Com queda do dólar, “carteira campeã” do Ibovespa acumulou duras perdas em outubro

Companhias que estão entre as maiores altas do índice no ano acabaram amargando quedas no último mês após a volta do dólar para níveis próximos de R$ 3,80

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Em um ano que tem sido bastante complicado para a bolsa brasileira por conta dos problemas econômicos e políticos pelos quais o País está passando, algumas ações da Bovespa passaram a se destacar, registrando fortes ganhos nos últimos meses. Favorecidas pela disparada do dólar desde o início do ano, estas empresas, porém, não passaram por um outubro muito positivo.

Entre estes papéis estão principalmente as companhias exportadoras, com maior destaque para o setor de papel e celulose, bastante favorecido pela alta da moeda norte-americana no ano, que chegou a acumular ganhos de 56%. Por outro lado, no mês passado a divisa passou por uma correção, recuando 2,59% após perder seu maior nível histórico no final de setembro, quando atingiu os R$ 4,15.

As quedas refletem um cenário onde os investidores esperam uma alta de juros nos EUA apenas no próximo ano, enquanto no cenário doméstico, apesar de poucas mudanças, a pressão política sobre Dilma foi levemente reduzida.

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Neste cenário, as empresas exportadoras não tiveram muito com o que se alegrar no último mês, com destaque para a Suzano (SUZB5), JBS (JBSS3) e BRF (BRFS3), que recuaram cerca de 15% em outubro. Enquanto isso, mesmo tendo seu movimento bastante atrelado ao movimento do dólar, a Fibria (FIBR3) conseguiu resistir à queda da moeda e recuou apenas 2,16% no mês, deixando a companhia com uma alta acumulada de 62,94% em 2015, na segunda posição entre as empresas do Ibovespa.

A Fibria tem se destacado no mercado não só por ser favorecida com a alta do dólar, mas também por ser uma empresa muito bem administrada. Segundo analistas, a empresa está se empenhando para reduzir sua alavancagem e também está vendo um mercado positivo de preço de celulose. Dentro do setor, porém, a Suzano não conseguiu seguir este desempenho e viu suas ações recuarem 14,20% em outubro, para R$ 16,55, mas ainda com ganhos de 48,38% no ano.

Já as empresas de alimentos não só não conseguiram sustentar um mês positivo por conta da queda do dólar, mas também tiveram notícias negativas no fim do mês que acabaram derrubando os papéis. A JBS caiu 15,18%, a R$ 14,25, em outubro após o resultado da sua subsidiária americana Pilgrim’s Pride desapontar o mercado no último pregão no mês e colocar um grande risco sobre a companhia. No ano, a alta ainda é de 28,61%.

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Enquanto isso, a BRF afundou 10% na última sexta, fechando o mês com perdas de 14,86%, a R$ 60,10. A empresa teve um balanço considerado fraco pelos analistas, com destaque para a fraqueza nas vendas domésticas no terceiro trimestre. Diante do resultado fraco e perspectivas desafiadoras, o Bank of America Merrill Lynch rebaixou a recomendação das ações da companhia de compra para underperform (desempenho abaixo da média), cortando o preço-alvo de R$ 80,00 para R$ 65,00 por ação.

Entre as companhias favorecidas pelo dólar, a única que conseguiu “ignorar” o movimento da moeda no último mês foi a Embraer (EMBR3), que subiu 10,90%, chegando a ganhos acumulados de 16,40% no ano. A companhia registrou prejuízo de R$ 387,7 milhões no terceiro trimestre, mas acabou vendo sua receita avançar 62%, para R$ 4,557 bilhões, enquanto seu Ebitda subiu para R$ 570,3 milhões, o que deixou os analistas empolgados com a companhia.

Em outubro, o Ibovespa registrou ganhos de 1,80%, enquanto no acumulado do ano o índice acumula perdas de 8,28%.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.