“Blefe” de Jandira, “zap” de Crivella e suborno a Bolsonaro: as verdades e mentiras do debate no Rio

Veja a verificação sobre o que disseram os candidatos à prefeitura do Rio de Janeiro no último debate, realizado pela RedeTV!, em 9 de setembro

Equipe InfoMoney

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Na última sexta-feira (9), oito dos 11 candidatos à prefeitura do Rio participaram de debate organizado pela RedeTV!, em parceria com UOL, Veja e Facebook. O evento trouxe novos elementos para que o eleitor pudesse decidir seu voto para o pleito de outubro, mas algumas falas geraram questionamentos sobre a correspondência com a realidade. Visando separar bons argumentos de informações falsas propagadas pelos presentes, a Agência Pública checou alguns dos discursos em momentos altos do debate. Confira os resultados desse trabalho:

* Truco Eleições 2016: reportagem originalmente publicada pela Agência Pública

  Jandira blefa sobre PIB mundial
“Não podemos abstrair o Brasil da crise capitalista internacional. O mundo inteiro teve redução do seu PIB, da sua atividade econômica.” – Jandira Feghali no debate da RedeTV!, em 9 de setembro

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Em resposta a Carlos Osório (PSDB), no debate dos candidatos à Prefeitura do Rio, Jandira Feghali, do PCdoB, afirmou que houve redução do Produto Interno Bruto (PIB) no mundo inteiro, o que justificaria a queda no Brasil.

Durante o debate, realizamos uma enquete pelo twitter para saber o que achavam os leitores. Foram 156 votos. 40% dos votantes acreditaram que a carta deveria ser “Não é bem assim”.

Mas o Truco, projeto de fact-checking da Agência Pública, conferiu os dados disponibilizados pelo Banco Mundial nos últimos cinco anos relativos aos países que fazem parte do G20 – aqueles que têm os maiores PIBs do mundo – e constatou que a afirmação é errada. Por isso, conferimos a carta “Blefe”.

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Em 2015, o PIB brasileiro foi o que mais caiu entre as 20 maiores economias do mundo, segundo o Banco Mundial: teve uma queda de 3,8%. Depois do Brasil, veio a Rússia, cujo PIB caiu 3,7%. Nas outras 19 economias que compõem o grupo, o PIB cresceu em 2015.

Crescimento do PIB mundial, em porcentagem (%)

Crescimento do PIB anual

Fonte: Banco Mundial

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(Gabriele Roza)

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  Crivella acerta: duas empresas controlam os 13 cemitérios do RJ

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“Hoje, os cemitérios e o sepultamentos no Rio de Janeiro estão na mão de um pequeno lobby”, disparou Marcelo Crivella (PRB) durante o debate da RedeTV! com candidatos à Prefeitura no Rio de Janeiro, em 9 de setembro

O Truco Eleições 2016 classificou a declaração com a carta “Zap”, que confirma a informação dada pelo candidato. Apenas duas empresas (Consórcio Rio Pax e Concessionária Reviver) controlam os 13 cemitérios da cidade.

Em 2014, a Prefeitura do Rio de Janeiro abriu duas licitações que levaram à escolha destes grupos. Com o ato, a gestão de Eduardo Paes (PMDB-RJ) não só pôs fim ao monopólio centenário da Santa Casa de Misericórdia, ligada à Igreja Católica, por conta de denúncias de ilegalidade, como também inaugurou uma nova fase de contratos polêmicos.

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Em troca de uma outorga de R$ 13 milhões, a Prefeitura cedeu por 35 anos para o Consórcio Rio Pax os negócios dos cemitérios São João Batista, em Botafogo; de Piabas, em Vargem Grande; e dos cemitérios de Jacarepaguá, Irajá, Inhaúma e Campo Grande.

Antes de ser a única concorrente desta licitação, o Rio Pax já mantinha negócios com a Santa Casa. Segundo reportagem do jornal O Globo, em 2013, a Rio Pax era uma das envolvidas no caso de “quarteirização” da gestão de um complexo crematório e para velório no cemitério São Francisco Xavier, no Caju.

A Rio Pax é administrada por Geraldo Magela Monge, o “Rei da Cova” no Rio. A empresa já esteve envolvida em diversas polêmicas, como o falso enterro do traficante Nem da Rocinha – segundo a Polícia Civil, três profissionais ligados à empresa estavam envolvidos com a farsa em 2010 –, subfaturamento de serviços e a produção de atestados de óbito falsos. De acordo com documentos oficiais obtidos pelo jornal O Dia, com a licitação, os negócios da empresa nos cemitérios movimentam pelo menos R$ 11 milhões por mês.

