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Os Estados Unidos vivem hoje um momento de desaceleração econômica após três anos de crescimento robusto, sustentado principalmente pelo consumo das famílias — que representa cerca de 70% do PIB americano.
Se antes o consumo crescia entre 3% e 3,5%, no primeiro semestre de 2025 essa taxa caiu para perto de 1%, indicando que a fraqueza da economia não se restringiu ao primeiro trimestre, como inicialmente previsto.
“O mercado de trabalho ainda não refletia essa desaceleração, mas os dados mais recentes começaram a corrigir essa percepção”, disse Bruno Marques, responsável pela estratégia Multimercado Macro da XP Asset.
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“A analogia que usamos é que os EUA estavam crescendo em quinta marcha e agora estão em terceira ou quarta. Não é uma recessão, mas é uma desaceleração relevante.”
Durante participação em live mensal da XP Asset, o gestor também destacou a pressão inflacionária provocada pelas tarifas, especialmente nos produtos importados.
“Pelos nossos cálculos, os preços dos importados já sobem a um ritmo de quase 10% ao ano. Os estoques vinham amortecendo esse impacto, mas agora começa a bater de fato nos preços”, alertou.
Nesse contexto, o comportamento do Federal Reserve (Fed) se torna imprevisível. Para Marques, o ideal seria manter os juros inalterados em 2025 e só começar a cortar em 2026, mas a deterioração do mercado de trabalho pode antecipar esse movimento.
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XP Asset: Posição vendida em dólar e cautela com bolsa americana
Diante do cenário externo, a XP Asset tem mantido uma posição vendida em dólar — embora essa exposição tenha sido reduzida no início de julho e posteriormente retomada. O portfólio inclui apostas contra a moeda americana em relação ao euro, ao peso mexicano, ao rand sul-africano e ao real.
“Estamos sem posição relevante em juros nos EUA e mantemos uma posição taticamente vendida em bolsa americana, mas ela é pequena.”
Na Europa, as projeções otimistas estão se concretizando, com sinais de recuperação no investimento, no consumo e na confiança. Para o gestor, o PIB europeu deve se aproximar do desempenho americano, o que fortalece o euro.
Ibovespa, real e juros no Brasil
No mercado doméstico, a bolsa foi o ativo que mais sentiu no mês anterior, segundo Marques. Ainda assim, a equipe aproveitou a queda para reforçar a posição comprada.
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“Não vemos a bolsa brasileira como uma grande aposta… Mas houve uma performance muito superior em relação a outras bolsas emergentes. O gap entre o Ibovespa e os emergentes diminuiu. A China, por exemplo, está em situação muito pior agora do que no fim do ano passado.”
A XP Asset também segue posicionada com venda em dólar contra o real, e essa posição foi reforçada recentemente. Segundo Marques, o Brasil se destaca entre os pares emergentes por manter uma política de juros consistente, o que torna o carrego do real muito atrativo.
“Se os juros estão altos por uma boa razão, como política monetária bem conduzida, isso tende a reduzir a volatilidade cambial. Essa relação entre carrego e volatilidade está muito boa, e temos gostado dessa posição vendida em dólar e comprada em real”, explicou.
Nova aposta: juros aplicados
A principal novidade no portfólio é o aumento substancial da posição aplicada em juros — tanto nominais quanto reais. Com a alta recente das taxas, a XP Asset enxergou oportunidade em um cenário onde o Banco Central pode, futuramente, cortar os juros com mais força, desde que mantenha a taxa em patamar restritivo por tempo prolongado.
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“Quanto mais tempo os juros permanecem elevados, maior a tendência de queda nas expectativas de inflação. A curva já mostra isso: os NTN-Bs de dois anos começaram o ano com inflação esperada de quase 7%, e agora estão em torno de 4% a 4,5%”, destacou.
Apesar disso, Marques é cauteloso ao projetar cortes abruptos. “Não achamos provável, por ora, uma queda de 300 pontos-base nos juros em 2026. Seria necessário um choque muito grande para materializar esse cenário.”
Resumo das posições da XP Asset (Multimercado Macro)
- Cenário externo: posição vendida em dólar contra euro, peso mexicano, rand sul-africano e real; sem posição em juros nos EUA; pequena posição vendida em bolsa americana.
- Brasil: posição comprada em bolsa, reforçada após quedas; posição vendida em dólar contra real, ampliada recentemente; nova posição aplicada em juros, com foco na parte intermediária da curva.
