De lotes vencidos a carne proibida em linguiça: veja o que consta nas gravações da Operação “Carne Fraca”

Entre os produtos fora da validade, há casos como inserção de papelão em lotes de frango e carne de cabeça na linguiça 

Paula Barra

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SÃO PAULO – Gravações telefônicas obtidas pela Polícia Federal, no âmbito do Operação “Carne Fraca”, mostram que vários frigoríficos vendiam carne estragada no Brasil e exterior. Segundo os áudios divulgados pelo G1, há desde carne estragada a uso de produtos cancerígenos em doses altas, passando por reembalagem de produtos vencidos, inserção de papelão em lotes de frango, carne de cabeça em linguiça e carne contaminada por bactérias. 

Em alguns casos, como o frigorífico Peccin, a operação da PF denuncia “armazenamento em temperatura absolutamente inadequadas, aproveitamento de partes do corpo de animais proibidas pela legislação, utilização de produtos químicos cancerígenos, produção de derivados com o uso de carnes contaminadas por bactérias e,até, putrefatas”. Conversas obtidas pela PF entre um dos donos do frigorífico Peccin, Idair Antônio Piccin, e sua mulher, Nair Klein Piccin, mostram também o uso de carne de cabeça em lotes de linguiça. Os dois tiveram pedidos de prisão preventiva decretada pela Justiça. 

Na gravação, Nadir e Idair discutem onde vão usar a 2.000 quilos de carne de cabeça. Depois de cogitarem colocar na calabresa, eles decidem usar na linguiça. “Ah, manda vir 2.000 quilos e botamos na linguiça ali, frescal, moída fina”, comenta Idair. Nadir questiona: “Na linguiça?”. Então, Idair comenta que é proibido usar carne de cabeça na linguiça, mas Nadir retruca dizendo que só seriam 2.000 quilos: “Tá, seria só 2000 quilos para fechar a carga. Depois da outra vez dá para pegar um pouco de toucinho, mas por enquanto ainda tem toucinho (ininteligível)”.

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Esse, no entanto, é apenas um dos frigoríficos citados na operação. As investigações envolvem frigoríficos de diversos tamanhos, como Mastercarnes e Peccin, além das principais empresas do setor, como a BRF Brasil, que controla marcas como Sadia e Perdigão, e a JBS, que detém Friboi, Seara, Swift, entre outras marcas.

Em coletiva de imprensa realizada nesta tarde, o delegado federal Maurício Moscardi Grillo repassou mais detalhes sobre a operação. Segundo ele, produtos químicos foram usados pra maquiar o cheiro. “Também injetavam água na carne para aumentar o peso”, acrescentou.

Moscardi acrescentou ainda que nem mesmo os fiscais envolvidos, que costumavam ganhar carnes dos proprietários como benefício, estavam aguentando a má qualidade dos produtos. “Eles comentavam entre si que não estava mais dando para receber”, disse.

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Em comunicado enviado ao mercado, a empresa de alimentos BRF afirmou que cumpre normas e regulamentos sobre produção e venda de seus produtos e garantiu em comunicado à imprensa que “não há nenhum risco” para seus consumidores, seja no Brasil, ou nos 150 países em que atua. Já a JBS confirmou que a operação incluiu três unidades produtivas da companhia, mas afirmou que adota no Brasil e no mundo rigorosos padrões de qualidade.

Troca de etiquetas de validade

Em outro áudio da operação divulgado pelo G1, Paulo Rogério Sposito, dono do Frigorífico Larissa, de Mauá, em São Paulo, orienta um funcionário a trocar as etiquetas das datas de validade dos produtos, aproveitando a ausência do fiscal.

O funcionário questiona a Sposito: “Deixa eu te falar uma coisa… Podia programar pra semana que vem, a gente trazer aquela mercadoria lá pra trocar as etiquetas né meu véi…”. Então, o dono do frigorífico responde: ” Pode…pode sim”. 

Os alvos da operação

Entre os presos estão executivos da BRF como Roney Nogueira dos Santos, gerente de relações institucionais e governamentais, e André Baldissera, diretor da BRF para o Centro-Oeste, informa a Folha. Já segundo o Estadão, executivos do frigorífico JBS foram presos. À Bloomberg, a JBS informou que não houve mandado na sede da companhia e que não há informação sobre a prisão de executivos da companhia.

De acordo com a PF, a operação detectou em quase dois anos de investigação que as Superintendências Regionais do Ministério da Pesca e Agricultura do Estado do Paraná, Minas Gerais e Goiás ‘atuavam diretamente para proteger grupos empresariais em detrimento do interesse público’.