“Sistema está quebrado”, diz Alan Greenspan, ex-presidente do Fed

Acusado de ser um dos algozes da crise do subprime afirma que vivemos um período de irracional assunção de riscos que não podem ser explicados pelo tradicionalismo

Marcos Mortari

Publicidade

SÃO PAULO – Polêmica figura à frente das políticas econômicas norte-americanas que antecederam a crise do subprime em 2008, Alan Greenspan está pessimista quanto ao futuro da economia dos Estados Unidos nos próximos anos. Enquanto muitos economistas acreditam que o pior já tenha passado e o país esteja subindo importantes degraus em seu processo de recuperação, o ex-presidente do Federal Reserve entre 1987 e 2006, que acaba de lançar o livro “The Map and the Terrirory” (O mapa e o território, em tradução livre), afirma que o sistema está quebrado, em entrevista à Associated Press.

Em sua última publicação, o economista defende que vivemos em um período de irracional assunção por riscos que não podem ser explicados pelo tradicionalismo. Para ele, esse comportamento pode nos levar a catastróficas bolhas de preços de ativos. “A menos que você esteja disposto a ceder à transigência, a sociedade não pode viver junto. O que acontece hoje é que o aumento nas proporções de posições que estão passando do ponto em que o sistema pode efetivamente funcionar. O que quero dizer é que o sistema está quebrado. Nós temos que encontrar um caminho para voltar ao comprometimento que tínhamos há não tanto tempo assim”, afirma Greenspan.

Sobre as acusações de ter sido um dos grandes responsáveis pela maior crise econômica norte-americana depois do crash da bolsa em 1929, o economista argumentou que o país caminhou bem em grande parte de sua gestão, tendo em vista que às vésperas de assumir a liderança do Fed, a Nyse (bolsa de Nova York) registrou uma queda assustadora de 22%. Greenspan aponta a euforia dos mercados e o seu descompasso com a formação das bolhas como possíveis agravantes para o surgimento de um cenário que culminou na crise de 2008. “Bolhas crescem muito devagar enquanto a euforia é erguida. Então, o medo chega, e ela cai com muita força. Quando eu comecei a observar isso, fiquei chocado. O contágio é um fenômeno crítico, que faz com que a coisa desmorone”, argumenta.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

O ex-presidente da autoridade monetária norte-americana confessou ter se surpreendido com o porte que o mercado subprime atingiu em 2005. “Fiquei sabendo muito pouco sobre os problemas existentes sob supervisão do Fed. Mas ainda, se tivéssemos visto algo grande, teríamos feito uma grande rebuliço sobre isso. Mas não fizemos. Estávamos enganados. Poderíamos ter pego isso? Eu não sei”, completa Greenspan.

Esquiva do QE3 e de Yellen
Em referência ao início da retirada do QE3 (Quantitative Easing 3), programa do Federal Reserve que consiste na injeção mensal de US$ 85 bilhões , o economista preferiu não se posicionar. “Eu tenho tentado ficar de fora de comentários específicos sobre as políticas do Fed por um bom motivo: Paul Vocker (seu predecessor como chairman do banco central norte-americano) foi muito cuidadoso. Ele nunca comentou sobre as políticas do Fed. Eu não comento. Eles têm problemas suficientes. Alguém falando acima de seus ombros não seria uma boa ideia”, justifica.

O ex-presidente do Fed também se esquivou da pergunta sobre possíveis conselhos a Janet Yellen, que assumirá a cadeira do banco central no ano que vem no lugar de Ben Bernanke.

Tópicos relacionados

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.