Ibovespa cai 2% com PP na base pesando mais que relatório sobre impeachment

SÃO PAULO – Após amenizar as perdas da abertura ao longo da manhã, o Ibovespa mergulhou para seu menor patamar na tarde desta quarta-feira (6), impactado pela fala do presidente do PP, Ciro Nogueira, que teria orientado voto em defesa da presidente Dilma Rousseff, e durante a realização de nova sessão da comissão especial do impeachment, onde o relator leu seu voto em favor da abertura do processo. Além disso, a ata da última reunião do Federal Reserve também afetou o mercado

O benchmark da bolsa brasileira fechou com queda de 1,95%, a 48.096 pontos, com um volume financeiro de R$ 5,967 bilhões. O dólar, por sua vez, encerrou o pregão de hoje com forte desvalorização de 0,97% ante o real, cotado a R$ 3,6441 na compra e R$ 3,6453 na venda.

Em coletiva de imprensa, o comandante do PP disse que mais de 40 senadores e deputados do partido querem permanecer no governo, mas negou que cargos estejam sendo negociados com a equipe de Dilma ou de Michel Temer. “Orientação é de voto pela presidente”, afirmou Ciro Nogueira, alertando, porém, que o partido não discutirá separação até a votação do impeachment. A sigla tinha marcado reunião para esta quarta para tratar da posição do partido sobre o impeachment, mas cancelou após pressões atribuídas à ala opositora. O partido é tido como uma das principais esperanças do governo para obstruir os esforços pela queda de Dilma.

Entre política e exterior
O desempenho do benchmark da bolsa brasileira destoa do movimento positivo das bolsas internacionais, que têm dia de recuperação após a sessão de preocupação com os dados na Alemanha e o crescimento econômico mundial. A alta nos preços do petróleo contribui para o pregão de otimismo dos investidores lá fora. No radar doméstico, a agenda de Brasília permanece em destaque com um novo dia importante para a disputa do impeachment presidencial. 

Para Pablo Spyer, diretor da mesa de operações da Mirae Asset Corretora, os investidores respondem mais ao cenário político nesta sessão, mas também tem efeito uma correção do índice em relação ao mercado internacional, acertando parte do descompasso visto na véspera — quando o Ibovespa subiu 0,56% e as bolsas mundiais caíram. “O mercado tem estado bastante volátil. O cenário continua bastante suscetível a informações do cenário político”, afirmou Spyer.

Comissão do impeachment
O deputado Jovair Arantes (PTB-GO) apresentou durante a comissão especial na Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (6) um parecer favorável ao pedido de impeachment de Dilma Rousseff. O parecer se concentra nas chamadas “pedaladas fiscais”, nome dado ao atraso do repasse pela União aos bancos públicos do dinheiro para pagamento de pagar benefícios sociais de diversos programas federais. A prática é interpretada por alguns como um empréstimo dos bancos ao Tesouro, o que é vedado pela Lei de Responsabilidade Fiscal.

No documento, Jovair fala sobre os preceitos jurídicos para a aceitação do processo de impeachment, previstos na Constituição e afirma que o impedimento não pode ser considerado golpe. “Se respeitadas as suas balizas democráticas, o impeachment não é um golpe de Estado, na exata medida em que ele objetiva preservar os valores éticos, políticos e jurídicos-administrativos consagrados na Constituição”, escreve o deputado em seu parecer.

Após a a leitura, será concedido pedido de vista coletivo (mais tempo para os deputados analisarem) no prazo de duas sessões legislativas. Esse prazo terminará na próxima sexta, quando, a partir das 15h, terá início a etapa de discussão do parecer.

A partir de sexta ocorrem as falas dos parlamentares sobre o relatório, sendo que a expectativa de votação pela comissão é para segunda-feira (11). O relatório pode ser aprovado ou rejeitado na comissão, formada por 65 parlamentares, por maioria simples. A partir de então será a vez do plenário votar, sendo necessário o voto de pelo menos 342 deputados para que o Senado seja autorizado a abrir um processo de impeachment.

Ata do Fed
Autoridades do Federal Reserve debateram no mês passado se seria necessário elevar os juros em abril, mas o consenso foi de que os riscos provocados pela desaceleração econômica global autorizavam uma postura cautelosa, mostrou a ata da última reunião do banco central norte-americano. “Muitos participantes expressaram a avaliação de que a situação econômica e financeira global ainda representava um risco relevante”, de acordo com o documento.

Apenas dois dirigentes foram favoráveis a uma elevação dos juros em março. Uma é Esther George, presidente da regional de Kansas City. O outro não foi identificado.

Autoridades também demonstraram preocupação com os riscos de que a economia e a inflação possam apresentar performance abaixo do estimado. Oito dos 17 dirigentes disseram que os riscos à economia pendiam mais para o lado negativo, enquanto nove disseram que estes riscos estavam equilibrados e nenhum indicou que a economia poderia superar a expectativa. Em relação à inflação, onze dos 17 dirigentes também viam risco de que ela pudesse vir abaixo das projeções, enquanto nenhum via chance de ela superar as estimativas.

Destaques corporativos
As ações da Petrobras (PETR3, R$ 9,73, -0,92%; PETR4, R$ 7,58, -3,19%) fecharam no negativo, ignorando a alta do petróleo no mercado internacional com o Kuwait dizendo que produtores podem fazer acordo para congelar produção mesmo sem participação do Irã. Na véspera, as ações da companhia se recuperaram parcialmente da baixa da segunda-feira, quando os papéis desabaram 9% em meio à possibilidade de redução do preço dos combustíveis.

