Investidor brasileiro ainda peca pela baixa diversificação e foco no mercado local

A exposição internacional é indispensável para quem investe no Brasil, dada a alta correlação entre os ativos de risco locais

Osni Alves

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O fim da era dos ‘juros zero’ no mundo inaugurou um novo capítulo no mercado global de capitais, agora guiado por taxas mais altas e por uma tolerância significativamente menor a desequilíbrios fiscais.

Nesse ambiente, a diversificação voltou ao centro das discussões — especialmente no Brasil, onde investidores ainda demonstram forte preferência por ativos domésticos.

A diversificação é o único almoço grátis, afirmou Daniel Popovich, portfolio manager da Franklin Templeton Investments, ao defender que a exposição internacional é indispensável para quem investe no Brasil, dada a alta correlação entre os ativos de risco locais.

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Para ele, o jogo mudou, mas não completamente. O executivo vê um cenário estrutural de juros mais elevados, embora com taxas reais que devem seguir relativamente baixas.

Nesse contexto, a renda fixa recupera protagonismo. “A renda fixa volta a ter uma atratividade maior”, disse, observando que os prêmios de risco em high yield e equities estão “bastante apertados”, com valuations em níveis historicamente altos.

Uma nova era pós-pandemia e pós-repressão financeira

A crise de 2008 inaugurou um longo período de juros reduzidos e políticas de repressão financeira global. A pandemia da Covid-19 e o consequente avanço do gasto público, porém, reacenderam a inflação, obrigando bancos centrais a um ciclo de aperto monetário.

O desafio agora é alocar capital em um mundo onde os juros são “significativamente diferentes de zero”.

As análises foram apresentadas no debate “Alocação Global em Foco”, durante o XP Global Conference 2025, mediado por Artur Wichmann, CIO da XP e presidente do Comitê de Alocação da XP Advisory Brasil.

Wichmann destacou a persistente baixa diversificação dos investidores brasileiros, que seguem com posições majoritariamente concentradas no mercado doméstico.

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Intolerância crescente à desorganização fiscal

Um dos consensos da discussão foi a sensibilidade ampliada dos mercados globais ao risco fiscal. “O mercado está muito menos tolerante com bagunça no lado fiscal”, alertou Popovich, citando episódios recentes no Japão e na Europa — especialmente Reino Unido e França —, onde dúvidas sobre a sustentabilidade da dívida pública provocaram movimentos bruscos nos mercados de títulos.

Nos EUA, o debate fiscal também ganhou força, especialmente nas treasuries de prazos mais longos, como de 20 e de 30 anos.

Para Ana Madeira, economista-chefe no Brasil do Morgan Stanley, enquanto países emergentes já convivem há tempos com a necessidade de disciplina fiscal, o problema é mais delicado nas economias desenvolvidas, que ficaram “meio que viciadas no fiscal” após a Covid-19.

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O dólar segue sem rival — mas a disrupção pode vir da Inteligência Artificial

Outro tópico de destaque foi a fraqueza registrada neste ano do dólar. A moeda norte-americana teve o pior desempenho “desde o fim do padrão-ouro”, comparou Wichmann.

Para ele, porém, o dólar permanece sem concorrente real como moeda de referência global. Ademais, os especialistas entendem que os EUA seguem no centro do sistema financeiro internacional, tanto por conta do tamanho de sua economia quanto pela solidez institucional.

Mas o que realmente pode redefinir o futuro, segundo eles, é a Inteligência Artificial. Ana revelou que o Morgan Stanley já incorpora a IA em seus modelos macroeconômicos, prevendo ganhos de produtividade com menor pressão inflacionária.

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A tecnologia, que representa uma “mudança de padrão” comparável à eletrificação, pode transformar profundamente a dinâmica microeconômica mundial — e se tornar o grande “excepcionalismo” da primeira metade do século XXI, completaram.