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A vencedora da outra licitação foi a Concessionária Reviver. A empresa ofereceu R$ 70 milhões e ganhou a concessão dos cemitérios de São Francisco Xavier (Caju), do Murundu (Realengo), de Paquetá, Santa Cruz, de Ricardo de Albuquerque, Guaratiba e da Cacuia (Ilha).

De acordo com O Dia, há evidências de ligações entre a Reviver, a Rio Pax e o PMDB do Rio de Janeiro. A família de Renato Medrado, sócio da Reviver, controla o banco mineiro que forneceu o seguro financeiro obrigatório para a Rio Pax concorrer no edital. Outro representante da empresa, Hugo Aquino Filho é apontado como amigo há duas décadas de Jorge Picciani, liderança peemedebista que preside a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Segundo a reportagem, os dois também são sócios em uma empresas do ramo agropecuário.

Em 2010, Picciani indicou Aquino Filho para a Medalha Tiradentes, a mais alta honraria do parlamento fluminense. Na ocasião, o atual governador do Rio de Janeiro, Pezão, compareceu à cerimônia. Em viagem, o ex-governador Sérgio Cabral gravou um vídeo para homenageá-lo.

(Adriano Belisário)

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  Pedro Paulo acerta os bairros com maior aumento de roubos e furtos

“Eu vou treinar a guarda, vou equipar a guarda, colocar tecnologia na Guarda Municipal. Identificamos as principais áreas de roubos e furtos que cresceram nos últimos dois anos. 15 bairros já foram escolhidos para fazer esse atendimento: Copacabana, Tijuca, Taquara, Irajá.” – Pedro Paulo no debate da RedeTV! em 9 de setembro

O candidato do PMDB acerta ao citar bairros em que cresceram os índices de roubos e furtos nos últimos dois anos. De acordo com os dados disponibilizados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) do governo do estado, os números, de fato, aumentaram nos bairros da Tijuca, Taquara e Irajá. Contudo, o mesmo não se verifica em Copacabana.

O estudo do ISP é feito a partir das Áreas Integradas de Segurança Pública (AISPs), que totalizam 39 no estado. O município do Rio conta com 17 AISPs, das quais 12 seriam contempladas pelo programa Guarda Presente proposto por Pedro Paulo.

A tabela abaixo apresenta uma comparação dos índices de roubos e furtos registrados em julho dos anos de 2014, 2015 e 2016:

BAIRRO AISP Roubo Jul/2014 Roubo Jul/2015 Roubo Jul/2016 Furto Jul/2014 Furto Jul/2015 Furto Jul/2016
Tijuca 6 221 166 274 403 352 776
Taquara 18 256 225 295 451 419 418
Irajá 41 817 974 1194 415 341 342
Copacabana 19 194 48 100 1818 431 476

Como podemos ver, os índices da AISP 19, que corresponde à região de Copacabana, caíram bastante em comparação a julho de 2014.

O Truco – projeto de checagem de dados da Agência Pública – também conferiu os índices das outras 11 localidades citadas por Pedro Paulo em um post do Facebook: Bangu, Botafogo, Centro, Engenho de Dentro, Flamengo, Ipanema, Madureira, Maracanã, Méier, Praça da Bandeira e Recreio dos Bandeirantes. Na maioria dos casos, os índices realmente aumentaram quando comparados com julho de 2015, contudo se mantêm próximos aos registrados em julho de 2014. Baixe a tabela completa aqui.

Portanto, o Truco confere a carta “Tá certo, mas peraí” ao candidato peemedebista.

(Mariah Queiroz)

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  Truco para Bolsonaro: como foi a única proposta de suborno?

“Não faço da política um balcão de negócios. Sou deputado há 13 anos. Sabem quantas vezes eu já recebi oferta de propina? Pensa num número: uma. Só a primeira. Pra nunca mais.” – Flávio Bolsonaro, nas considerações finais do debate da RedeTV! no dia 9 de setembro

O candidato do PSC, Flávio Bolsonaro, foi eleito deputado estadual pela primeira vez em 2003. Filho do atual deputado federal Jair Bolsonaro, do mesmo partido, era o deputado mais jovem da legislatura. Em 2014, foi eleito para seu quarto mandato, com 160.359 votos – o terceiro mais votado no pleito.

Flávio Bolsonaro garantiu que ao longo da sua carreira como deputado só recebeu uma proposta de propina. O tema é grave e a declaração do candidato não permite compreender em que situação se deu a oferta. Por isso, pedimos o “Truco”, um desafio ao candidato para que ele esclareça melhor uma fala para a população.

Enviamos as perguntas abaixo à sua assessoria às 12 horas do dia 12 de setembro. Ele respondeu em tempo recorde: seis horas. Porém, só respondeu parcialmente, afirmando que “não pode fazer uma acusação pública, sob risco de cometer crime de calúnia”. Leia a íntegra da entrevista:

1. Quando foi feita a proposta de propina recebida pelo candidato Flávio Bolsonaro e em que situação?
Bolsonaro: Não foi feito registro porque não havia provas materiais. Por conta disso, o deputado estadual Flávio Bolsonaro buscou aconselhamento com advogados, e decidiu na época não seguir com a denúncia adiante.