A Folha de S. Paulo destacou esse assunto hoje, afirmando que a presidente Dilma Rousseff e a sua equipe decidiram reduzir o preço da gasolina e do diesel, de forma a criar uma agenda positiva para o governo. Porém, a medida não foi adotada por conta da reação contrária do Conselho de Administração da Petrobras.

Além disso, segundo o jornal Valor, a diretoria executiva da Petrobras já sabia em 2014 que a rentabilidade dos seus 59 maiores principais projetos em andamento seria reduzida em US$ 45 bilhões, ou R$ 165 bilhões ao câmbio atual, frente ao esperado, por causa de projeções otimistas adotadas nos cálculos que balizaram a aprovação desses investimentos, anos antes. Segundo o jornal, a perda de rentabilidade não guardava relação com a oscilação do preço do petróleo e dizia respeito apenas à eficiência de planejamento e execução. Os projetos que, quando aprovados, teriam retorno esperado de US$ 109 bilhões, tiveram mais de 40% do ganho estimado reduzido por variações negativas em relação às premissas usadas para prazo, produção, custo operacional e investimento.

As maiores altas, dentre os papéis que compõem o Índice Bovespa, foram:

Ainda do lado corporativo do dia, a jornalista Sonia Racy, do jornal O Estado de S. Paulo, disse que foi fechada ontem, a fusão da BM&FBovespa (BVMF3, R$ 14,96, -4,23%) com a Cetip (CTIP3, R$ 41,08, +1,06%) avaliada em R$ 40 bilhões, segundo um dos bancos que cuidam da operação. Falta só a aprovação dos respectivos conselhos das duas empresas. 

Em comunicado ao mercado, a BM&FBovespa informou “que não existe qualquer nova informação que justifique a divulgação de novo fato Relevante ou que  deva ser comunicada ao mercado, sobre a oferta realizada em 19 de fevereiro” além do que já foi informado pela companhia.

As maiores baixas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, foram:

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram :

^* – Lote de mil ações
¹ – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão) 

Disputa política
Ainda no noticiário político, destaque para as movimentações de senadores peemedebistas e do presidente da casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), no sentido de realizar um plebiscito sobre novas eleições gerais, proposta que, juntamente com a do parlamentarismo, embute a ideia de que Dilma pode sobreviver ao impeachment, mas dificilmente teria condições de governar.

Por outro lado, o clima no governo é de maior confiança na possibilidade de se barrar o processo de impeachment no plenário da Câmara. De acordo com a jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, o ex-presidente e articulador informal do governo, Luiz Inácio Lula da Silva, estaria confiante na capacidade de o governo vencer a batalha, e já faria planos para uma nova fase do governo Dilma. Um de seus projetos, compartilhado com petistas, seria retomar a discussão sobre regulação econômica dos meios de comunicação no Brasil. Outra proposta seria a taxação da distribuição de lucros em 15%. Trata-se de acenos à esquerda, em pautas com elevado grau de dificuldade para aprovação no Legislativo.

Outro destaque é a possível delação dos executivos da Andrade Gutierrez. Segundo informações do portal Jota, a ex-ministra Erenice Guerra teria sido citada em acordo de delação premiada. Ela é investigada por ter intermediado contratos superfaturados na construção da usina de Belo Monte. O leilão da usina durou sete minutos e foi vencido com deságio de 6,02% sobre o preço inicial de R$ 83 por MWh, no dia 20 de abril de 2010. 

A delação de Elton Negrão de Azevedo e Otávio Marques de Azevedo está sob avaliação do ministro Teori Zavascki, do STF, que deve homologar o acordo nos próximos dias. Segundo o Jota, informações documentais apresentadas pelos empresários da Andrade dão robustez às citações do senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS).

Também no noticiário doméstico, destaque para dados do Banco Central que mostram que houve uma disparada das chamadas “pedaladas fiscais” no governo Dilma Rousseff, quando comparadas aos governos Lula e Fernando Henrique Cardozo. Ao final da gestão tucana, a conta do Tesouro a ser saldada com bancos públicos era de R$ 948 milhões, ao passo que ao final do ano passado, a conta era negativa em R$ 60 bilhões.

Mercado internacional
Do lado das commodities, o dia é de alta para os preços do petróleo, com o tipo brent em alta de 1,98%, a US$ 38,62 o barril, e o WTI subindo 2,51%, a US$ 36,76. Pesam sobre o setor as expectativas do mercado por um acordo de congelamento de produção entre os principais países produtores membros da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), apesar dos planos iranianos de expansão de oferta com o fim das sanções a que estava submetido no mercado internacional.

A lista de indicadores internacionais importantes desta quarta traz a ata do Fomc (Federal Open Market Committee), que será divulgada às 15h00. De acordo com Alex Agostini, economista da Austin Rating, o documento deve mostrar um tom “dovish” (moderado), assim como foi o discurso da presidente do Federal Reserve, Janet Yellen. “Eu acho que a ata terá esse viés de alta gradativa das taxas de juros. Isso vai dar mais volatilidade no longo prazo, mas será uma segurança importante no curto prazo”. Para ele, os juros americanos não serão elevados até o fim do ano. Hoje, o presidente do Fed de Nova York James Bullard discursará.

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