EUA: Corte de juros em dezembro divide Fed e coloca mercado em posição de incerteza

Economia norte-americana segue robusta, mas começa a mostrar “sintomas de perda de fôlego”, aponta Fernando Genta, economista-chefe da XP Asset

Osni Alves

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A sinalização de que o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) pode promover um novo corte de juros em dezembro, mesmo sem acesso aos principais dados de emprego e de inflação, voltou a tensionar investidores globais.

Para Fernando Genta, economista-chefe da XP Asset, o aumento recente da taxa de desemprego nos EUA e a forte divergência interna no comitê colocam o mercado em uma posição de incerteza elevada.

“O Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto) caminha para cortar, mas a comunicação pode não convencer o mercado sobre os próximos passos”, afirmou.

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EUA: Economia robusta

Segundo ele, a economia norte-americana segue robusta, mas começa a mostrar “sintomas de perda de fôlego”.

Dados de criação de vagas vieram positivos, embora acompanhados de revisões baixistas — padrão incomum para o mês de setembro. Já a taxa de desemprego subiu, que é ponto sensível para o presidente do Fed, Jerome Powell, que vinha destacando o comportamento da oferta de trabalho como variável-chave para calibrar os cortes.

Em meio ao chamado Black Period, quando membros do Fomc são proibidos de falar publicamente, Genta ressalta que apenas um “sinal forte de bastidores” poderia alterar de forma relevante a precificação atual.

A maioria dos dirigentes regionais do Fed — muitos deles sem direito a voto — já manifestou incômodo com cortes adicionais.

A análise fez parte de uma live da XP Asset referente a dezembro e reuniu, ainda, os gestores Bruno Marques (Multimercado Macro), Marcos Peixoto (Renda Variável), e Eric Vieira e Vinícius Romero (Renda Fixa e Crédito Privado).

Brasil mantém tração apesar dos juros altos

No cenário doméstico, Genta destacou a força da atividade econômica, mesmo com a taxa Selic mantida em 15% ao ano. O Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre deve crescer 0,3% na margem (ante o trimestre imediatamente anterior), segundo projeção da XP.

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“É sempre o trimestre mais confuso devido às revisões concentradas do Instituto Brasieiro de Geografia e Estatística (IBGE), mas esperamos um avanço de 1,9% frente ao terceiro tri do ano passado”

— Fernando Genta, economista-chefe da XP Asset.

A indústria surpreendeu positivamente, crescendo 0,5% na margem. A queda pontual de 0,6% na indústria de transformação, explicou Genta, se deve à paralisação programada de uma refinaria da Petrobras (PETR3; PETR4) em São José dos Campos, responsável por uma fatia relevante da produção de diesel e querosene de aviação.

“É algo que distorce o dado, mas não reflete o ciclo econômico”, afirmou, em relação à redução de produção da Petrobras.

Itens sensíveis à política monetária apresentaram desempenho firme, como construção civil e bens de capital. O varejo também acelerou, impulsionado pela Black Friday e pelo pagamento da primeira parcela do 13º.

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Genta citou comentários recentes do diretor do Banco Central, Gabriel Galípolo, indicando recordes de operações via Pix e forte consumo em plataformas internacionais.