Apesar de temores, elétricas são as empresas com o lucro mais “barato”

Setor de alimentos teve o lucro mais caro; frieza dos números não explica diferença de valor de mercado de algumas empresas

Felipe Moreno

Usina Eólica Volta do Rio - Ceará *** Local Caption *** Vista dos aerogeradores durante a visita técnica à usina Eólica Volta do Rio no Ceará. Usina eólica conectada a SE SOBRAL III, Chesf. A usina pertence ao grupo Energimp S/A, controlado pela IMPSA WIND (Industrias Metalúrgicas Pescarmona S.A.).

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SÃO PAULO – Os temores sobre o setor elétrico afetam as ações das empresas do setor – e muitas já perderam mais de 50% de valor de mercado. Enquanto as preocupações se amontoam sobre o futuro, no presente as companhias apresentam vultuosos lucros, os mais “baratos” do Ibovespa.

A principal afetada pela MP 579, a Eletrobras (ELET3; ELET6) é campeã nisso: a companhia vale cerca de R$ 9,4 bilhões e obteve um lucro de R$ 1 bilhão no terceiro trimestre deste ano. Assim, a MP já se refletiu nas cotações, mas não no balanço: para cada real lucrado, a companhia vale “apenas” outros R$ 9,4. 

A Cemig (CMIG4), que também deverá ser afetada pela MP 579, teve ganhos de R$ 937 milhões no trimestre e valor de mercado nos R$ 19 bilhões. Em outras palavras, para cada milhão ganho pela estatal mineira no terceiro trimestre, a companhia vale R$ 20,27 milhões – fazendo com que fosse necessário pouco mais de 20 trimestres como esse para que a companhia gerasse o seu próprio valor em caixa.

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Lucro “caro” fica com setor de alimentos
Isso é pouco se comparado com companhias que tiveram lucros muito menores que os seus, mas que valem quantias parecidas. A Marfrig (MRFG3), por exemplo, lucrou R$ 1 milhão no trimestre – mas tem valor de mercado de R$ 4 bilhões, os ganhos mais caros do índice. O setor de alimentos também é responsável pela segunda colocada, a Brasil Foods (BRFS3), que lucrou R$ 91 milhões e tem valor de mercado de R$ 33,9 bilhões.

Se é o lucro que no longo prazo dita a cotação de cada ação, por isso o P/L (Preço sobre Lucro) é um dos fundamentos mais utilizados na hora dos investidores analisarem quais ações adquirir. Números como os da Eletrobras são convidativos, mas não devem ser os únicos fatores a serem observados.

Ao investidor, cabe indagar questões importantes sobre o futuro. Por exemplo, o que ocorrerá com a estatal de energia ano que vem, sob as regras da MP 579? Ou mesmo o que pressiona números de Marfrig, Brasil Foods e outras empresas que tiveram lucros reduzidos?

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Números não explicam sozinhos
A frieza dos números também não explica a preferência de alguns investidores por algumas ações. A Ambev (AMBV4), por exemplo, lucrou R$ 2,5 bilhões no terceiro trimestre e vale R$ 246 bilhões – um valor de R$ 98,4 para cada R$ 1 ganho. Já a Petrobras (PETR3; PETR4) teve ganhos de R$ 5,56 bilhões no mesmo período e vale R$ 252,25 bilhões – R$ 45,31 de valor de mercado para cada R$ 1 de superávit. 

As empresas com mesmo valor de mercado possuem números distintos. E mais: a fabricante de bebidas é uma empresa que, depois de um ciclo extraordinário de crescimento, não apresenta as mesmas condições que a petrolífera – que possui uma grande quantidade de petróleo, recém-descoberto, para ser explorado. 

O que as diferencia? O management e a sua previsibilidade. A Ambev pertence ao grupo de Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles – tidos como alguns dos melhores empresários do Brasil, enquanto a Petrobras, além da enorme necessidade de investimentos e das incertezas da campanha exploratória, sofre por ser estatal, refém das vontades políticas. Além disso, a Ambev é uma empresa com grande previsibilidade de resultados, enquanto a Petrobras havia tido prejuízo apenas um trimestre atrás.