estruturado, utilizando operações de hedge sofisticadas para atender a diferentes perfis de ativos e investidores institucionais. “Hoje conseguimos montar estruturas via in-depth clean, que liberam caixa e não exigem margem, permitindo operações de 30 a 90 dias que são ideais para multimercados”, afirma.

Guerra revelou que grandes nomes do mercado já utilizam essas estruturas, como a Verde Asset. “A gente entrega o hedge no onshore, sem consumir risco do cliente e sem pagar o cupom cambial. É uma forma eficiente de travar a exposição do caixa que fica lá fora”, explica.

Fortalecimento dos canais de distribuição

A estratégia da Legacy, segundo Guerra, passa também pelo fortalecimento dos canais de distribuição e pela ampliação da base de investidores, especialmente em produtos de crédito com prazos e remuneração definidos. Um dos veículos mais recentes da casa, segundo ele, deve ser lançado no dia 15 de maio, com captação pré-programada e CDI de 97% como referência. “A gente prefere fazer esse tipo de emissão com data marcada, o que facilita o operacional e já permite entregar a carteira de crédito pronta no lançamento”, diz.

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Com cerca de R$ 23 bilhões sob gestão, a Legacy Capital se consolida como uma das gestoras independentes mais respeitadas do país. Fundada em 2018 por executivos com longa trajetória no mercado financeiro, a casa é conhecida por sua leitura macroeconômica rigorosa e por manter uma cultura de parceria entre os sócios.

“O que mais importa agora é ter clareza de que o mundo mudou. E se os próximos 40 anos forem mesmo diferentes, como parecem ser, a forma de investir precisa mudar junto”, conclui Jobim.