2. Quem fez essa proposta e em que consistia? Qual era o benefício buscado em troca da propina?
(Não respondeu.)

3. Como o candidato reagiu? O candidato denunciou a proposta de suborno para canais competentes? Houve investigação do ocorrido?
Bolsonaro: A tentativa foi repelida com energia. No entanto, exatamente por não haver prova material, o deputado entende que não pode fazer uma acusação pública, sob risco de cometer crime de calúnia.

4. Onde o caso foi registrado? Há alguma fonte documental sobre o ocorrido?
Bolsonaro: Não foi feito registro porque não havia provas materiais.

(Natalia Viana)

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  Maconha como porta de entrada para drogas pesadas: será, Bolsonaro?

“Certamente, a maconha é a porta de entrada para várias outras drogas mais pesadas”, garantiu o deputado Flávio Bolsonaro (PSC) no debate entre os candidatos à Prefeitura na RedeTV!

Será? O Truco Eleições 2016 checou a declaração, repetida por muitos defensores da criminalização do uso das drogas.

Fizemos uma enquete no Twitter e 41% dos usuários atribuíram a carta “Blefe” à afirmação. Junto com 38% dos participantes, optamos pela carta “Não é bem assim”, utilizada quando os candidatos dão declarações distorcidas, exageradas ou discutíveis. Isto porque não há consenso entre pesquisadores sobre o assunto.

De fato, há estudos que destacam o uso prévio da maconha em uma grande proporção dos consumidores de drogas pesadas, tal como uma pesquisa feita com dados da National Epidemiological Survey on Alcohol and Related Conditions (NESARC).

Porém, frequentemente eles também já fizeram uso do álcool e do tabaco. Assim, seguindo o mesmo raciocínio, outras pesquisas sustentam estas substâncias são as verdadeiras “portas de entrada” para as outras drogas. A partir de levantamento com quase 3 mil estudantes, pesquisadores da área de saúde da Universidade do Texas e da Flórida afirmam que o “álcool foi a substância mais utilizada entre os entrevistados, iniciada mais cedo, e também a primeira substância mais comumente usada na progressão do uso de substâncias”.

Muitos dos estudos que sustentam aquela associação, reconhecem que não há evidências para garantir uma relação de causa e efeito. Ou seja, o fato de usuários de drogas pesadas já terem consumido maconha, por si, não é suficiente para estabelecer uma relação de causa e efeito.

Em uma publicação da Universidade de Cambridge sobre este assunto, a socióloga e epidemiologista Denise Kandel argumenta que “mostrar que há uma sequência de iniciação não é o mesmo que mostrar que há uma relação causal no uso de diferentes drogas”. Além disso, a pesquisadora nota que “muitos usuários de uma droga em particular não progridem para o uso de outras drogas”.

Há ainda quem negue categoricamente que a maconha seja porta de entrada para outras drogas, como John Kleining, professor de justiça criminal com diversas publicações sobre o assunto. Críticos desta teoria apontam que a maior parte dos usuários de cannabis não são viciados em substâncias mais pesadas. Segundo o psiquiatra Dartiu Xavier, coordenador do Programa de Atenção a Dependentes Químicos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), “estudos indicam que mais da metade dos consumidores de maconha não usa outras drogas e faz uso apenas esporádico da erva”. Em entrevista, ele garante: “A maioria consome a droga só de vez em quando, e 90% acabam por abandoná-la um dia.”

Dartiu Xavier vai na direção oposta: ele aponta a maconha como uma “porta de saída” para substâncias mais pesadas, como o crack. A conclusão surgiu de um estudo liderado pela Unifesp com dependentes químicos. A experiência foi feita com 50 pacientes dependentes em crack. Em seis meses, 68% tinham largado o crack. Após um ano, todos tinham largado a maconha espontaneamente”, relatou uma reportagem em 2010.

(Adriano Belisário)

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Estas checagens fazem parte do projeto Truco Eleições 2016, projeto da Agência Pública que checa as falas de todos os candidatos a prefeito em cinco cidades: Belém, Belo Horizonte, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. apublica.org/truco2016.

BAIRRO AISP Roubo Jul/2014 Roubo Jul/2015 Roubo Jul/2016 Furto Jul/2014 Furto Jul/2015 Furto Jul/2016
Tijuca 6 221 166 274 403 352 776
Taquara 18 256 225 295 451 419 418
Irajá 41 817 974 1194 415 341 342
Copacabana 19 194 48 100 1818 431 476