Gestores alertam para potencial de Smart Fit (SMFT3), Renner (LREN3) e Vivara (VIVA3)

Com foco em alta renda, resiliência operacional e tendências de saudabilidade, gestores revelam onde enxergam valor no varejo mesmo com juros altos.

Osni Alves

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Na série “Superclássicos da Bolsa”, da XP, o setor de varejo esteve no centro do debate entre dois especialistas do mercado: Rafael Furlan, portfolio manager da Norte Asset, e Alexandre Bagnoli, analista da Encore Asset. A conversa foi mediada por Danniela Eiger, head de varejo da XP, e teve como pano de fundo uma conjuntura de reversões tributárias, decisões judiciais favoráveis às empresas e expectativas com a queda da taxa de juros.

Em meio à análise detalhada das principais ações do setor, a Smart Fit (SMFT3) surgiu como um dos principais destaques, com potencial de valorização mesmo em um cenário ainda desafiador para o consumo.

Bagnoli chamou atenção para a reversão de provisões tributárias que pode beneficiar empresas como a Arezzo (AZZA3), mencionando uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) favorável às companhias.

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“No caso da Arezzo, estamos falando de uma reversão que pode significar até R$ 250 milhões a mais de lucro por ano. Isso pode fazer com que uma empresa que negociava a 10 vezes lucro passe a ser avaliada a 8 vezes, ficando extremamente barata”, observou o analista da Encore Asset.

Furlan concordou com o potencial da Arezzo, mas ponderou que a decisão ainda é isolada. “Ainda estamos em um momento do Brasil que busca aumentar a arrecadação e tem usado muito o pilar da tributação. Então, por mais que a decisão seja positiva, é difícil assumir que essa reversão vá se perpetuar”, alertou o gestor da Norte Asset.

Smart Fit ganha holofotes com tese robusta e resiliência operacional

Ao falar da Smart Fit, os especialistas destacaram a atratividade da ação, mesmo sem depender de reversões tributárias. “Ela já está barata por si só, negociando a múltiplos atrativos e sem qualquer benefício fiscal. É um caso em que o valuation faz sentido mesmo sem precisar de upside adicional”, disse Furlan.

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Segundo Bagnoli, a Smart Fit foi uma das posições médias que ele começou a montar entre o fim de 2023 e o início de 2024. A tese foi baseada em uma combinação de fatores macroeconômicos e microeconômicos.

“Com a queda dos juros, o anúncio de menor capex e a melhora no desempenho das vendas, a empresa apresenta uma geração de caixa forte, que contribui para a desalavancagem financeira”, explicou.

Mesmo após uma valorização de 110% no papel, ele vê espaço para valorização adicional, com um free cash flow yield de 11% a 12% para 2026.

Outro ponto forte da tese é que a companhia não depende de crédito para crescer, o que se tornou um diferencial num cenário de juros ainda elevados.

“Ela é uma das nossas preferidas no setor. Gestão sólida, execução consistente e uma tendência secular de saudabilidade que deve continuar impulsionando resultados nos próximos anos”, complementou Danniela Eiger.

Renner e Vivara se destacam em um mercado de consumo seletivo

As ações da Renner (LREN3) também foram amplamente debatidas no encontro. Furlan comentou que, embora não esteja posicionado atualmente no papel, reconhece a melhora da execução recente da companhia.

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“Depois de três anos de investimentos pesados, especialmente em centros de distribuição, a empresa começou a colher os frutos. Eles pretendem voltar às margens de 2019, o que é promissor”, afirmou.

Bagnoli, por sua vez, demonstrou mais otimismo com a Renner, destacando o bom momento operacional, aliado a um valuation ainda atrativo.

“A companhia está negociando a 11 ou 12 vezes lucro para o ano que vem e deve surpreender positivamente no segundo trimestre, especialmente com as vendas mesmas lojas (same store sales) e margens”, projetou.

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Ele também ressaltou o trabalho de reposicionamento de preços e produtos, citando que a Renner voltou a se destacar frente à concorrência, como a C&A (CEAB3).

Já sobre a Vivara (VIVA3), os dois especialistas concordaram em classificá-la como uma empresa resiliente, com bom histórico de performance mesmo em cenários adversos.

“Ela entrega resultado bom em ciclos econômicos difíceis e é uma típica representante do varejo voltado à alta renda, que tende a sofrer menos com oscilações macroeconômicas”, disse Bagnoli.

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Alta renda versus baixa renda: escolhas estratégicas e riscos no crédito

Danniela Eiger provocou os participantes ainda a refletirem sobre o peso das ações voltadas ao consumo de alta renda em relação ao consumo de massa. Para Bagnoli, o momento atual permite ter ambos os perfis na carteira, desde que se observe a qualidade da execução.

“A C&A, por exemplo, é uma empresa voltada à baixa renda, mas teve uma execução brilhante nos últimos dois anos”, afirmou.

Furlan, por outro lado, enfatizou sua preferência estrutural por empresas voltadas à média e alta renda, especialmente aquelas que não dependem de crédito.

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“Arezzo, Vivara, Track&Field, Smart Fit… são todas companhias que não precisam oferecer crédito para vender. Isso é fundamental com juros ainda elevados, perto de 15%”, ressaltou.

Ele também destacou a vantagem competitiva de empresas de marca forte e público fiel. “Essas companhias são mais resilientes a choques econômicos, justamente por dependerem menos de financiamento ao consumo”, completou.

Apesar disso, Furlan reconheceu que há exceções bem-sucedidas na baixa renda, como as incorporadoras do programa Minha Casa Minha Vida, que foram sua principal posição nos últimos dois anos.

Tendência de bem-estar e saudabilidade

Danniela Eiger destacou também a tendência de bem-estar e saudabilidade como um driver poderoso para empresas como a Smart Fit. Ela mencionou o impacto do uso de medicamentos como o Ozempic, voltados ao emagrecimento, e como isso pode impulsionar ainda mais o segmento fitness.

“A queda da patente dessas drogas pode tornar o tratamento mais acessível, o que amplia a base de consumidores preocupados com saúde, estética e longevidade”, disse.

Essa dinâmica favorece não só academias como também empresas do segmento atleisure, como a Track&Field e a própria Smart Fit, que vêm se beneficiando de um novo comportamento do consumidor pós-pandemia.

“A academia deixou de ser vista apenas como estética. Hoje é saúde, bem-estar e, de certa forma, um remédio. O exercício físico é a maior alavanca para viver mais e melhor”, reforçou Danniela.

Furlan completou dizendo que o crescimento das academias é parte de uma tendência secular. “É como o movimento de buscar mais qualidade de vida depois da pandemia. As pessoas querem se cuidar mais. Isso está se refletindo em resultados e deve continuar nos próximos anos”, observou.

Monitoramento de oportunidades: Vulcabras

Questionados sobre empresas que ainda não fazem parte das carteiras, mas que estão no radar, Bagnoli citou a Vulcabras (VULC3) como um caso promissor.

“A empresa tem apresentado resultados muito fortes desde que a família reassumiu o controle, e está negociando a múltiplos baixos, em torno de 8 vezes lucro. É um nome que está no nosso radar e pode entrar na carteira”, revelou.

O analista da Encore disse que, por enquanto, o nome não entrou no portfólio por falta de tempo para um estudo mais aprofundado, mas deixou claro que vê potencial.

A escolha reforça a busca por empresas com execução sólida e que estejam ligadas à tendência de saúde, conforto e bem-estar — como é o caso do segmento de calçados esportivos e casuais da Vulcabras.