Carreira: médicos não são guiados por salários

No lugar de aceitarem salários altos em regiões longínquas do País, eles preferem ficar onde há possibilidade de atualização e universidades próximas

Flávia Furlan Nunes

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SÃO PAULO – Ver o salário acabar antes do mês desanima muitos profissionais. Por isso, eles são guiados por cifras cada vez maiores. Procuram um emprego não pela oportunidade de crescimento, ou para ter mais qualidade de vida, mas para ganhar mais. Na carreira médica, porém, a tendência não é esta.

De acordo com o pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz, Romulo Maciel Filho, muitos médicos não são movidos pelo salário. Ele chegou à conclusão ao analisar o projeto Pits (Programa de Interiorização do Trabalho em Saúde), o qual funcionou entre 2001 e 2003, em cerca de 300 municípios, e visava a selecionar profissionais para trabalhar em municípios que não dispunham de atenção à saúde.

“O programa registrou altos índices de rejeição dos médicos em ir para as regiões mais longínquas. Existem municípios no Norte do País que oferecem quase R$ 20 mil por mês a um médico e mesmo assim é difícil achar profissionais disponíveis”, disse ele.

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Motivações

Ele afirmou que existem duas questões que impedem o deslocamento de médicos para outras regiões do País. A primeira diz respeito à formação. “As universidades formam atualmente os profissionais para trabalhar dentro dos hospitais. Eles aprendem a trabalhar a maior parte do tempo com máquinas e, consequentemente, têm pouco contato com pessoas”, afirmou.

Outro impedimento é o isolamento, ou a falta de comunicação e as perspectivas de os médicos ficarem defasados em sua formação por terem de trabalhar em lugares com pouco contato. “Com o rápido avanço tecnológico e com a velocidade que o conhecimento científico avança, o médico necessita interagir cotidianamente com outros profissionais em hospitais ou centros de saúde”, disse.

Descentralização

Para se ter uma ideia, no ano de 2007, havia um médico para cada 1,5 mil habitantes no Estado do Maranhão, enquanto essa proporção era de um para 275 no Rio de Janeiro e de um para cada 400 habitantes em São Paulo.

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“Atualmente, mais de 400 municípios no Brasil não contam com um único médico disponível à população. Isso leva o País a um grande constrangimento, à medida que a saúde é um princípio constitucional e um direito universal”, disse Maciel.

O pesquisador é autor do livro Rumo ao interior: médicos, saúde da família e mercado de trabalho (Editora Fiocruz), escrito junto com a pesquisadora Maria Alice Fernandes Branco. Na obra, são analisados quatro programas de estímulo à transferência de profissionais dos grandes centros urbanos: Projeto Rondon, Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento, Programa de Interiorização do SUS e Programa de Interiorização do Trabalho em Saúde (Pits).